quarta-feira, 25 de setembro de 2013

Entrevista com o jovem pianista Dhiego Heráclito para Café com Siéllysson



Entrevista 21


Iniciou sua carreira de pianista na Igreja Batista, dedicou-se a música clássica até se apaixonar pela música popular, pelo Jazz. Tocou nos Estados Unidos, Nova Zelândia, hoje está no Brasil e sua pátria é o amor à música, Dhiego Heráclito é mais um santarritense que faz a diferença.

Já viajamos juntos para cidades interioranas da Paraíba, já tivemos muitas crises de risos na adolescência, ele tocou no lançamento do meu primeiro livro.  Acompanhei sua carreia à distância, seu nome foi dos primeiros que pensei quando tive a ideia da seção “Café com Siéllysson”, porém desde sua vinda para o Brasil, nosso tempo foi de desencontros, mas quase duas horas de entrevistas e conversas que não vão entrar aqui nesta seção me fizeram admirar muito mais esse pequeno grande homem.

SIÉLLYSSON – Como foi trabalhar numa banda de jazz norte-americana?
DHIEGO - Foi um trabalho que começou aqui no Brasil, não a Big Band que a gente tinha lá, mas no Brasil a gente tinha um grupo reduzido de uma Big Band, bem mais fácil e mais prático de ser trabalhado do que uma Big Band, que requer muitos instrumentalistas, dá mais dor de cabeça por trabalhar com muitas pessoas. Trabalhei com um grupo de Jazz no restaurante Fellini, mas que infelizmente teve que acabar devido à viagem. Lá nos Estados Unidos eu dei continuidade a esse trabalho com uma Big Band, um grupo de jazz com mais ou menos 40 componentes. Foi uma novidade porque nunca tinha trabalhado com um grupo tão grande. É prazeroso, mas complicado. Trabalhar com muitos instrumentalistas e você tem que encontrar o seu espaço naquele grupo. Você tem que descobrir qual é o seu papel na Big Band como pianista.

SIÉLLYSSON  - Havia brasileiros com você na Big Band?
Não nessa Big Band. Lá existia um pianista e aí, graças a Deus eles gostaram do meu trabalho e contrataram sem precisar tirar o outro pianista. Ficamos revisando nas músicas.

SIÉLLYSSON – Como surgiu essa oportunidade de você tocar nessa Big Band já que você foi para os Estados Unidos sem conhecer ninguém?
DHIEGO - O pessoal passando pelas salas de estudos na Universidade... lá tem sala de estudos de piano, ouviram e disseram ao regente “olha, tem um menino brasileiro ali que toca bem. Ele é brasileiro mas não só toca bossa não, ele improvisa também”. A ideia da Big Band é a improvisação, dão o tema e depois tome improvisos.

SIÉLLYSSON – Quanto tempo você passou nessa banda?
Eu entrei na banda três meses depois que cheguei aos Estados Unidos e aí fiquei até voltar para o Brasil, então, foi entorno de 9 meses.

SIÉLLYSSON – Como surgiu a ideia de ir para Nova Zelândia e fazer uma carreira musical lá?
DHIEGO - Quando eu comecei lá na Nova Zelândia meu papel era totalmente diferente, no início não tive nenhuma função como músico, eu era músico em casa, para sociedade eu tinha um trabalho numa empresa de transporte. Meu objetivo era exatamente este conseguir estabilidade financeira para manter minha família para depois entrar de cabeça na música. No decorrer dos três primeiros anos isso foi acontecendo com mais frequência, a música estava se tornando mais significativa, do que o trabalho em si. Foi uma experiência muito gratificante, conheci muitos neozelandeses que tinham afinidades com músicas brasileiras e aí se encaixou, um baixista gostavam muito de nossa música...

SIÉLLYSSON  - De qual estilo?
DHIEGO - Bossa Nova, música latina em geral. Infelizmente devido ao terremoto tivemos que voltar para o Brasil.

SIÉLLYSSON – Como foi à readaptação no Brasil para você que já tinha feito parte de um grupo de jazz, murou noutros países com músicas diferentes e voltar para o Brasil? Hoje o que você toca?
DHIEGO - Voltar para o Brasil me faz relembrar a Nova Zelândia quando cheguei lá pensei: “vou conseguir um trabalho em qualquer área para, estudar e entrar no ramo da música”. No Brasil, está sendo mais ou menos nesse sentido porque para o que quero fazer o mercado é escasso. O grupo é muito seleto, o grupo que gosta do estilo de música que quero fazer.
Quando cheguei ao Brasil tive que iniciar no comércio do meu pai, num horário e noutro dando aulas de inglês para eu ter minha estabilidade financeira para poder fazer o meu trabalho de músico paralelo a essas atividades. Hoje já não estou mais no comércio do meu pai...

SIÉLLYSSON – Está vivendo da música?
DHIEGO - Isso. Mas ainda dou aulas de inglês que é uma carga horária pequena semanal. Mas se eu deixasse as aulas de inglês hoje eu conseguiria viver da música tranquilo. Sem nenhum problema!

SIÉLLYSSON – Hoje você está tocando num restaurante francês aqui em João Pessoa. Qual estilo musical você toca: francesa ou jazz norte-americano?
DHIEGO - O público do restaurante francês é um público que realmente me identifico, porque eles gostam de jazz, são pessoas que viajam para fora do Brasil, conhecem outras culturas, estão lá para escutar música francesa, jazz, bossa nova. Você está tocando aí chega um pedido Frank Sinatra... É um trabalho muito gratificante. No outro restaurante é um trabalho onde faço piano solo com um público mais misto, todos os estilos de gostos... Foi bom para mim como profissional, toco todos os lados da música, do bolero, baião, bossa, às vezes sai até uns bregas estilizados (rir). Não esses bregas de plásticos; já que o povo gosta faço adaptação para piano que não soei tão brega, mas algo bem estilizado. No restaurante francês estou lá dois anos; agora toco com o violonista Rinaldo Vitorini (já entrevista neste blog) A gente sempre está alternando os dias. A vantagem para mim é que lá no restaurante é um piano acústico, meia calda, o que tem modificado minha técnica, que é diferente estudar num piano digital. É totalmente diferente. Hoje tenho um repertório de mais de 600 músicas.

SIÉLLYSSON – Você também faz um trabalho como pianista numa igreja evangélica. Fale um pouco sobre essa experiência.
DHIEGO - Foi na igreja onde tudo aconteceu e até onde hoje tenho desempenhado esse papel como um levita. Sou pianista do Coro da Igreja Batista Evangélica de Jaguaribe e não é simplesmente um coro qualquer; não é um pessoal que se junta para cantar. É feito um trabalho vocal com especialista que a igreja paga, eu sou remunerado como músico. Nossos músicos são todos remunerados. Agora mesmo nesse dia 22 (setembro) estaremos gravando nosso DVD, não é comercial, mas para levarmos nos lugares que nos apresentamos, festivais... As pessoas perguntam se temos algum material. Então, queremos fazer esse trabalho para esse público que quer escutar um coral de qualidade em casa.

SIÉLLYSSON – Qual é a sua perspectiva profissional?
DHIEGO - De que futuramente, não muito distante, eu saia do Brasil levando todas as minhas experiências dos Estados Unidos, do Brasil e da Nova Zelândia. A minha volta para o Brasil foi um erro, eu deveria ter focado nos Estados Unidos e ter terminado meu curso de música erudita, eu estava visando muito à música popular acabei abandonando o erudito. A experiência da Nova Zelândia também ajudou, por ter que trabalhar em outras coisas. Agora, quando eu sair do Brasil terei que ter minha independência financeira para me dedicar exclusivamente a música. É nesse momento que vou colocar em prática tudo o que eu sempre sonhei, CD, minhas ideias musicais que tanto almejo.
Hoje eu trabalho com inglês, por ter morado em países línguas inglesas para mim não é nenhum esforço está ensinando inglês, só que a questão da carga horária de ter que está na escola. Dá aulas é bom porque em mantenho meu inglês e me dá a condição financeira para que eu construir minha independência e daqui à um ou dois anos volto para os Estados Unidos, colocando em prática meus sonhos.

SIÉLLYSSON – Você participou recentemente do Festival de Areia-PB. Como tem sido essas participações suas em festivais regionais? No que o público aqui é diferente do público de fora?
DHIEGO - Quanto mais sofisticado a música, mais complicado você toca, menos valorizado você é, porque a cultura do povo ainda é inocente. Se levar Chico Buarque, as pessoas não vão entender o que ele está dizendo, se você leva “eu quero Tchu, eu quero tacha...”, essas porcarias, todo mundo gosta, ninguém quer se esforçar intelectualmente entender o que aquele trabalho está sendo dito, para que intelectualmente aquilo tenha um significado na vida dele. Eu quero simplificar (ar de riso leve) Quanto mais você trabalha numa música, mais o povo acha estranha. Olha, Siél, eu comparo a população de João Pessoa que deve ter em torno de 700 mil, e lá fora tocamos em cidadezinhas de no máximo 20 mil habitantes, e dá de mil por cento em cultura nessa cidade. Eu espero que essa fase boa econômica do Brasil venha influenciar na cultura. Que as pessoas tenham acesso à cultura de qualidade, que consumam coisas boas, que leiam bons livros... falo de cultura em geral, escute uma boa música, vá ao teatro, para que tudo isso faça parte da cultura das pessoas. Veja, a Orquestra Sinfônica da Paraíba se apresenta de graça e o número de pessoas é sempre pequeno. Você ver que o melhores festivais de música estão fora, O Brasil é um país emergente, mas o que me parece é que sempre o valor econômico está acima do cultural, as pessoas querem saber de posses, de coisas materiais e não de cultura, de intelectualidade.

SIÉLLYSSON - Certa vez o autor cubano Reinaldo Arenas (Antes do Anoitecer) disse que a pátria de um escritor era uma folha em branco. E a pátria de um músico?
DHIEGO - Essa é boa! Quando se fala de pátria se fala de amor ao seu país. Pátria de um músico é a música, amor à música, amor este que você agregou a sua vida inteira à música.

SIÉLLYSSON – Você e Rinaldo Vitorinni são músicos santarritense mas que precisaram sair da cidade de Santa Rita por uma questão de sobrevivência cultural. E como você ver a cidade de Santa Rita hoje culturalmente falando?
DHIEGO - Eu já acho João Pessoa morta culturalmente falando. Em Santa Rita não existem nenhum tipo de incentivo a cultura, infelizmente. Quando eu penso em você Siéllysson, pessoa que dentro de Santa Rita, que tem valorizado a cultura. Você se deslocou para cá para fazer essa entrevista... a gente tinha falado sobre a preciosidade que é o tempo, só você ter se descolorado de Santa Rita para essa entrevista e sei que não termina aqui, você vai ter que fazer a digitação, edição, postar no seu site, e tudo isso requer tempo em troca de quê? Da cultura, você não está ganhando nada com isso, ninguém paga nada, nenhum site... A cidade de Santa Rita precisa de pessoas como você...

SIÉLLYSSON - Eu acho que a cidade precisa de memória, a gente já teve músicos famosos que ninguém sabe nada deles, eu não quero que isso aconteça com você e com tantos outros artistas, então por isso o que faço é uma forma de registro, mesmo que isso não seja reconhecido agora, mas vai ficar para sempre essas entrevistas. Esses artistas entrevistados, tem um local de origem: Santa Rita, embora, a cidade não seja tão grande para comportar  talento de todos vocês...
DHIEGO - Até em outras cidades que tem festivais, como Areia, nós estivemos lá. A cidade investe em artes em geral, mas, muitas vezes a questão política, o foco não é a arte em si, por exemplos: várias atrações acontecendo no mesmo horário, achei confuso. Por que não faz uma coisa de cada vez para que o público prestigie a todos? O objetivo não é arte? A gente tem que analisar: “estão realmente querendo divulgar a arte ou divulgação da política, da cidade... e a arte é só um pretexto?

SIÉLLYSSON - Você acha que um dia a realidade de nosso país muda, de focar interesses culturais em vez de interesses políticos?
DHIEGO - Espero que sim, quando se trata de política é complicado dá uma opinião concreta, mas espero que sim; espero que estejam abertos a cultural local. “O que temos de bom para oferecer?” que não pensem “Vamos trazer tal artista porque é famoso e vai trazer turistas para cidade, mas o que temos para oferecer de bom que é nosso? O que a arte dele pode acrescentar de bom?” Não podemos fazer as coisas aleatoriamente, vamos colocar tal músico por que carrega multidões, assim vão colocar só besteiras, porque é o que pega mesmo, como os forrós de plásticos... Um festival de arte tem outro sentido, é valorizar a arte por ela mesma, não porque o cara tem nome. Entendeu?

SIÉLLYSSON - Que conselho você deixa pra quem quer ser um pianista?
DHIEGO - Dedicação, disciplina, treino...

Imagem: do acervo de Siéllysson
Entrevista publicada em  15 setembro 2012 18:12 (sábado)

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