Entrevista 01
Maria de Lourdes Ferreira,
poetisa santarritense de 80 anos, mora atualmente no estado do Rio de Janeiro,
e escreveu um polêmico livro de memórias em dois volumes, com 766 páginas que
envolvem várias personalidades históricas do município de Santa Rita. Maria de
Lourdes Ferreira abre a sessão "Café com Siéllysson"com chave de
ouro.
SIÉLLYSSON - Você já publicou um
livro de poesias "Estrelas Cadentes" em 2000 e reeditou em 2010. Há
quanto tempo escreve poemas? E por que demorou tanto para publicar suas
poesias?
MARIA DE LOURDES: - Escrevo
poemas desde a época da escola primária. Muitos desses poemas se perderam
na poeira do tempo. Até 1978 eu tinha um caderno com
vários. Emprestei a uma pessoa e ela sumiu com meu caderno. Demorei
a publicar minhas poesias porque nunca pensei em fazer isso, não entendia
muito dessas coisas. Se quando jovem tivesse pensado eu não teria
condição financeira mesmo. Não sei se você sabe, mas Estrelas Cadentes
e o Entre Flores e Espinhos, são produções independentes.
Depois veio a luta pela sobrevivência minha e dos meus filhos. E só agora
na maturidade foi que tive tempo e condição financeira. Por um lado
foi bom, pois vivi um grande amor e foi inspirada na pessoa amada que escrevi
quase todos os poemas do Estrelas Cadentes. Eu continuo
escrevendo poemas românticos quando sinto saudade da pessoa amada porque o
tempo não apaga um amor tão intenso como o que vivi. Eu vivo das
lembranças desse amor. Espero em breve lançar mais um livro de poesia que
já tem título Pérolas do meu coração.
SIÉLLYSSON - No ano de 2004, você
escreveu a história da sua vida em dois volumes com uma riqueza de detalhes
impressionante. Você sempre teve uma boa memória assim?
MARIA DE LOUDES: - No ano 2004 comecei
a escrever a história da minha vida. Mas há anos que eu vinha fazendo
anotações. Eu sempre tive uma boa memória. Na escola e nos cursos que fiz
sempre tirei boas notas. Mas muitos fatos da minha vida estavam
adormecidos no meu subconsciente e à medida que eu ia escrevendo eles iam
surgindo. A minha família e pessoas conhecidas se admiram quando digo para
alguém que uso computador e faz pouco tempo que fiz curso de informática, que
escrevo esquete (peça rápida de no máximo 1/2 hora), nessas peças atuo e
dirijo. Elas ficam de queixo caído.
SIÉLLYSSON - O porquê de escrever
sua história?
MARIA DE LOUDES: - Desde criança
eu sempre dizia que quando envelhecesse iria contar minha vida em um
livro. Minhas amiguinhas riam de mim, só que eu mesma não pensava
que o meu percurso pela estrada da vida seria tão árduo. Por isso dei
o título de Entre Flores e Espinhos. Flores pelos bons
momentos e espinhos pelos maus que foram tantos. Por querer deixar
para minha futura geração uma lição de vida. Porque a vida é
uma montanha russa. Ora sobe, ora desce. Devemos nos equilibrar para
cair.
SIÉLLYSSON- Quando você escreveu não
pensou em usar um personagem fictício para não expor toda sua intimidade?
Pensei, e foi assim que iniciei, mas à medida que
ia escrevendo tinha a impressão que estava contando a história de outra pessoa
não a minha. Era como se fosse uma história criada pela imaginação, não na
realidade. Eu não me importava de expor a minha intimidade, até mesmo
as eróticas. Talvez tivesse repensado se fosse escrito anos atrás no período
militar, mas atualmente não existe censura, as novelas e os filmes são
exibidos com carga de realismo e erotismo e todos gostam. Se fosse
nos anos 50 ou 60 eu não escreveria sobre minhas intimidades principalmente
amorosas, me referi ao preconceito da cidade de Santa Rita naquela época, onde
tudo era considerado imoral; por uma bobeira fui expulsa do Clube Piratas
do Santa Cruz em 1954. Relato no primeiro volume do meu livro de memórias,
na página 452 conto como era o preconceito. Em 1964 quando teve início o
período militar não tomei conhecimento porque tava em Pau-Brasil envolvida com
casamento e gravidez e mesmo em Santa Rita não se falava muito no assunto. Só
em 1970 aqui no Rio foi que me inteirei desses episódios. Sei que não fui
ética ao escrever os verdadeiros nomes das pessoas que comigo conviveram, estou
consciente disso. O livro não foi posto à venda, ficou em família. Só
você, Siéllysson, tem os meus livros além de minha família; ao público somente
os volumes que foram enviados para a biblioteca de Santa Rita por meio de você,
são dois ou três volumes, que se alguém se sentir ofendido é só retirar.
SIÉLLYSSON - Praticamente todo o
volume 1 se passa na cidade de Santa Rita, que hoje é muito diferente da cidade
descrita por você. Qual sua relação com a cidade hoje em dia?
MARIA DE LOURDES: - Sim. Todo o
volume 1 e metade do 2 se passa na cidade de Santa Rita. Quando meus pais
vieram para este município eu era bebê de colo. Eu a considero minha
cidade de origem. Foi onde cresci e vivi. Não tenho relação nenhuma com a
cidade de Santa Rita de hoje. O pouco que sei dela é por meio do seu blog e
quando visito o site oficial dela para saber notícias que, aliás, são bem
desagradáveis. Não é mais a minha cidade.
SIÉLLYSSON - Você é uma mulher
budista, num país dito cristão. Como se deu esse processo de conversão? Você
tem muito que explicar as pessoas por praticar uma religião ainda pequena em
nosso país?
MARIA DE LOURDES: - Ao conhecer
o Budismo fiquei desconfiada por não conhecer a religião, Já havia lido alguma
coisa a respeito mas nada de interesse profundo. A facção budista a que
pertenço é a SGI. Aqui no Brasil é Associação Brasil Soka Gakkai
Internacional e a sigla e BSGI. Passei sete anos estudando tudo que dizia a
respeito da religião, inclusive suas escrituras. Em 1984 me converti já sabendo
o que queria, afinal foram sete anos de estudo. Tenho até o grau médio do
Budismo. Foi assim que se deu minha convenção. Eu não tenho muito que explicar
as pessoas. Quando me perguntam respondo o que sei e dependendo da pergunta, se
a pessoa se interessar eu a convido para assistir nossa reunião porque lá tem
pessoas que esclarecem melhor. Mas ensino a recitar o mantra.
Realmente o Budismo ainda está engatinhando em nosso país e dificilmente alcançará o Cristianismo. Acho que religião nenhuma aqui no Brasil se igualará ao cristianismo, quanto mais superar. Na minha família só eu e umas filhas praticamos o budismo, os outros membros da família não têm religião. Apesar de pequena a nossa facção muitos famosos são praticantes. A cantora Elza Soares, Bethe Farias, Diogo Vilela e muitos. Temos 192 países e território onde a facção SGI prevalece. Essa facção não tem templo e sim Sede Regional e Centro Cultural. No Brasil temos muitos colégio e creches Soka.
Realmente o Budismo ainda está engatinhando em nosso país e dificilmente alcançará o Cristianismo. Acho que religião nenhuma aqui no Brasil se igualará ao cristianismo, quanto mais superar. Na minha família só eu e umas filhas praticamos o budismo, os outros membros da família não têm religião. Apesar de pequena a nossa facção muitos famosos são praticantes. A cantora Elza Soares, Bethe Farias, Diogo Vilela e muitos. Temos 192 países e território onde a facção SGI prevalece. Essa facção não tem templo e sim Sede Regional e Centro Cultural. No Brasil temos muitos colégio e creches Soka.
SIÉLLYSSON - Que parte da sua
vida foi mais difícil escrever? E por quê?
MARIA DE LOURDES: - A parte mais
difícil de escrever e que não contive as lágrimas, foi quando relatei a noite em
que minha mãe atentou contra minha vida enquanto eu dormia. Acordei na hora H
com a voz do meu falecido namorado me chamando desesperadamente. Esse rapaz era
neto do Capitão Joca Medeiros. Quando acordei, ela estava empunhando um punhal
em direção ao meu coração. Segurei fortemente o seu braço e gritei. Minhas
irmãs me socorreram, mas nessa mesma noite ela tentou mais duas vezes, como eu
já estava acordada me atraquei com ela, mas eu e minhas irmãs só conseguimos
desarmá-la na terceira tentativa. Foi horrível! Um pesadelo, pois eu a amava e
a amo. (falecida em 88). Se ela achou que eu tinha feito algo de errado, porque
não agiu de outra maneira? Tentar matar a própria filha é tenebroso. Mas, já
passou.
SIÉLLYSSON - Hoje se pudesse
voltar ao tempo, você voltaria para Santa Rita?
MARIA DE LOURDES: - Se eu
pudesse voltar no tempo não sairia de Santa Rita teria vivido lá todos os
meus dias. Mas se fosse hoje a minha vida nessa cidade eu não voltaria, pois
minha família é erradicada aqui. Tenho netos, bisnetos, genro, nora etc. Amo
muito minha família. Também minha Santa Rita não existe mais! Como disse um
filósofo: "passado são só lembranças, o futuro é um sonho. Temo que viver
o hoje, porque o hoje amanhã será ontem".
SIÉLLYSSON - Que mensagem você
quer deixar para os leitores desse blog?
MARIA DE LOURDES: - A mensagem
que deixo para os leitores desse blog é que não tenham medo de enfrentar seus
fantasmas, de ressuscitar seus anjos e demônios, que peguem caneta e papel e
escrevam a história de suas vidas, seja o que tenha acontecido de bom e de
ruim. Todos nós temos um passado. Os que ainda não têm, estão acumulando
experiência e formando um.
Encerro agradecendo a você, Prof. Siéllysson, à oportunidade que me deu para falar um pouco da minha pessoa. Agradeço também ao Universo por está viva para conhecer uma pessoa tão especial que surgiu em minha vida e que tenho certeza não foi por acaso.
"Nam-miohô-renguê-kyô".
Encerro agradecendo a você, Prof. Siéllysson, à oportunidade que me deu para falar um pouco da minha pessoa. Agradeço também ao Universo por está viva para conhecer uma pessoa tão especial que surgiu em minha vida e que tenho certeza não foi por acaso.
"Nam-miohô-renguê-kyô".
A imagem acima é a poetisa Maria de Lourdes
Ferreira em 1952 quando era moradora de Santa Rita. Acervo pessoal da poetisa.
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