Entrevista 03
Filho de
agricultores que chegaram a Santa Rita durante a Revolução de 1930, seu
nascimento foi num sítio no Alto dos Eucaliptos, foi ambulante até os 18 anos,
precursor na Educação do Ensino Privado no Bairro Popular, renovador nos
desfiles cívicos na cidade de Santa Rita, presidente de vários clubes
esportivos do nosso município, o professor Francisco de Assis é o entrevistado
de hoje do "Café com Siéllysson"
SIÉLLYSSON - Sua Escola foi pioneira no
Ensino Particular Bairro Popular. Qual a duração?
FRANCISCO DE ASSIS - Iniciamos no ano de 1959 e
fechamos o Instituto São Francisco de Assis em 1997.
SIÉLLYSSON - Para o senhor o que marcou na
sociedade santa-ritense a trajetória do Instituto São Francisco de Assis
(ISFA)?
FRANCISCO DE ASSIS - Muitas coisas marcaram, seja
no compromisso que tínhamos com a aprendizagem dos alunos, seja nos desfiles
que permanecem na memória de muita gente.
SIÉLLYSSON - No total foram quantos
desfiles e qual o mais marcante para o Senhor?
FRANCISCO DE ASSIS - Iniciamos no ano de 1964 e
realizamos o último no ano de 1987. Na maioria desses desfiles não tínhamos
ainda Banda Marcial, então eram convidadas Bandas de João Pessoa o que atraia
muito. As pessoas esperavam numa perspectiva grande o nosso desfile. O desfile
mais marcante para mim foi o de 1969, acredito ter sido o mais caprichado, com
a participação da Banda Marcial do Colégio Getúlio Vargas do município de João
Pessoa. Trabalhos as belezas dos estados do Brasil, esta temática já tinha sido
abordada em desfiles anteriores, como o de 1966 onde o tema central era
"As Regiões Brasileiras", no ano seguinte trabalhamos "Trajes
Típicos do Brasil", mas em nenhum desfile conseguimos superar o de 1969.
SIÉLLYSSON - O que havia no "Oiapoque
ao Chuí"?
FRANCISCO - Comidas típicas, danças folclóricas,
roupas regionais e tantas outras belezas do nosso país.
SIÉLLYSSON - Não guardou esse acervo?
FRANCISCO DE ASSIS - Não. Não tive muita
preocupação de guardar essas imagens. Não tínhamos a consciência do povo de
hoje em que tudo armazena no computador. Muitas fotos foram dedicadas a amigos,
outras ficaram com alunos. Certo dia comecei juntar tudo o que restou de
fotografias e alguns documentos... até escrevi uma plaqueta sobre o Instituto
São Francisco de Assis.
SIÉLLYSSON - Você é conhecido como
Professor Francisco de Assis, mas este não é seu verdadeiro nome, não é
verdade?
FRANCISCO DE ASSIS - É verdade. Meu nome é José
Francisco da Silva Filho, mas devido o nome de fantasia da Escola, passaram a
me chamar de Francisco de Assis.
SIÉLLYSSON - O Senhor teve quantos anos de
sala de aula?
FRANCISCO DE ASSIS - Muitos, no total foram 51
anos de sala. Iniciei muito cedo, um grupo de pessoas me procurou para eu
dá-lhes aula de reforço para prestarem a prova de Admissão, era uma
avaliação que se fazia antes de entrar no que hoje chamamos de 6° ano. Acredito
que eu tivesse uns 18 anos, a partir daí comecei minha carreira em sala de aula
e só parei quando me aposentei, em 2010 pelo Estado. Do ISFA iniciei em 1959 e
meu último trabalho como professor estadual me aposentei em 2010.
SIÉLLYSSON - Gostava do que fazia?
FRANCISCO DE ASSIS - Sim, gosto de ser professor,
mas se eu fosse fazer uma escolha profissional nos dias atuais não seria mais
professor.
SIÉLLYSSON - O que seria?
FRANCISCO DE ASSIS - Seria arquiteto, o campo de
trabalho é maior. Você pode trabalhar em várias repartições, há um leque de
oportunidades, bem diferente da vida de professor.
SIÉLLYSSON - O Senhor iniciou os desfiles
cívicos num período conturbado da nossa história que foi a Ditadura Militar.
Isso influenciou nas escolhes dos temas?
FRANCISCO DE ASSIS - De certo modo sim.
Desfilávamos sem poder modificar ou transformar o que se referia
"civismo" do Brasil, pois era tudo censurado pelo Regime Militar e
nós não queríamos ter modificar tudo de última hora. Na década de 1960
desfilávamos muitas vezes sozinhos, sem participação do trânsito, nem segurança
e tínhamos que providenciar tudo isso para poder pôr a escola na rua.
SIÉLLYSSON - Vi algumas imagens em que o
ISFA estava acompanhando a procissão de Santa Rita. Isso era comum?
FRANCISCO DE ASSIS - Sim, muitas vezes recebíamos
o convite da Paróquia de Santa Rita de Cássia para acompanhar a procissão e a
escola ia, parecia mesmo um desfile. Os alunos comportavam-se e acompanhavam
tranquilamente.
SIÉLLYSSON - Como o Senhor encarou o
fechamento do ISFA?
FRANCISCO DE ASSIS - Não foi fácil, mas não foi a
única empresa que teve que fechar as portas. Ser um profissional na área da
Educação é ter que acompanhar o ritmo da época, tem que ter uma visão global,
ter dinâmica e flexibilidade. Isso acontece porque são muitas mudanças e tudo
rápido demais. O ISFA necessitava de uma Assessoria de Planejamento, mas
chegaram os momentos inesperados que não foi possível realizar o sonho futuro. O
declínio da escola começou no início dos anos 90, durante o governo do
presidente Fernando Collor, mas foi no governo de Fernando Henrique Cardoso que
fechamos as portas do ISFA, em 1996.
SIÉLLYSSON - Qual mensagem você deixaria
para quem está iniciando?
FRANCISCO DE ASSIS - Deixo aqui a frase que usei
para o ISFA em seus materiais: "Um líder não se faz por acaso", sendo
assim, os jovens precisam esforçar-se e ter disciplina para construir sua
história.
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