Entrevista 10
A trajetória da professora
universitária que dedicou sua vida à inclusão social das pessoas
com deficiência. “Café com Siéllysson” entrevista Noalda Ramalho,
mais uma personalidades
santa-ritense que faz a diferença.
SIÉLLYSSON – Certa vez ouvi de você
“nunca fiquei desempregada”, o que é uma exceção no nosso país. A que você
atribui esta situação insólita?
NOALDA - Antes de responder sua indagação, quero
agradecer ao seu convite para esta entrevista, o que me deixou muito
lisonjeada. Quanto a questão que me foi formulada, gostaria de dizer que fiz
esta afirmativa para você em virtude do movimento profissional da minha vida.
Comecei a trabalhar aos 19 anos de idade na APAE de Santa Rita por um convite
da instituição, quando ainda era estudante de Serviço Social da UFPB. De forma
concomitante, fui convidada para lecionar a disciplina de Ensino Religioso no
Colégio Dom Bosco, instituição de natureza privada situada em Santa Rita.
Quando concluí o meu Curso de Serviço Social em 1995, fui contratada pela
Prefeitura Municipal de Santa Rita como assistente social da APAE. Nesse período
também fui selecionada como Bolsista de Aperfeiçoamento do CNPq para integrar
um Projeto de Pesquisa do Setor de Estudos e Pesquisas sobre Criança e
Adolescente do Mestrado em Serviço Social da UFPB. A experiência profissional
na APAE perdurou até a conquista de outro ideal: o Mestrado; passando eu a
permanecer apenas centrada em meus estudos da Pós-Graduação. Porém, em período
posterior, ainda prestei serviço voluntário a essa instituição como membro de
seu Conselho e de sua Diretoria, chegando a ocupar o cargo de Vice- Presidente.
Quando estava concluindo o Mestrado fui convidada para a pasta de Secretária do
Trabalho e Assistência Social do município de Ibiara entre os anos de 2001 a
2007. Em 2003 fui aprovada no Concurso de Professor Substituto do Curso de
Serviço Social da UEPB em Campina Grande, onde leciono até hoje. Em 2008
ingressei no Curso de Doutorado em Educação da UERJ, o qual estou com previsão
de conclusão para julho deste ano. Atualmente, além do engajamento na vida
acadêmica, também sou Assistente Social concursada da rede municipal de
educação de Campina Grande, com atuação em uma escola e duas creches,
experiência esta iniciada no ano de 2009. Enfim, como você pode percebe a minha
jornada profissional começou muito cedo e de lá para cá venho sempre envolvida
com diversas atividades. De fato, também acho que esta minha história
profissional é uma exceção, “uma situação insólita”, pois vivemos em um país
injusto e desigual nas oportunidades. Porém, sinto que um importante fator que
muito vem contribuindo para as minhas conquistas, é a minha determinação e
busca constante por qualificação, além da crença reta e firme em Deus, o qual
sempre o invoco a fazer sua vontade em minha vida.
SIÉLLYSSON – – O que é um bom
profissional?
NOALDA - É aquele que ama, tem total
identificação e compromisso com aquilo que faz.
SIÉLLYSSON – Você já foi Secretária
do Trabalho e Assistência Social no município de Ibiara entre os anos de 2001 a
2007. De que forma essa experiência contribui na sala de aula da UEPB do Campus
de Campina Grande onde você é professora desde 2004?
NOALDA - A experiência como Secretária do
Trabalho e Assistência Social contribui imensamente para o meu trabalho na
docência, uma vez que me dá condições de trazer para a sala de aula uma
experiência de prática profissional do Serviço Social. Sinto que os alunos
adoram essa “ponte” que sempre faço entre a teoria e a prática, sendo esta
metodologia um facilitador no processo de aprendizagem.
SIÉLLYSSON – Em 2001, quando
você era moradora do município de Santa Rita, realizou uma pesquisa sobre os
portadores de Síndrome de Down na FUNAD , que resultou na dissertação do
Mestrado em Serviço Social pela UFPB titulada “Portadores de Síndrome de Down -
Uma análise do processo de inclusão social em João Pessoa”. Sabendo que seu
trabalho era algo inédito na época, por que não publicou?
NOALDA - De fato, a minha Dissertação de Mestrado
foi aprovada com distinção e indicada para publicação pela Banca Examinadora.
Porém, não cheguei a publicá-la porque quando concluí o mestrado fiquei muito
voltada, na época, para o meu trabalho em Ibiara a frente da Secretaria de
Assistência Social. No entanto, procurei publicar o resultado da minha
pesquisa apresentando e divulgando diversos artigos sobre ela em eventos
científicos.
SIÉLLYSSON – Que experiência você levou consigo do trabalho de anos prestados a APAE de Santa Rita para o Curso de Serviço Social da Universidade Estadual da Paraíba, em Campina Grande?
NOALDA - Antes de responder sua pergunta,
gostaria de externar que foi a partir da experiência na APAE de Santa Rita que
aprendi, enquanto estudante, a prática profissional do Serviço Social, como
também, foi a partir do contato direto com seus alunos, famílias e
profissionais, que aprendi a amar a temática da inclusão social da pessoa com
deficiência; o que me fez adotar, até os dias atuais, essa área como foco
principal dos meus estudos e trabalhos profissionais. Agora me referindo à sua
questão, o que levei desta experiência na APAE para a minha atuação no Curso de
Serviço Social da UEPB, tenho muito a relatar. Foi por essa experiência
profissional em meu currículo que recebi um convite do Departamento de Serviço
Social da UEPB para coordenar a Monitoria Especial, um trabalho criado, por
iniciativa do próprio Departamento, para atender aos discentes daquele Curso
que possuíam deficiência visual. Este serviço versava na colocação de monitores
para auxiliar os alunos com deficiência visual em suas tarefas acadêmicas;
experiência esta que, em agosto de 2004, transformei no Projeto de Extensão: “O
Serviço Social em Busca da Educação Inclusiva”. Em janeiro de 2005, diante
da existência de um número significativo de alunos com deficiência regularmente
matriculados na UEPB, fui convidada pelo atual reitorado da universidade para
ampliar o meu Projeto de Extensão para que o mesmo pudesse atender a todos os
discentes com deficiência dessa universidade. Assim, o mesmo foi assumido pela
Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Comunitários, passando a ser denominado: “A
UEPB em Busca da Educação Inclusiva”. Dessa forma, além da sala de aula,
passei a ter uma carga horária nessa Pró-Reitoria para coordenar o mencionado
Projeto no âmbito de toda a universidade. Diante da grande visibilidade e
dimensão que o citado Projeto alcançou, dentro e fora da universidade; como
também, para atender às novas prerrogativas da Educação Especial, previstas na
Constituição Federal de 1988 e na LDB de 1996, lutei bastante para que a UEPB
transformasse o referido Projeto de Extensão em Programa. Assim ocorreu,
através da Resolução/UEPB/CONSEPE /013/2006, aprovada em 07 de julho de 2006,
o Projeto “A UEPB em Busca da Educação Inclusiva” foi
transformado em Programa oficial da UEPB com a denominação de “Programa de
Tutoria Especial”. Com isso, ficou criado e assegurado por lei nessa
universidade o atendimento educacional especializado aos seus alunos especiais:
Outra conquista ímpar na minha trajetória profissional. Dessa forma, me sinto
feliz em saber que deixei plantada nessa Instituição de Ensino Superior algo
que jamais poderá ser apagado da sua história: o reconhecimento e o respeito
aos seus alunos especiais. Digo que isso é histórico porque, num passado bem
próximo, alguns dos seus alunos com deficiência chegaram a abandonar as salas
de aula pela falta de assistência da própria instituição, que não oferecia
sequer o mínimo de condições para atendê-los em suas limitações particulares.
SIÉLLYSSON – O seu livro “Extensão
Universitária - Espaço de Inclusão, Formação e Socialização do Conhecimento.”
Lançado pela Editora Universitária da UFPB, em 2009, foi fruto de sua pesquisa
no doutorado?
NOALDA - O referido livro não é exclusivamente de
minha autoria, mas é composto por artigos de vários professores da UEPB. O
artigo que publiquei na referida obra não diz respeito, especificamente, aos
resultados da minha pesquisa no doutorado, a qual vem realizando uma avaliação
do Programa de Tutoria Especial da UEPB, pois, naquele momento, a referida
pesquisa ainda estava em andamento. No entanto, apresenta a
experiência do citado Programa na UEPB.
SIÉLLYSSON – Embora sua família seja de
Ibiara há uma forte ligação com Santa Rita. Por quê?
NOALDA - Sou filha do casal de sertanejos: Sr.
João Ramalho e Srª Naídes, ambos filhos naturais do município de Ibiara, cidade
do alto sertão da Paraíba em que também nasceram os meus irmãos Nailson,
Nailton, João Bosco e Ronildo. A vinda deles para Santa Rita se deu no ano de
1972, quando tiveram a coragem e a ousadia de saírem da cidade de Conceição do
Piancó/PB, onde residiam na época e onde nasceu a minha irmã Nailma, para
fixarem residência em Santa Rita, com a finalidade primeira de meus irmãos
cursarem o ensino médio e ingressarem na universidade. Sendo eu a filha caçula da
família, foi em Santa Rita onde nasci, passei minha saudosa infância, iniciei
minha vida escolar, atravessei os meus desafios da adolescência e vivi o início
de minha vida adulta, já como profissional. De fato, há uma forte ligação da
minha família com Santa Rita, uma vez que, além de ser a terra onde nasci,
também foi um local que nos proporcionou acolhida e aconchego para caminharmos
em busca da concretização de nossos objetivos; foi o chão em que vivemos muitas
experiências, construímos fortes laços de amizade e adquirimos o respeito de
muitos de seus munícipes.
SIÉLLYSSON – – Santa Rita está ganhando
um Campus da UFPB, há possibilidades de você voltar a morar em Santa Rita?
NOALDA - Hoje a minha vida profissional e
familiar está toda estruturada em Campina Grande, cidade onde resido desde o
ano de 2006, quando casei. Assim, por uma questão de comodidade, não penso em
morar em outra cidade. Porém, quem sabe, se, no futuro, não se abrirá uma nova
porta para que eu regresse para Santa Rita.
SIÉLLYSSON – – Você sempre foi uma mulher muito dedicada nos trabalhos sociais, religiosos e em sua profissão. Hoje você é mãe de gêmeos. O que mudou em sua vida?
NOALDA - De fato, desde adolescente me engajei em
diversas Pastorais da Igreja Católica, vindo a ser coordenadora, por muito
tempo, do Grupo Shalom, grande grupo da Paróquia de Santa Rita que integrava
crianças, adolescentes e jovens. Além desses engajamentos, também realizei
trabalhos voluntários em ONGs da cidade de Santa Rita, a exemplo da Entidade
Casa do Menor Daniel Comboni, onde exerci a função de monitora educacional de
crianças e adolescentes em situação de rua. Essas experiências, além de me
proporcionarem aprendizagens na área das relações interpessoais, organização do
tempo, liderança, compromisso social, participação e mobilização popular,
valores democráticos, compartilhamento de ações, promoção humana, consciência
crítica e outros, me levaram a assumir responsabilidades muito cedo, me
trazendo como conseqüências a maturidade enquanto ser social. Em 2006, quando
me casei com Jackson, pessoa muito especial para mim, com a qual tenho tido um
excelente relacionamento, minha vida, passou a ficar mais voltada para as
atividades profissionais, uma vez que passei a está com os meus horários mais
preenchidos com as referidas atividades. No dia 23 de novembro de 2011, Deus
nos contemplou com o nascimento de nossos filhos gêmeos João Lucas e Maria
Júlia, o que acresceu em minha vida uma nova responsabilidade e missão a ser
enfrentada. No entanto, a minha intenção é dar continuidade, ao lado dos meus
filhos e esposo, ao projeto de vida que escolhi e sou feliz em realizá-lo.
SIÉLLYSSON – Que mensagem você
deixa para o pessoal que acompanha o blog?
NOALDA - Acreditem na vida!!! E digam
como o poeta lusitano Fernando Pessoa: “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”;
pois creio que um grande motivo para se viver é estarmos sempre cheios de
objetivos a concretizar. Um abraço em todos os meus conterrâneos, amigos e
acompanhantes deste blog.
Imagem: Acervo Pessoal de Noalda Ramalho
Entrevista publicada em 03 fevereiro 2012 às 19:00
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