sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Café com Siéllysson entrevista o historiador Valdir Lima



Entrevista 07



A personalidade mais polêmica do município é um professor sem papas na língua, de estatura pequena, mas que se tornou grande por sua altivez e sinceridade, diz o que pensa e age com o coração ao tratar de Santa Rita. Poeta, historiador, Mestre em Ciênicas das Religiões, criador da ONG Engenho Cumbe, “Café com Siéllysson” entrevista Valdir Lima


SIÉLLYSSON – Que contribuição o Movimento de Teatro Popular teve em sua vida?
 VALDIR - Uma grande contribuição... [pausa] ...estou respondendo ouvindo Gal Costa no momento, isto eu  já devo ao teatro em minha vida. Lá aprendi a falar em público, a escrever textos, encenar, dirigir, produzir, discutir temas de relevância social, etc., e olha que eu tinha apenas 12 anos. Na verdade, aprendi não a tolerar, mas respeitar o outro. Foi a minha principal escola na vida, sou feliz por ter tido Héliton Santana como meu mestre. Aprendi também a ser político.

SIÉLLYSSON – Você é responsável pela Primeira ONG de Santa Rita a trabalhar com cultura e educação. Conte-nos como surgiu essa ideia de formar uma ONG?
VALDIR - Tudo começou em 2001, conversando com algumas professoras da Escola Enéas Carvalho, sugeri fazermos um Festival “Ressaca de quadrilhas juninas” para movimentar nossa escola, esse projeto durou 10 anos e alavancou o nascimento da Encumbe.  A ideia era de criar uma ONG para promover os artistas locais. Depois entendemos que era necessário lutar por políticas públicas inclusivas para cultura e o resultado disso foi que pressionamos a criação do Conselho Municipal de Cultura, fizemos fóruns, participamos ativamente das etapas: municipal, estadual e nacional da conferência de cultura. Contribuímos enquanto conselho para criação do plano municipal de cultura (2012-2022) e aguardamos apenas a aprovação do Plano Municipal de Cultura Héliton Santana para Santa Rita entrar na vanguarda do Sistema Municipal de Cultura. Esperamos que esse possa ser nosso legado aos que virão.

SIÉLLYSSON – Quais foram os projetos mais significantes da ONG Encumbe?
VALDIR - Nossos principais projetos foram o Festival Ressaca de Quadrilhas Juninas, 10 anos;  Projeto Cartões Postais Históricos (com imagens antigas da cidade); Projeto Arte pela Vida em parceria com a Secretaria de Educação (teatro nas escolas); Censo com os artistas; produções de espetáculos teatrais; promoções de cursos, iniciação cinematográfica e Sarau Encumbe, espaço cultural destinado á música, poesia e boa conversa, em sua oitava edição.

SIÉLLYSSON – O que lhe impulsionou a decidir pelo curso de História?
VALDIR - Comecei a dar aula aos 11 anos em minha casa, aula de reforço. Minha avó materna era professora, minha vida estava traçada. (risos) Eu seria professor de todo jeito, mas, a opção por história veio da minha veia político-militante, devo essa influência ao Movimento de Teatro Popular, ao Partido dos Trabalhadores, onde passei cerca de 20 anos e aos bons professores de história que tive. Nunca me arrependi! me apaixono a cada dia pela disciplina que me traduz.

SIÉLLYSSON – Você é uma das personalidades mais polêmicas do município. Subiu em caminha, falou contra poderosos, deu entrevistas em rádios a favor da cultura. A consequência de ser verdadeiro e sem papas na língua foi ter sofrido ameaças nas redes sociais. O que você tirou de lição dessa situação? Em algum momento teve medo?
VALDIR - O problema é que a junção de sol e sol é fogo.  Eu nunca fugi da raia, nunca fugi do que eu acredito; sou muito intenso, radical até. A minha bandeira é a cidadania, mas a cultura é o instrumento político que uso para protestar quando necessário. Nesta cidade sou oposição a essa oligarquia tirana, falida, opressora. Quando falei encima do trio recebi mensagens estranhas de verdade. Não tenho medo de me posicionar quando aposto na causa, porém paguei um alto preço. Quando fui selecionado no mestrado a “gestão” não me liberou para estudar, entrei na justiça, fui às rádios, denunciei, foi difícil, mas venci, não me arrependo.

SIÉLLYSSON – Você é um político nato, mas nunca se candidatou. Por quê?
VALDIR - Porque nem todo mundo precisa ter cargo eletivo, creio que contribuo mais sem mandato; sou mais respeitado também, assim ninguém, confunde meus interesses. Nunca sonhei ser político eletivo, mesmo algumas pessoas terem oferecido patrocínio para isto. Quero não!

SIÉLLYSSON – Várias personalidades da política santa-ritense já quiseram seu apoio e você negou. Por quê?
VALDIR - Porque tenho medo de desconstruir tudo àquilo que acreditei minha vida inteira. É tão árduo ter postura, não posso dar passos duvidosos, não é pensando nos outros, mas em mim mesmo, a quem devo respeito.

SIÉLLYSSON – Sua especialização foi em Direito Humanos. Por que as pessoas têm uma visão tão distorcida sobre os Direitos Humanos?
VALDIR - As pessoas pensam os Direitos Humanos a partir desses biscaiteiros da comunicação, pessoas sem qualificação profissional, de caráter duvidoso. Estes distorcem os direitos humanos, chamam de "direitos dos bandidos", o que não reflete a verdade. Direitos Humanos são para todos, moradia, saúde, educação, cultura, segurança etc. Então, quando falamos em segurança, isso quer dizer que cabe ao Estado prender, julgar, condenar e recuperar quem está à margem da sociedade. Nós não vivemos na barbárie, não nos cabe fazer justiça por conta própria e é aí que somos confundidos. Quando tivermos menos desigualdade social é que viveremos num estado de direitos.

SIÉLLYSSON – Você sempre diz que optou em ficar em Santa Rita. Por quê? Explique a importância dessa cidade em sua vida.
VALDIR - Santa Rita é a minha paixão, minha inspiração divina, minha musa, meu amor incondicional, nem sei explicar esta coisa que parece que estava escrito. Minha família veio do interior, passou por aqui onde nasci e foram para João Pessoa, menos eu. Essa cidade me consagrou como pessoa, profissional, artista, nem sou digno de tanto. O mínimo que posso fazer é expressar esse amor eterno, retribuir a minha cidade, meu torrão.

SIÉLLYSSON – Você teve fazes diversas em sua vida espiritual e religiosa. Para você a religião é um fenômeno cultural ou uma necessidade espiritual?
VALDIR - É tão difícil responder isto. Pois é, tive o privilégio de transitar por religiões e falta de crença também, mas  acredito nas possibilidades, inclusive para mim.

SIÉLLYSSON – Que mensagem você deixaria para os jovens que leem este blog.
Que continuem lendo Siel porque você é um ser maravilhoso, espirituoso e está dando uma grande contribuição para cultura dessa terra. Quanto a mim, digo que estudem, acreditem em ideais e amem muito; amem pessoas, coisas, causas, porque a vida... a vida é muito grande para ser pequena.

(Entrevista publicada em: quarta 07 dezembro 2011 21:26. Hoje Valdir Lima está secretário de Cultura do Município de Santa Rita)

1 comentários:

Unknown disse...

Parabéns ao entrevistado pela clareza e ao entrevistador pela iniciativa de expor esses talentos de várias áreas de Santa Rita.

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