segunda-feira, 23 de setembro de 2013

Entrevista com o Historiador Hérick Raian Meneses para o Café com Siéllysson



Entrevista 17


O jovem professor Hérick Raian Meneses já solidificou seu nome na Educação do município de Santa Rita. Hoje no “Café com Siéllysson” ele fala sobre o período holandês na Paraíba, uma pesquisa extensa que realizou em sua dissertação de Mestrado em História no 2009, pela UFPB. Hérick é mais um santarritense que faz a diferença.

SIÉLLYSSON - Por que você escolheu trabalhar com o período holandês na Paraíba?
HÉRICK - Antes de mais nada dizer que é uma satisfação grande poder conversar com você. Então, me apaixonei pela historiografia holandesa depois de perceber, no quarto período da graduação em História que havia poucos autores paraibanos que em suas obras deram pouco destaque a este, que, a meu ver, foi muito interessante para a historiografia paraibana e brasileira: a ocupação holandesa.  

SIÉLLYSSON - Você fez em sua dissertação uma análise dos Manuais Didáticos de História da Paraíba e o Período Holandês. Quantos livros foram pesquisados? E o que foi constatado durante sua pesquisa?
SIÉLLYSSON - Para escrever sobre este tema, que é o primeiro capítulo da dissertação li muita coisa. Sabe que não sei precisar com certeza, porque foram muitas páginas, artigos, cartas, livros, crônicas... Nesse momento da pesquisa chegamos a constatação que falta uma bibliografia didática escolar específica sobre o tema em tela, além de termos escolhidos os dois livros didáticos para a análise geral, que foram História da Paraíba: período colonial e Brasil Reino [1971, 1972 e 1974], de Carmem Coêlho de Miranda Freire e Pequena História da Paraíba [1975] de Vilma dos Santos Cardoso Monteiro. A escolha se deu porque as autoras eram fiéis em suas narrativas nos dois autores que escolhemos para a análise geral do período holandês, Maximiamo Machado e Irineu Pinto.

SIÉLLYSSON - No segundo capítulo da sua dissertação você discute a importância dos Institutos Históricos tanto o da Paraíba quanto o de Pernambuco como “Lugar Social de Maximiano Lopes Machado e Irineu Ferreira Pinto” autores que trabalharam também com o período holandês. Em sua apresentação você afirmou que as origens sociais de ambos “não interferiram/não impediram que fossem pesquisadores, pois Machado obteve formação superior, foi deputado, juiz, enquanto que Pinto, apenas um funcionário público do governo do Estado da Paraíba”.
Há autores que nos deixaram documentações e impressões sociais de uma época sem serem historiadores. Qual a importância de uma formação acadêmica para um escritor?
HÉRICK - No caso da História, muitos se julgam historiadores porque conseguem ler e escrever sobre algum tema. Tem uns até interessante porque abrange o grande público, já que têm uma linguagem mais acessível para o senso comum (o grande público). Mas, rapaz, é fundamental ter uma formação acadêmica, pelo menos falo como historiador, no intuito de se evitar os erros, os anacronismos (pecado fatal para um texto historiográfico), sem contar que na academia você aprende técnicas, métodos, respira erudição e se consolida como o tal, seja geógrafo, letrado, historiador e etc.

 SIÉLLYSSON – Você falou que Irineu Ferreira Pinto apenas queria salvar das traças a documentação” e salvou ao publicar essa documentação. Como está a realidade das documentações na Paraíba?
HÉRICK - Olha só. Nosso Estado poderia ser mais rico em documentação. Mas o bom é que, de um tempo para cá, existe uma preocupação coletiva de historiadores, arquivistas, bibliotecários em organizar, indexar, catalogar, classificar essa documentação que está espalhada nos arquivos das igrejas, das diversas instituições (tribunais, corregorias, fóruns), no IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano), na UFPB e etc. Com o crescimento da tecnologia está sendo possível fazer um bom trabalho de recuperação da informação, mas, também, por outro lado, faltam ainda políticas dos nossos governantes para auxiliarem neste processo de conservação das documentações. Isto é lamentável!!!!!!!! 
           
SIÉLLYSSON – Você utilizou alguma documentação do período holandês além da referência bibliográfica? E por quê?
HÉRICK - Sim, claro. Não seria possível entender o período sem ir nas fontes específicas. Então autores como Elias Herckmans* e toda sua descrição sobre a Paraíba é fundamental. O problema com as fontes holandesas é o cuidado com a tradução, mas visitamos as que estão disponíveis em português. Para este trabalho de mestrado apenas olhamos rapidamente, porque o foco era outro, mas para o futuro, quem sabe... Além do HERCKMANS pegamos muita coisa disponível na nossa língua que está no acervo do IHGP.

SIÉLLYSSON – A cidade de Santa Rita foi local de concentração holandesa, porém diferente de Recife não ascendeu socialmente nem economicamente com a presença dos holandeses aqui. Por quê?
HÉRICK - Pelo fato da colonização. A Capitania da Paraíba era pobre e era vista pelos holandeses como um lugar para exploração. Então, na Paraíba, o foco dele foi sugar as riquezas dos engenhos e destruir o que os portugueses erguiam, já que eles não eram adeptos da fé católica. Para teres uma ideia, os prédios religiosos da Igreja Católica foram lugares de moradia para os mesmos. Tem também a questão de identificação do líder holandês na época, Maurício de Nassau, que até esteve na Paraíba, mas se apaixonou mesmo por Pernambuco. No caso de Santa Rita, que há época se chamava Vale do Paraíba, a ascensão social era improvável, pois por aqui, o foco dos holandeses eram nossos ricos engenhos. Mas, nem tudo é triste nesta história: temos um ponto de orgulho, o santa-ritense André Vidal de Negreiros, que nasceu no que é hoje as proximidades da Usina São João, sendo um dos responsáveis pela expulsão dos holandeses das terras paraibanas e brasileiras.

SIÉLLYSSON – Você é professor do município de Santa Rita, como vê o ensino da história local nas salas de aula?
HÉRICK - Péssimo!!!!!!!!! Não que não tenhamos professores capazes, mas não temos condições apropriadas para fazer este trabalho. Os alunos até se interessam pelo tema local, mas a partir de 2011 foi retirado do currículo. Uma pena, pois temos tantos professores mestres na área de História. Fica, aqui, uma dica: que tal se nós (professores de História) nos uníssemos e lutássemos junto aos gestores pela volta do estudo da História do município? Pois é a partir do conhecimento das nossas origens que o barco flui...

SIÉLLYSSON – Por que seu trabalho não foi publicado ainda?
HÉRICK - Pois é, em forma de livro, ainda não. Faltam patrocinadores. (risos). Como é um texto MUITO teórico acho que não vislumbra tanto interesse de quem pudesse financiar. Mas, tem muita coisa publicada nas revistas da área, em anais de eventos de congressos, simpósios e etc.

SIÉLLYSSON – Que mensagem você deixa para os leitores deste blog.
HÉRICK - Que acreditem de verdade em suas capacidades e não desistam dos sonhos, seja ele qual for, pois, quem espera, SEMPRE ALCANÇA.
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* Elias Herckmans foi um holandês que nos deixou escritos do período em que eles dominaram a Capitania da Paraíba. A riqueza de detalhes de suas anotações é importante para qualquer historiador que venha escrever sobre a Paraíba. O Livro foi traduzido na década de 1980.
Entrevista publicada em 27 maio 2012 às 22:39 (domingo)

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