quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

Participação de Siéllysson no Recital Suspiro Poético

No dia 26 de novembro houve o lançamento do livro de poemas de Wallysson Souza onde vários poetas participaram recitando poemas do livro "Suspiros Poéticos" Siéllysson Francisco fez sua participação, vejam nas imagens são de Rafael Freitas.





sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

O 8° Auto de Deus em Santa Rita




Hoje, 20 de dezembro de 2013, a ONG Pro Dia Nascer feliz fez sua oitava apresentação natalina do Auto de Deus para comemorar o 8° ano de existência da ONG, que tem um belo serviço prestado a população santarritense e de outras localidades. Em parceria com o Governo do Estado e o Instituto Alpargatas eles desenvolvem alguns trabalhos.
Vejam a entrevista com o ex-presidente da ONG Adriano Araújo:
As imagens abaixo foram feitas por Siéllysson



sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

Encontro na Nobel de Escritores Paraibanos



Sábado Literário

No final do Encontro todos reúnem-se para a foto oficial
Material de divulgação da ONG Espaço Múltiplo


Momento da apresentação de Siéllysson

Escritores santarritenses juntos



Por Tiago Germano

Escritores em atividade no Estado reúnem-se hoje, a partir das 14h, na Livraria Nobel do Tambiá Shopping, em João Pessoa, para a edição de inauguração do Encontro de Escritores da Paraíba. A entrada é gratuita e o evento é promovido pela ONG Espaço Múltiplo.
Na programação haverá dois ciclos de conversas com os convidados: participam dos ciclos os escritores Roberto Menezes, Roberto Denser, Bruno Gaudêncio, Jairo César, Débora Ferraz, Cyelle Carmem, Laís Lima, Rafael Venâncio, Valmir Neves, Mayara Almeida, Renálide Carvalho, Risemir Santos, Siéllysson Francisco, Wallysson Souza, Christiane Souza e Martha Falcão.
Dividindo os dois ciclos, haverá uma performace poética encenada por Renálide Carvalho. Segundo Sandra Alves, da ONG Espaço Múltiplo, o encontro tem por finalidade formar uma rede de aproximação entre escritores de diversos municípios e deles com leitores, bem como a circulação das obras de cada participante.
(Jornal da Paraíba, Caderno 2, sábado,30 de novembro de 2013)

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Homenagem ao Prof. Siéllysson no JPB - TV Cabo Branco



No dia 15 de outubro de 2013 houve um encontro meu com ex-alunos no Centro de Santa Rita para gravação de uma matéria da TV Cabo Branco, filial da TV Globo na Paráiba, com objetivo de comemorar o dia dos professores. A homenagem foi para mim, porque a produção buscava um professor que mantinha um bom relacionamento com seus ex-alunos. Um dia antes a produção do telejornal me ligou avisando que tinham uma pauta aberta que seria falar de um professor que tivesse uma boa relação com ex-alunos. Então uma estagiária que foi minha aluna citou a mim e a produção me ligou; marcamos a filmagem às 14:30 no Cento da cidade de Santa Rita, mas precisamente na Praça Getúlio Vargas. Fiquei feliz pela homenagem e pela cidade está sendo citada com algo de bom, pois leciono desde 2001 aqui. O resultado foi ao ar no jornal JPB 2ª edição no mesmo dia. Vejam acima.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Entrevista com o radialista Cleyton Ferrer no Café com Siéllysson








Entrevista 25














Ele é documentarista, músico, radialista, cantou em um coral da UFPB, no mosteiro católico, emociona as cerimônias com sua linda voz e seu canto em latim, impressiona tocando castanholas enquanto se deleita em músicas espanholas, causou polêmica na rádio ao ser comentarista. Cleyton Ferrer é um artista completo. Conheça agora um pouco da sua trajetória.






SIÉLLYSSON - Quando você começou a cantar, a se interessar verdadeiramente pela música?


CLEYTON FERRER - Desde criança, quando eu participava de igreja, era coroinha e aos poucos, timidamente, fui cantando aqui e ali, entoando um salmo, cantando um evangelho, e aí fui me descobrindo; aliás, as pessoas foram me descobrindo, porque eu não gostava da minha voz, mas as pessoas gostavam e começaram a pedir pra eu cantar. Sempre que tinha uma missa me convidavam, me citavam, e eu prontamente atendia. Então, ainda nesta fase, na Igreja Católica, eu fiz parte de um grupo de jovens chamado Shalom, - que existe até hoje -, fiz parte justamente do ministério de música cantando, depois fiquei sabendo de uma seleção para o Coral Universitário Gazzi de Sá da UFPB, fiquei sabendo desta seleção no último dia à tarde, o teste seria à noite, de Santa Rita fomos 4 pessoas, só quem ficou fui eu, os outros já tinham experiência com coral, passei dois anos nesse coral, isso foi em 1996. Mais pra frente, em 1999, fui ser monge em um Mosteiro na Bahia, e tive a oportunidade de ter contato com o Canto Gregoriano, que tem sua técnica vocal própria, e só fez acrescentar ainda mais nos meus conhecimentos técnicos de música. Quando voltei da Bahia, conheci a cantora lírica Amarilis de Rebuá, na Fundação Espaço Cultural da Paraíba, que tinha aberto inscrições para o Núcleo de Ópera, onde fiz o teste e passei, e fiquei um ano neste grupo, onde pudemos apresentar em "Presto Ópera", Presto Ópera são pedaços de várias óperas cantados em um espetáculo, dentre eles, A Flauta Mágica de Mozart, onde eu interpretei o personagem "Papagueno" que é interpretado por Barítonos. Nesse interino conheci o violonista Rinaldo Vitorinni, [Já entrevistado nesta seção] que é Santaritense e demos início à nossa carreira profissional...






SIÉLLYSSON - É justamente sobre essa carreira que quero perguntar. Você cantou com Rinaldo Vitorinni durante vários anos na noite, como foi essa experiência? E por que vocês não levaram a diante?


CLEYTON FERRER - É o seguinte, levar adiante nós levamos até hoje, só que não com a frequência de antes, porque cada um tomou um rumo diferente na vida. Quando eu comecei a cantar com Rinaldo me acompanhando, eu não cantava profissionalmente ainda, cantava na Igreja, etc, mas não profissionalmente, e Rinaldo estava dando seus primeiros acordes, então tinha aberto um shopping em Santa Rita, e o pessoal que já me conhecia de ouvir cantar na igreja então me perguntaram se eu gostaria de cantar MPB, então eu e Rinaldo aceitamos o desafio, com todas as dificuldades de iniciantes. Faz dez anos que cantamos juntos, já cantamos em todos os bares da orla de João Pessoa e até de Carapibus. Hoje não fazemos mais barzinho por uma questão de logística e também de valorização profissional. Na minha opinião os músicos quando tocam em barzinhos, infelizmente são tratados como uma simples peça de decoração, estão ali tão somente compondo um espaço como um rádio qualquer, é assim que muitos nos tratam, as pessoas conversam alto, não aplaudem, não prestam atenção na música, e como eu sou intérprete, não canto por cantar, eu vivo a música que eu canto, por exemplo se eu cantar uma música de Gonzaguinha eu me acabo por dentro, se eu cantar alguma de João Bosco chego à um orgasmo transcendental, um êxtase interno, e você cantar dando tudo de si naquele sentimento, quando terminar as pessoas todas conversando, nenhum aplauso, garçons pra cima e para baixo e o dono do bar contando dinheiro, bêbados perturbando, etc, é triste! Isso foi bom no sentido de eu considerar um ensaio aberto, mas não um show ou apresentação, foi então que conheci a ONG Encumbe, que hoje faço parte, e teve um Sarau, a Encumbe sempre faz Saraus, e fizemos uma participação com a cantora Ceiça Farias, a partir então da oportunidade da Encumbe, pudemos sentir o verdadeiro gosto da valorização como artista, pois estávamos ali contratados para isso, e as pessoas que vão estão para te ouvir, para te ver, pagando para te ouvir cantar, e a primeira vez que tive esse gosto se deu pelo trabalho importantíssimo que a Encumbe faz na valorização dos artistas locais. Então, Rinaldo fez faculdade de Artes, passou uma temporada em São Paulo se apresentando em casas importantes como o SESC Pompéia; eu fiz o bacharelado em Comunicação Social, com habilitação em Rádio e TV, que também tem haver com arte, é uma arte na verdade, e uni o útil ao agradável, rádio para mim não é trabalho, é um deleite, porque estar ali noticiando, ouvindo e proporcionando aos ouvintes ouvirem boa música, fazendo o que gosta, é um deleite, então, por isso que cada um seguiu um rumo, mas até hoje, qualquer contrato que aparece, qualquer oportunidade, eu priorizo Rinaldo, só se ele não puder de fato é que procuro outra pessoa, mas priorizo ele, e sempre estamos tocando juntos.






SIÉLLYSSON - Eu já pude assistir alguns dos seus shows, e você canta: Música francesa, música italiana, espanhola também, já vi em casamentos você cantando em latim, de onde vem essa técnica, você estudou realmente outro idioma ou é facilidade pela sonoridade, de cantar em outros idiomas?


CLEYTON FERRER - Veja bem, com relação a isto eu quero a oportunidade nessa entrevista para tirar o chapéu, ou bater cabeça como dizemos no Candomblé, para uma figura santaritense ilustre que é o professor Odaleno Marinho Falcão. Eu sou funcionário público da Prefeitura Municipal de Santa Rita há mais de 20 anos, desde 1989, e fui trabalhar na Secretaria de Educação, ainda adolescente, eu era Office-Boy do Departamento de Pessoal, onde Odaleno era Chefe de Setor. Odaleno é uma figura cultíssima, gosta de boa música, de todos os países, sobretudo Espanha e México, boas literaturas, teologia, é professor de línguas, eu aprendi espanhol com ele, e aprendi com ele também a gostar de boa música. Na época ele levava seu gravador e fitas K-7 para o setor, e tocava músicas francesas, italianas, mexicanas, etc, eu pedia estas fitas emprestadas, e como não existia internet na época, vejam que não sou tão jovem (risos), mas também não sou tão velho, eu ia à biblioteca pesquisar a tradução dessas músicas em dicionários, ele me emprestava também, então percebi que eu tinha facilidade na pronúncia e na assimilação das palavras em outros idiomas. Quando eu fui ser monge, além de ter o contato e aulas de latim, também tive a oportunidade de conviver com padres Austríacos, falavam alemão entre eles. Não vou lhe dizer que sei falar inglês, francês, italiano, alemão etc, o que eu sei um pouco é espanhol, porque fiz o primeiro estágio com Odaleno, as demais línguas tenho facilidade de ouvir e falar com a sonoridade, por isso canto em diversos idiomas, os que eu não tiver cantado ainda é só me provocarem que vou atrás e dou conta. (risos).






SIÉLLYSSON - Interessante você citou essa questão do mosteiro, foi monge católico, e hoje você é de uma Religião de Matriz Africana, como se deu essa mudança?


CLEYTON FERRER - Aaaaa. Este é um assunto que eu faço questão de falar em diversas oportunidades, porque não são sós os evangélicos que tem testemunho de vida para dar, como também não são sós os católicos carismáticos que dão testemunho. Eu acredito que todas as pessoas de diversas religiões: Budismo, Hinduísmo, Xamanismo, Judeus, Muçulmanos, etc, acredito que todos que professam um credo religioso, ou não, tem também os ateus que não professam credo algum e devem ser respeitados pelos seus pensamentos, acredito que cada um deva dar seu testemunho dentro da sua realidade, não podemos fazer escolhas e nos esquivar ou ter vergonha. A questão do Candomblé foi a seguinte, eu passei um ano na Bahia, foco do Candomblé no Brasil, sendo monge, só que não conheci nenhum terreiro naquela época lá, e nem tinha interesse em conhecer, só que, um belo dia, Professor Valdir Lima, fundador e membro da ONG Encumbe, quando eu estava terminando meu bacharelado em Comunicação e fazendo um documentário sobre os artistas de Santa Rita, Valdir me convidou para fazer um outro documentário sobre a vida da Yalorixá mais antiga da cidade de Santa Rita, Mãe Rita Preta, que mora no Bairro da Santa Cruz, e na preparação para o segundo documentário Valdir me preparou, perguntou se eu teria medo de entrar na casa religiosa, etc, mas para mim fui com sede ao pote, pois estava me formando comunicólogo e a sede pela notícia e a paixão pelo documentário me impulsionaram ainda mais, só lhe digo o seguinte, quando chegamos lá que vi aquela senhora com mais de 70 anos de idade, negra, pés descalços, aparência forte, uma Rainha Nagô com todo o seu porte régio, naquela casa simples que é o terreiro, quando pus meus dois pés lá dentro, descalço em respeito ao solo sagrado que estávamos pisando, a sensação e emoção interna que tive, foi de um filho que estava perdido há 50 anos e houvera reencontrado a casa dos pais, então, quando aquela mulher começou a contar a sua história de vida, a forma com a qual conduzia sua religião, que no caso é a Umbanda, aquela entrevista me emocionou de tal forma, porque sem eu tirar nenhuma dúvida preconceituosa, porque todo ser humano tem, é inegável o preconceito intrínseco ao ser humano, e também não vou condenar ninguém porque pré-conceito é a falta de conhecimento, o que vem antes do conceito, agora, aqueles(as) que mesmo depois de terem o conceito, de conhecerem de fato sobre determinada temática e permanecem preconceituosos, estes são burros, são xucros, aí não é mais preconceito, é burrice, é "Xucração", é "Xucridade" (risos mútuos), então, todos os meus paradigmas, preconceitos, dúvidas, foram sendo dirimidas e fui percebendo a beleza e riqueza teológica, histórica e litúrgica que tem essas religiões que nada mais são do que o culto à Deus, e reverência as suas formas de manifestações presentes na natureza, o vento, a água, o fogo, o ar, a terra, nada mais é do que isso, na partilha do "Ajeum" que é o alimento, na doação que é o cuidar do outro, as religiões afro são religiões que cuidam do outro, então conheci as religiões afro através do meu trabalho como documentarista, conheci primeiro a Umbanda, depois o Candomblé, onde seu culto aos Orixás remontam de mais de 8.000 anos antes de Cristo.






SIÉLLYSSON - Por falar nessa questão de documentários, que você fez sobre Mãe Rita, você enveredou para o lado dos documentários, produziu alguns que estão disponíveis na internet, esse sobre Mãe Rita foi o que mais lhe emocionou, foi o que você mais gostou de ter feito?


CLEYTON FERRER - Não. Cada documentário que tive a oportunidade de fazer, - inclusive tenho alguns outros ainda em projetos -, cada um é como um filho que nasce. Às vezes os pais têm predileções por um filho ou por outro ao longo da vida, mas todo filho assim que nasce é predileto naquele momento, então, para mim, a emoção de cada um é essa emoção paterna, porque o Bacharelado em Comunicação, em especial Rádio e TV, te dá várias oportunidades de apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso além da tradicional Monografia. Pode ser um documentário, reportagem, programa de rádio ou TV, ensaio, artigo, documentário radiofônico, filme, seriado, novela, interprograma, comercial de rádio e TV, tudo acompanhado da parte teórica, então, quando assisti meu primeiro documentário na sala de aula que foi "Ilha das Flores", como dizem nas mídias sociais: "Só os fortes entendem", quando assisti esse documentário me emocionei e pensei que se quis fazer outra coisa desconheço. Sou documentarista convicto e apaixonado, posso até fazer outras coisas, claro, dependendo das oportunidades que a vida der, mas minha predileção é pelo documentário.






SIÉLLYSSON - Você também se envolveu com programas de rádio, iniciou na Rádio Sanhauá como comentarista, e agora apresenta outro programa totalmente diferente. Das duas experiências, com qual você se identifica mais?


CLEYTON FERRER - Como no documentário, eu me identifico mais com o que tende para os meus gostos pessoais, que são pela MPB e World Music. O trabalho na Rádio Sanhauá, a qual eu também tiro meu chapéu para esta emissora, quero que fique registrado aqui, Rádio Sanhauá 1280 kz AM, João Pessoa, Paraíba, pois esta rádio é uma escola, assim como a Tabajara que é estatal, mas a Sanhauá é privada, é uma escola do rádio paraibano, eu diria até da radiofonia Brasileira, pois grandes nomes do nosso rádio, grandes locutores, apresentadores, comentarista, repórteres, operadores de áudio, etc., começaram na Rádio Sanhauá. Certa feita, Marcos Moura, que é operador de áudio da Rádio Sanhauá, também muito antigo e muito conhecido, disse-me uma frase quando um ouvinte ligou, tentando desqualificar a rádio por ser AM, porque AM nada mais é do que Frequência Modulada, ou Amplitude Média, é uma rádio que vai além da FM, porque o sinal da FM é retilíneo e o da AM sobe depois desce, alcança onde a FM não consegue, Marcos Moura disse: "Só não gosta de AM quem não sabe o que é rádio". E eu também passei a gostar de rádio, por incrível que pareça, com o Professor Odaleno também, pois o mesmo levava para o trabalho um rádio de Ondas Curtas que pegava rádios do mundo todo como: Radio Exterior da Espanha, BBC de Londres, Rádio Deutsche Welle da Alemanha, etc, e a rádio AM está intrínseca no imaginário coletivo dos Paraibanos, pois, na minha infância não existia rádio FM, as rádios que tinham eram AM e eram: Sanhauá, Tabajara, Arapuan e Rádio Correio, até o meu amigo Professor Valdir me dizia que era uma maravilha começar na AM porque estava se começando na base, no alicerce, e as rádios AM têm seu público fiel, os ouvintes da Sanhauá por exemplo, são aqueles que acordam e já ligam o rádio naquela emissora e só desligam quando vão dormir, passam o dia inteiro ouvindo aquela emissora, assim são os ouvintes de AM, então, recentemente fui convidado, graças à minha atuação na AM, para trabalhar na rádio Cabo Branco FM, o que para mim não é trabalho é deleite, passar 4 horas em um estúdio de rádio ouvindo só coisa fina, então, depois desse rodeio todo, respondendo sua pergunta, programas políticos, de entrevista, não são a minha praia, claro que como profissional nas oportunidades que tem o faço com profissionalismo e qualidade, porém, minha preferência são por programas musicais, culturais, artísticos, etc.






SIÉLLYSSON - Você é um artista que se envolveu na rádio, consequentemente, na política. Arrepende-se disso?


CLEYTON FERRER - De forma alguma. Eu me arrependo de não ter me envolvido na política antes, porque, para mim um ser humano que não é envolvido na política é um ser alienado. Às vezes quando não é alienado, eu diria "inocente", porque, a partir do momento em que ele vai ao supermercado, e reclama pelo preço do quilo do feijão, ele está fazendo política, pois muitas vezes a pessoa que diz que não gosta de política, é aquela que reclama quando o prefeito, governador, deputados, vereadores, presidente, etc., cometem fraude, não cumprem com suas promessas políticas, deixam de ouvir a população, ou se fazem de rogados. Qual é o erro dos que reclamam, é que reclamam para o vizinho, para o parente, para o amigo, não vão para os espaços de poder reclamar, na porta de quem elegeram para puxar-lhes as orelhas, se todo ser humano tivesse a consciência política de reivindicar nos espaços de poder daqueles que são seus subordinados e empregados, que são os políticos, teríamos mais políticos comprometidos com a população, agora, a política que eu gosto e me identifico é essa, das reivindicações por políticas públicas, das políticas de conquista, da militância social, etc., não gosto da política partidária, porque muitas vezes acontecem decepções, traições, mentiras, enganações, diferente da militância em que muitos lutam por uma causa e não pelos seus bolsos. Por isso que quem pensar que não sou político, sou técnico, está redondamente enganado porque não imagina o que se passa nos bastidores da militância, só não quero cargos eletivos, como ser vereador ou qualquer outra desgraça dessas, minha militância é por políticas públicas.






SIÉLLYSSON - Você é um artista que transitou por: Barzinhos, casas de shows, igrejas, saraus, rádios, documentários, televisão, etc. Qual o conselho que você daria hoje para um artista que quer iniciar e desenvolver seu lado artístico?


CLEYTON FERRER - O conselho que eu dou é um só: Se qualifique! Se quiser ser um bom profissional procure se qualificar. No caso de querer ser amador, não tem problema, é uma opção sua, por exemplo, a pessoa que tem o dom de tocar violão e não quer seguir a profissão de músico, é uma opção pessoal, mas se quer realmente entrar no mercado de trabalho, porque arte é trabalho como qualquer outro, não peçam a nenhum artista para se apresentarem de graça, nenhum, porque são profissionais como qualquer outro e investem nas suas formações, o mercado está cada dia mais exigente e consumista, se você não se qualificar, pode ter certeza que na sua frente tem alguém se qualificando e dando passos mais além. Não acredito que ninguém tome o espaço de ninguém, cada um tem seu espaço devidamente conquistado, agora, existem espaços que estão vacantes, a procura de quem o preencha, e com certeza, aqueles (as) que se qualificarem tem muito mais chances de ocupá-los. Se qualifiquem e façam o que gostam, não caia nessa de fazer só uma coisa, faça o que gosta se sabe fazer duas coisas que faça se sabe fazer dez, faça, contanto que tenha sua especialidade e faça o que gosta, com dignidade.






Esta matéria foi publicada pela primeira vez em

21 março 2013 às 01:32

domingo, 6 de outubro de 2013

Entrevista com a produtora Sandra Alves para o Café com Siéllysson



Entrevista - 24



Ela criou em sua casa um espaço para reunir artistas santarritenses chamou de “Espaço Múltiplo”. Seu nome foi cogitado para o Prêmio Dom Oscar Romero de Direitos Humanos em 2010 por seu compromisso na valorização da cidade de Santa Rita, na contribuição para organização de mulheres, entre outras funções na valorização da dignidade humana. Ela estimula vários movimentos inovadores, participou da formação do Conselho de Cultura do município, é dona de uma simplicidade ímpar; deixou a psicologia pela assessoria, como ela mesma disse: "pra que resolver um problema de um quando o problema é social? Dediquei-me ao coletivo". O nome da heroína é? Sandra Alves.


Não entendia o porquê que ela não aceitava a entrevista comigo, dizia que era um grande grupo o Espaço Múltiplo, espaço este que foi criado pela mesma, mas que ela nunca disse isso pra mim. Percebi na entrevista o quanto ela é humilde e se ver de forma coletiva, como eu nunca vi antes em ninguém. Depois de muita insistência ela aceitou dar a entrevista. Marco às 9 da manhã de um sábado no Espaço que ela transformou num templo da Cultura; chego atrasado, ela me convida para um café, penso que em não incomodá-la sem saber que havia preparado um verdadeiro banquete para mim, só dei conta disso próximo a minha saída, fico maravilhado com a delicadeza dela. Sentamos e mais outro longo papo que vocês não terão acesso. (risos) Mas a entrevista cheia de emoção sim, com essa monja da cultura vocês vão conferir agora.

SIÉLLYSSON - Há quanto tempo você é envolvida com as artes?

SANDRA ALVES - Desde os primeiros anos de vida mesmo, pois eu nasci ao lado de um clube, então isso já me proporcionou convivências, sempre escutar músicas, ver realizações de festas, aí fui me alimentando ao longo do tempo. Isso para mim é uma festa natural, está discutindo, convivendo, participando do está assistindo arte, traduzido em cultura, para mim é muito natural. Não é uma coisa que tenha como demarcar início, ano, tempo. Pra mim é uma coisa bem natural, no sentido de está sempre convivendo com isso...

SIÉLLYSSON - É como religião?

SANDRA ALVES - Não. Eu acho que religião nela teve um início, [Ela fala para si mesma] até você se perceber dentro de um processo religioso, dentro de uma comunidade religiosa e você desenvolve essas práticas religiosas... diferente um pouquinho das artes, a religião tem um marco. Eu consigo demarcar quanto passei a entrar nesse processo religioso, em ano e tempo. Mas, essa questão de arte não. Acho que arte a gente já faz desde pequenino, desde criança.

SIÉLLYSSON - Há quanto tempo existe Espaço Múltiplo? E de quem foi a ideia original?

SANDRA ALVES - O Espaço Múltiplo completou agora em 14 de novembro de 2012 dez anos. Na verdade, ele surgiu de uma necessidade minha de está em Tibiri [bairro], de está em Santa Rita e ter um local onde eu conseguisse conversar sobre arte, perceber a arte, agregar esses artistas, porque eu estava vindo de João Pessoa e lá eu tinha essa convivência, essa proximidade de ter grupo, de conversar e de construir algumas coisas. Aí quando vim morar em Tibiri I,I em 2000, vi que não tinha esses grupos. Até tinha, mas que eles não estavam próximos. Então, quando sai do trabalho pensei em construir um lugar onde eu pudesse trabalhar e também ter essa convivência, foi aí que construiu Espaço Múltiplo. A gente tinha e ainda tem a proposta de trabalhar Educação, Cultura e Meio Ambiente, aos poucos as coisas foram se agregando, se construindo. Hoje, a gente não tem mais o Espaço Múltiplo que a gente teve no começo porque no início era uma opção de trabalho, hoje não é mais uma opção de trabalho, é... (risos entre lágrimas) hoje já nem sei mais o que é o Espaço Múltiplo não sei se é um movimento, uma ação onde a gente constrói, conversa, realiza até um dia em que ela se transformou em ONG documentada para a gente ter acesso garantido ao Conselho de Cultura, a ter acesso a outros espaços que nos fazem essas exigências. Na verdade, o Espaço Múltiplo não perdeu a essência que é voltar-se para Educação, Cultura e Meio Ambiente. Mas ele se transformou noutra coisa. E hoje o Espaço Múltiplo não é mais meu, eu sou uma parte desse processo, mas não o vejo mais como meu, como foi no início. Foi investimento pessoal, era uma opção de trabalho mas hoje já não é mais, hoje é bem diferente.

SIÉLLYSSON - - Quais foram os trabalhos mais significativos desenvolvidos pelo “Espaço múltiplo”?

SANDRA ALVES - A primeira ação de meio ambiente foi à arborização da Praça Centenária em 04 de abril de 2013, foi uma proposta nossa que conseguia agregar a comunidade e fazer a arborização, já que a praça só tinha uma mangueira. Pensamos: “Vamos fazer de forma diferente e de espaço de vivência para a comunidade”. Tudo foi construído na base da conversa, do diálogo dentro do Espaço múltiplo. Dentro dessa questão de meio Ambiente ainda tem a Caravana Ecológica, a gente foi com um grupo para Cruz do Espírito Santo, para conhecer o meio ambiente, fizemos caminhada na Mata do Xexém, visita ao à Jardim Botânico, para a gente trabalhar a questão da Educação se perceber como agente ambiental; visita ao “Barriga Cheia” aqui em santa Rita, a Mata do Heitel e a caverna. Tivemos também a participação na Conferência Municipal Congresso de Meio Ambiente que foi uma aprendizagem muito rica. Temos um diálogo com a Associação Cooperativa dos Catadores de Marcos Moura que é o COOREMM, onde a gente faz a coleta de material e repassa para eles. Produção de sabão a partir da reutilização de óleos, então, tudo isso são práticas que pra a gente são pontuais e são construtivas. Na parte educativa, ela se dá nessa conversa entre meio-ambiente e cultura. Na questão cultural, a gente tem feito ações, como: A Noite Augustiana (Poesia); conversa com o movimento de Rock onde a gente fez parceria durante três anos com o Território Alternativo juntamente com o grupo MCA - Movimento de Cultura Alternativa, com objetivo de agregar artistas no momento em que eles vão precisando. Eu diria que o Espaço Múltiplo não um órgão executor, mas um espaço que agrega e constrói.
A gente teve participação no FESTATY-Festival de Teatro Amador de Tibiri, agora a gente tem uma “conversa” com o Território Resistente que é uma continuidade de um segmento de rock.
A outra coisa também efetiva é a participação no Conselho de Cultura onde a gente tem participação, lutando por políticas que precisam ser validadas, para que a cultura tenha seu espaço garantindo, que a gente não tenha que recorrer a terceiros.
A gente tem também um diálogo muito bom com o Memorial Augusto dos Anjos, A Casa de Cultura Lauro Pires Xavier, em João Pessoa. Tentamos dialogar com outros espaços, para que o Espaço múltiplo não seja só uma gotinha, mas que ela vá tomando um corpo maior.São tantas coisas que a gente vai construindo... Fizemos conferências, saraus. Acho que ação cultural se dá até mesmo por meio de uma conversa.
Na parte audiovisual, fizemos um apoio a Glaúcio Souza no desejo de Construir Tibiri – Caderno II, onde fala sobre esse movimento cultural de Tibiri e em prol desse movimento. Construímos com Glaúcio o documentário “Essas Senhoras” e em seguida tivemos “Vasto Mundo” onde esse projeto nasceu aqui dentro do grupo. A gente tem caminhado com dificuldade, mas caminhamos!




Sandra Alves com membros e parceiros do Rock em Tibiri II, Acervo do Espaço Múltiplo disponível na internet/2013

SIÉLLYSSON - - Como você analisa a conjuntura cultural da cidade de Santa Rita?

SANDRA ALVES - A conjuntura atual é resultado de uma ausência de cultura, de políticas públicas no município. A gente percebe que ao longo do tempo a cultura ficou esquecida, ficou no recanto. Aí, Santa Rita por necessita dessa vivência cultural ela começou a se alimentar de sobras ou migalhas que foram oferecidos em outros espaços, tipo: João Pessoa. A gente ainda não tem isso formado e construído. Então, essa conjuntura é o que ficou de vários anos, de 14 ou 8 anos, mas é o que resistiu, fez-se cultura como resistência. Acredito que essa conjuntura ainda vai ter forma diferenciada onde a gente tem agentes culturais de muitos valores, de muita consciência do que precisa-se fazer. Hoje o município tem um Secretário de Cultura [Valdir Lima] que sabe do compromisso que ele tem e a esperança que essa conjuntura mude que o Sistema Municipal de Cultura realmente aconteça, que a Secretaria com o Plano Municipal de Cultural que foi construído se exerça, que o Fundo Municipal de Incentivo a Cultura que recebe o nome de Heliton Santana seja efetivado para que se garanta a existência da cultura em Santa Rita.

SIÉLLYSSON- Você trabalhou em outras cidades, está presente nos festivais de Artes de João Pessoa. Sabemos que as manifestações culturais aqui em Santa Rita foram definhando durante esses últimos oito anos do governo do prefeito Marcos Odilon. Mesmo assim, vocês do “Espaço múltiplo” continuam com suas atividades voltadas para a cultura bairrista. Qual a importância da cidade de Santa Rita para você? Você não acha que poderia contribuir muito mais em cidades que focalizam e vivem as artes?

SANDRA ALVES - Bem, na questão de trabalhar em outras cidades eu já trabalhei em algumas. Minha experiência profissional começou em Cruz do Espírito Santo que é minha cidade natal, depois estive um bom tempo em João Pessoa, logo após fiz um trabalho autônomo em Santa Rita que foi o que me deu maior capacidade e a proximidade com todos os movimentos. Depois eu voltei pra Cruz do Espírito Santo; então eu vou construindo aonde eu chego, sinto a necessidade de fazer parte do lugar onde estou, pois mesmo não sendo natural de Santa Rita, mas tenho que fazer onde estou. Hoje estou em Santa Rita, mais precisamente em Tibiri II.
Você me diz movimento bairrista, mas é que Tibiri [um dos maiores bairros de Santa Rita]contempla muita coisa; vejo aqui vários movimentos e a gente dialoga com todos eles, com a música, literatura, teatro, dança. A gente tem há 3 anos aqui um o Festival de Dança Ballare, o Espaço Múltiplo faz esse apoio, tem outros festivais como de teatro. Então, tudo isso vai chamando a atenção da gente, vai nos comprometendo nessa necessidade.Eu não sei se poderia fazer mais estando em outro lugar, pois Tibiri me dar essa possibilidade de ter todos esses segmentos onde a gente pode juntar, dialogar e construir juntos. Há anos fizemos o Festival “Acorde Cultural”, onde a gente teve vários ritmos juntos, contamos com a participação de Adeildo Vieira. Então, eu acho que a coisa certa é fazer. As coisas estão aguardando para que seja feita as junções. E quando falo das junções é também nas parcerias das esferas de poder público e sociedade civil também; tudo é uma cooperação das artes e isso se dá de forma muito natural tem sido assim com a gente. E isso não é muito difícil não, viu?! É preciso só dedicação.


Sandra Alves no encontro literário com o historiador Siéllysson para falar sobre a História local, Acervo do autor/2013

SIÉLLYSSON - Você foi convidada para ser assessora do Secretário de Cultura, Valdir Lima, nessa gestão atual. Como você recebeu esse convite? Tinha ideia de que aconteceria essa parceria?

SANDRA ALVES - Esse convite se deu como resultado de uma conivência, de uma construção, de parcerias, de cumplicidade. Essa cumplicidade foi se dando de forma natural durante esses 8 anos, a gente foi partilhando muitas coisas. Não é uma coisa formal, é algo que se deu de forma muito espontânea. Ele sabia de que forma eu poderia colaborar, até onde eu poderia colaborar, então a gente está juntos na construção daquilo que a gente reconhece como necessidade do município, então para mim é bacana poder contribuir. Não sei como a gente vai realmente conseguir [risos leves] mas a intenção é que se faça o melhor.

SIÉLLYSSON- Por que você resistiu tanto a dar essa entrevista? Você resistiu dizendo que o “Espaço Múltiplo” não era só você, que eram muitos e até me propôs uma entrevista coletiva. (risos)

SANDRA ALVES - [Ela rir timidamente] Mas a verdade é essa, o Espaço Múltiplo são também outras pessoas. Quando eu vejo o Espaço Múltiplo não vejo Sandra Alves [Ela fala dela na terceira pessoa] tanto é que eu sugeri juntar em grupo e fazer essa entrevista [ela cita vários nomes de artistas locais], um momento coletivo, mas você fez questão de tirar um pouco mais de mim. (risos) Não foi uma questão de resistências. Têm finais de semanas que a gente tem mais compromissos, eu tenho uma assistência a Cruz do Espírito Santo que eu continuo fazendo, às vezes tudo isso sacrifica um pouquinho. Mas, houve sim um pouquinho de resistência. (risos) Eu me perguntava: “Mas o que eu vou falar?” “O que eu posso falar de importante que possa ser registrado?” [Percebo sua humildade em vários momentos, mas nesse instante fico impressionado, pois todo o trabalho dela em prol da cultura e ela ainda se pergunta o que teria de importante para uma entrevista. Não aguento e lha faço uma pergunta fora do roteiro:]

SIÉLLYSSON - Mas você reconhece que você é uma heroína da cultura resistente?

SANDRA ALVES - Não. (risos entre lágrimas) Não consigo fazer esse reconhecimento. Acho que sou uma colaboradora. Eu consumo cultura. Não acho que se trata de heroína [penso que ela não conseguirá responder, sua emoção vai falhando a voz e as lágrimas descem sequencialmente como em novelas, mas ela resiste mesmo assim e continua, penso em parar, mas sei que muita coisa pode se perder ao cortar a emoção dela] a gente tem vários exemplos de heroísmo que posso citar, como: Ivonaldo Rodrigues, [ator e dono de um teatro em Tibiri II] o pessoal do Território Resiste o que é uma cultura difícil de ser executada; os escritores do município que para escrever e publicar é muito complicado, os músicos que não tem espaço de apresentação, mas produzem seu material. É uma juventude que taí querendo fazer cultura de forma diferenciada, mais atualizada. E assim, se fosse tratar de heróis, a gente tem uma liga.

SIÉLLYSSON - Que conselho você deixa para quem deseja fazer um trabalho com cultura como o seu.

SANDRA ALVES - Faça com satisfação, com prazer. É difícil, mas é possível. Acho que artista algum terá um depoimento pra dizer “Ah, foi tudo muito fácil, eu consegui porque todas as portas se abriram e todos receberam ‘numa boa’ o que eu produzi, não recebi críticas.” Isso não vai acontecer, isso vai fazer parte do processo cultural, até porque a gente tem uma diversidade de entendimentos, de formações. Hoje a globalização oferece muito mais do que a gente pode consumir. As várias influências que a gente recebe termina a gente consumindo o que vem de fora e esquecendo o que a gente tem de bom aqui. A minha mensagem é FAZER e não parem.

Entrevista publicada em 18 março 2013 às 15:28


(Hoje Sandra Alves voltou a assessoria na cidade de Cruz do Espírito Santo, afastou-se da Prefeitura de Santa Rita, mas continua com seu trabalho na ONG Espaço Múltiplo em Tibiri II, mantém-se ativista por políticas públicas nos municípios de Cruz e Santa Rita.)


Entrevista com Rafael Freitas do site Santa Rita em Foco para o Café com Siéllysson








Entrevista 23










Ele é estudante do IFPB, adora fotografias e o mundo virtual, criador do site mais visitado de Santa Rita. Rafael Freitas é mais um santarritense que faz a diferença.





De corpo esguio, movimento preciso, tom de voz educado, assim é o jovem que encontro pela primeira vez para uma entrevista para Seção “Café com Siéllysson”. Conhecia seu trabalho, conversamos semanas pela internet e admirei a capacidade de superação e sua criatividade. Não pensei duas vezes queria-lhe numa entrevista aqui nesse blog; marco no Centro de Santa Rita no Bookafé para um papo acompanhado de um delicioso café. Ele traz em uma pasta todos os materiais produzidos por ele e sua equipe, que somente no final da entrevista me mostrou e mais uma vez fiquei surpreso com a dedicação dele e com os dados estatísticos de visitações do seu site. Aqui uma parte da nossa conversa.






SIÉLLYSSON – De quem foi a ideia de fazer um formativo sobre o bairro de Várzea Nova?


RAFAEL FREITAS - A ideia partiu da insistência de Marcos Lima e do apoio de Ricardo Rosa, a partir daí elaboramos o que deu origem ao que é hoje “Santa Rita em Foco”. Era um informativo impresso, só depois do segundo exemplar foi que nós criamos o site. O site foi criado por mim, na época eu não sabia nada sobre produção de sites. Até hoje não sou nenhum experient no assunto, mas na época eu não tinha nenhuma noção de como construir um site, fui pesquisar, estudar e consegui criá-lo.






SIÉLLYSSON – Por que o seu site foi voltado somente para Várzea Nova?


RAFAEL FREITAS - Nosso site foi criado em 2008. Na época, voltado pra nosso bairro, pois pra mim, trabalhar com Várzea Nova era suficiente, achava que trabalhar com Santa Rita seria demais, algo muito abrangente.






SIÉLLYSSON – Qual era o objetivo do site? Era poder denunciar os problemas para tentar resolvê-los?


RAFAEL FREITAS - Justamente. O objetivo da época era esse e ainda hoje temos esse objetivo mostrar os problemas sociais pra que de alguma forma as pessoas, incluindo autoridades, possam ver e tentar solucionar.






SIÉLLYSSON – Você não acha que expor os problemas, crimes, cria ou fortalece a imagem negativa da cidade?


RAFAEL FREITAS - Traz uma imagem negativa e também muita perseguição. Nós enfrentamos isso. Na época do “Várzea Nova Notícias”, mas depois da transformação do site para abranger Santa Rita como um todo. Como não paramos de mostrar os problemas sociais, fomos perseguidos pela antiga administração de Marcos Odilon. Não foi diretamente pelo gestor, mas por pessoas envolvidas na prefeitura.






SIÉLLYSSON – Vocês conseguiram solucionar algum problema?


RAFAEL FREITAS - Conseguimos. Desde o instinto “Várzea Nova Notícias” lembro que mostrávamos problemas, mas assim que o problema era resolvido mostrávamos a solução do mesmo. Fazíamos o antes e o depois. Lembro-me de uma rua que estava esburacada, mostramos e foi resolvido, mostramos também a resultado. Fazíamos o antes e o depois. Lembro-me de uma quadra de esportes de um colégio estadual que estava caindo aos pedaços, mostramos. E assim, até hoje fazemos esse trabalho.






SIÉLLYSSON – Vocês têm ampliado mostrando realidade de toda cidade...


RAFAEL FREITAS - Sim. Ampliamos. Nossa responsabilidade também de fazer algo como muita qualidade e trazer os problemas de toda cidade. Antes tínhamos colaboradores apenas em Várzea Nova. Hoje temos em muitos bairros da cidade. Nossa meta é ter um editor em cada bairro, responsável pela aquela área pra trazer informações, problemas... Mas, não chegamos ainda nesse objetivo; temos colaboradores quase em todos os bairros, eles não recebem nada, até porque nosso site é de voluntários, mas nosso sonho é ter editores espalhados pela cidade.






SIÉLLYSSON – Vocês são quantos?


RAFAEL FREITAS - Temos seis pessoas na equipe, mas somos quatro os responsáveis diretamente pela produção, somos, Wallyson Sousa, Sandro Barbosa, Thiago Bruno na qualidade de editores, agora tem três colaboradores que tem acesso direto ao sistema, e vários outros colaboradores que colaboram ocasionalmente.






SIÉLLYSSON – Sei que de resolveram alguns problemas sociais, vocês conseguiram resolver problemas de caso de família. Conte-nos.


RAFAEL FREITAS - Na época do “Várzea Nova Notícias”, tínhamos leitores de mais de 126 países e lembro de uma moça que morava no estado do Rio de Janeiro, ela tinha uma família em Várzea Nova. Ela conheceu nosso trabalho, entrou em contato comigo e narrou sua história, que morou em Várzea Nova e que queria rever a família por parte de pai. Fizemos esse encontro só que de forma virtual, ela mandou cartas, e-mails, fotografias. Em contrapartida, fiz gravações da família, digitalizei fotos, peguei o contato de telefone e endereço e repassei pra ela.






SIÉLLYSSON – Você acha que a cidade de Santa Rita falta um site informativo que possa abordar não só os pontos positivos como os problemas sociais?


RAFAEL FREITAS - Eu acredito que o “Santa Rita em Foco” já faz isso muito bem, mas quanto mais sites melhor será. Essa é a ferramenta que temos pra expor esses problemas. Quando surge um site, as pessoas ficam pensando que será um concorrente, nós não temos esse problema, desde a época fazíamos por gostar não fazemos pra ganhar dinheiro, então, pra nós quanto mais sites em Santa Rita melhor pra abrir novas oportunidades quem sabe atingir públicos que ainda não atingirmos.






SIÉLLYSSON – Você tem planos para abordar toda a Paraíba? Quais são os planos de vocês organizadores do site?


Já chegou momentos em que parei, pensei em criar um site em nível de Paraíba, mas não vamos fazer isso porque o “Santa Rita em Foco” já trabalha em níveis estaduais também, não nos prendemos somente a Santa Rita. Já existem sites em níveis de Paraíba tão bons que não temos necessidade de abranger, o que queremos é dar continuidade ao “Santa Rita em Foco” e continuar crescendo da forma que está acontecendo.






SIÉLLYSSON – Que conselho você deixa para jovens que queiram fazer um trabalho parecido com o de vocês, um trabalho social, um trabalho de informação.


RAFAEL FREITAS - Tem que trabalhar bastante. Criar uma página e deixar lá parada não é atrativo. Já acompanhei o surgimento e o desaparecimento de alguns sites por falta de dedicação. Então, se dediquem bastante, façam bem feito, tragam o máximo de notícias. Tenham dedicação.






SIÉLLYSSON – O que você espera da nova administração (Reginaldo Pereira)?


RAFAEL FREITAS - Em relação à cidade eu espero que mude muita coisa porque vivemos um tempo de caos total na cidade. Quem mora aqui sabe por que sentiu na pele tudo isso. Espero que consiga resolver os problemas que a gestão anterior deixou, e no momento que seja resolvido os problemas da gestão passada, possamos evoluir também; em termo de infra-estruturar, esporte, cultura e educação que é tão importante. Então, no princípio estabilizar tudo o que a administração anterior deixou e a partir daí evoluir. Já em relação ao portal esperamos ter um apoio da prefeitura, como forma de incentivo e valorização ao nosso trabalho, para que nós possamos melhorar, ampliar e modernizar cada dia mais o nosso site.






Matéria publicada em

29 janeiro 2013 01:37 (terça feira)

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Entrevista com o Jovem Secretário Bilíngue Flávio Lopes para o Café com Siéllysson



Entrevista 22 – Parte I



Secretário Bilíngue de uma multinacional na Alemanha, intérprete de eventos em Berlim, trabalhou em algumas letras musicais para o cantor Édson Cordeiro. “Café com Siéllysson” entrevista mais um santa-ritense que faz a diferença,  
Flávio Lopes.

Chego atrasado cerca de cinco minutos como todo bom brasileiro, ele já se encontrava no lugar marcado com minutos de antecedência como todo “bom europeu”. O mesmo riso largo do passado do garoto de 13 anos atrás. Algumas vezes parou a entrevista para rir e dizer: “Parece que nos vimos ontem e resolvemos continuar a conversa hoje” Disse-lhe:“É Flávio, parece que o tempo não passou porque continuamos os mesmos, mudamos apenas com as experiências da vida, mas nossa essência é a mesma.” tive a certeza de que o jovem santa-ritense continuava o mesmo humilde por natureza.  Assim, em um papo que durou horas gravamos nossa entrevista que vocês terão acesso em duas partes. Na primeira, ele fala das experiências como tradutor e intérprete na Alemanha. Na segunda parte, ele fala sobre o Brasil e Alemanha como pátrias, música brasileira na Alemanha e sua amizade com o cantor Édson Cordeiro que hoje vive em Berlim.

SIÉLLYSSON – Vamos iniciar nosso papo falando sobre sua atividade de tradutor na Alemanha. Você estava lá há quanto tempo? Quando começou a desempenhar a função de tradutor?
FLÁVIO - Eu fui para Alemanha com o intuito de aprender melhor a língua, depois de mais ou menos dois anos que eu tinha começado um curso de secretário bilíngue, eu já não estava mais na cidade onde fui morar nem com a família onde morava inicialmente, depois que terminei o curso me inscrevi numa prova e passei para trabalhar em Berlim. Em “Nuremberg” quando morava lá eu fazia tradução para polícia; quando tinha brasileiros ou portugueses envolvidos com situações complicadas ou furtos (risos), a polícia me chamava, porque meu nome estava escrito lá para fazer traduções. Eu também fui para uns fóruns quando houve um julgamento de um rapaz de Moçambique, eu fui lá fazer a tradução dele diante do julgamento.
SIÉLLYSSON – Você trabalhou como tradutor para o cantor Edson Cordeiro, como se deu esse contato?
FLÁVIO - Essa questão de trabalhar com gente famosa, como Édson Cordeiro, foi por questão de amizade. Um amigo meu, que é de João Pessoa que também mora em Berlim ligou para mim “Flávio tem uma pessoa que você podia conhecer, essa pessoa se chama Edson Cordeiro, que é um cantor do Brasil”. E a gente começou a se encontrar. Quando fui encontrá-lo achei que seria uma pessoa super chata, mas, depois de umas semanas a gente foi se encontrando e tomávamos café juntos à tarde e ele me disse: “Flávio, eu estou para cantar umas músicas em alemão. Talvez você possa me ajudar com a letra”. Daí eu passei a ajudá-lo, passei a letra em alemão para ele cantar, hoje ele canta em alemão letras que trabalhamos juntos.
Eu fiz também trabalho para feiras internacionais em Frankfurt que até hoje faço. Eu tiro alguns dias de férias e faço um trabalho de tradução para empresas de vidro, que pertence ao Sindicato de Fabricantes de Vidro em São Paulo.
SIÉLLYSSON – As traduções são escritas ou orais?
FLÁVIO - São orais mesmo. Eu trabalhei como intérprete e esse trabalho eu faço anualmente, sempre em fevereiro, em cada ano é uma feira de decoração com artigos de vidro. Eu fico lá num stand de 9 empresas paulistas, que no começo foi muito difícil para mim porque os paulistas tratam os paraibanos de uma maneira diferente, com o tempo eu obtive mais respeito deles.
SIÉLLYSSON – Diferente como? Preconceituosa?
FLÁVIO - Com certo preconceito porque eles subestimam “um pouco” a capacidade do paraibano. (Ele prolonga a palavra pouco, como se tentasse amenizar o preconceito, como vi durante nossa entrevista, que ele ameniza as dores, por ser uma pessoa otimista e boa) Eu me lembro que quando comecei lá, eu fui contratado através de uma empresa de Frankfurt, que tinha meu nome porque eu já tinha trabalhado para eles, eu traduzia do português para o alemão. Daí, eles me chamaram para esse evento, que é um evento longo de cinco dias em Frankfurt. E eu tinha que ficar dando assistência de tradução para as 9 firmas de São Paulo. Eu pensei muito antes de ir; pensei: “Eu vou para lá? Um porco no meio do matadouro? Eles vão me triturar lá”
SIÉLLYSSON - Por que você achou isso?
FLÁVIO - Porque eu já conhecia o modo dos paulistas em Berlim. Há uma diferença de está no Brasil e está na Alemanha, o tratamento muda um pouco. Eles são mais rígidos, mais críticos. E foi uma experiência pesada porque você vê o preconceito num país estrangeiro dos próprios brasileiros. Assim quando eu comecei veio a pergunta: “De onde você vem?” Eu disse “Eu sou brasileiro.” “Mas de onde?” eu disse “Eu sou da Paraíba e venho de uma cidade chamada Santa Rita, uma cidade super pequena” “E você veio parar aqui?” Essa foi a pergunta dele (Não especificou a pessoa e segue). Eles se admiraram não foi nem por eu saber alemão, ou falar inglês, mas foi da força de vontade de morar num país distante, mas não só por isso, na desenvoltura que eu tinha com a língua. Eles pensavam no começo que eu só sabia uma língua; eles pensavam que eu só sabia inglês. Eu disse: “Não. Eu moro aqui e falo alemão, as empresas alemãs não se conformam em só ler, se você não sabe alemão você realiza melhores negócios. E a minha função aqui é melhorar o negócio de vocês”. Melhorou muito, Siéllysson, porque vieram muitos visitantes alemães visitar o stand (paulista). Eles viram a importância que era ter uma pessoa que representasse o Brasil, mas que falasse alemão. Os vários problemas que tiveram no stand (...) organizadores da Feira em Frankfurt não sabiam falar inglês, alguns não podiam se comunicar em outra língua só em alemão, para eles me terem como representante deles, como intérprete, foi um papel muito importante. No terceiro dia o respeito foi maior, os paulistanos já não me viam como o paraibano que saiu do interior para outro país. Eles me viam como uma pessoa competente.
SIÉLLYSSON - Teve algo desagradável?
FLÁVIO - Sim. Teve no início comentários desagradáveis como “Paraibanos na sabem de nada”. No início foi difícil porque não foram funcionários de empresa, foram os próprios donos. Eu tive a oportunidade de conhecer industriais, donos de empresas em São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul. Foi uma experiência super boa. Este ano que vem vai ter de novo e eu vou estar.
SIÉLLYSSON - Você acha que essa entrevista pode lhe comprometer?
FLÁVIO - Não. Essa entrevista não me compromete em nada. (risos)
Acredito que eles não tinham a expectativa de ter uma pessoa (intérprete) para eles. Eles tinham uma mentalidade... (pensa) Como se São Paulo é tudo para eles. Perceberam que não é assim. No segundo ano que fui, a segunda empresa que estava lá era de Recife e um dos diretores era de Recife e já tinha vivido cinco anos no Canadá falava francês. Eles (os paulistas) viram o quanto os nordestinos estão em todos os cantos.
Houve visitantes que estiveram por lá e que fizeram o comentário a mim: “Você sabe que tem muitos nordestinos que vivem em São Paulo pra ganhar dinheiro?” e “eu sei.” A resposta que eu dei para eles “O tempo atual os nordestinos querem está fora do Brasil, ocupar outros espaços.”
Eu tive muitas experiências, atendi muita gente do Ceará, do Piauí que estão na Alemanha. Hoje há brasileiros em Universidades na Alemanha, como minha amiga de trabalho que parou o trabalho para estudar medicina lá, e ela é de Fortaleza. Acho que as coisas mudaram um pouco, essa visão do nordeste em si não é mais como 10 anos atrás, que saia daqui e procurava emprego nas regiões mais favorecidas do Brasil.
SIÉLLYSSON - Você sentiu em outros momentos a discriminação por você ser brasileiro, além desse momento inicial?
FLÁVIO - Teve uma situação que aconteceu com um grupo onde eu trabalho. Eu trabalho numa empresa química, na parte de contabilidade – eu trabalho para Portugal, Alemanha e parte da Espanha – então esse grupo (de brasileiros) chegou no começo da semana e me informaram para recepcionar esse grupo de 10 pessoas que vinham de São Paulo. A recepção que eu tive com esse grupo foi de imediato porque eu estava feliz por eles ser um grupo de brasileiros, pessoas que vinham da minha terra. Só que na prática a recepção não foi tão calorosa como eu esperei, pois no primeiro “Bom Dia” que eu dei eu recebi um “não bom Dia” e sim uma pergunta: de onde é que eu vinha do Brasil, eu respondi que vinha de uma cidade pequena chamada Santa Rita e pertence à Paraíba. Foi somente um que fez a pergunta. A pergunta foi com tom de discriminação. Depois a admiração dele “Ah, mas você é paraibano? “Um paraibano aqui em Berlim?” E depois outras perguntas, me questionou se eu sabia alemão e quanto tempo eu estava vivendo na Alemanha; na ideia dele eu morava apenas dois anos, eu falei para ele “Não. Eu moro há 13 anos” Ele se admirou: “Ah, você fala alemão!” Eu disse “Sim, eu falo!” Eu tinha que levá-los aos departamentos da empresa; apresentar cada um e quando eu comecei houve uma certa resistência porque na entrada tinha que usar um crachá e eu falei pra eles que iriam entrar como visitantes, ele não gostou, se achou discriminado, “Não, não. Como pode eu sou da mesma empresa em São Paulo? “No Brasil a empresa é bem maior, a gente é da mesma empresa e lá não precisa pegar nenhuma credencial (crachá)” Respondi: “Bem, aqui na Alemanha tem que ter a credencial pra entrar; tem suas normas, tem que ter a credencial pra entrar”. Ele não aceitou, mas acabou pegando a credencial pra entrar. No percurso que a gente começou a fazer em turismo da empresa, enquanto eu explicava havia sempre umas perguntinhas que não tinham nada haver, como: “Você sabia que existem muitos paraibanos em São Paulo, que vão Pra lá ganhar dinheiro?” “Sim, já ouvi muito, há muitos nordestinos no geral...” Eu falei pra ele: “Nos das de hoje os nordestinos não tem tanta ambição em morar em São Paulo e Rio de Janeiro; a ambição do nordestino se expandiu pra Europa e países de outros continentes.” Aí eu pensei que ele ia se dar por satisfeito, mas não se deu por satisfeito ainda e fez outros comentários, daí eu falei pra ele: “Olha, a empresa aqui tem uma regra interna, são leis internas, um estatuto da empresa na Alemanha que diz que qualquer tipo de discriminação seja por cor, por sexo, por idade ou origem podem ser motivos de demissão. Então quero lhe pedir pra o Senhor se concentrar mais no que estou lhe explicando. O meu intuito aqui não é explicar a origem de quem é paraibano ou quem não é, isso não importante nos dias de hoje; o que todos querem saber é sobre a empresa e não sobre a origem de cada um”. Aí ele se conteve mais, não questionou mais. Acho que ele ficou até com medo, porque a minha chefe na época ficou querendo saber o que o que estava acontecendo, que “bate-boca” era aquele. Eu fiquei o mais calmo possível dentro do profissionalismo, embora por dentro estava fervendo, morrendo de raiva (risos). Acho que o sangue paraibano estava subindo (gargalhadas nossas). Mas, graças a Deus ele parou.
SIÉLLYSSON - E o lado bom de trabalhar como intérprete em empresas, feiras na Alemanha?
FLÁVIO - As pessoas tiveram a oportunidade de mudar a visão, que lá fora não só existe uma classe de pessoas, não só existem paulistas.
O lado positivo para mim é que meu trabalho foi bem aceito. Eu faço trabalho na Feira (Amostra) só pra esse sindicato, já faz cinco anos. Trabalhos extras também aparecem mais esse é o trabalho que mais me marcou como intérprete. É uma coisa que não deixei, continuo fazendo, além do meu trabalho fixo na empresa. Graças a Deus, é um presente do Senhor ter conquistado isso. Pra mim é uma prova do que o esforço vale à pena.
Já tive na época (inicial) pensamento “Acho que não é pra mim” “O que eu to fazendo aqui?” Já tinha surgido muito esse pensamento, mas acho que quando a gente persiste num sonho, mais tarde você vê que vale apenas tentar.


Entrevista 22 - PARTE II



Nesta segunda parte da entrevista com Flávio Lopes, ele fala da emoção de encontrar a cantora Adriana Calcanhoto em Berlim e jantar com ela, sua amizade com o cantor Edson Cordeiro, sua visão sobre o Brasil e Alemanha e revela o que o prende a cidade de Santa Rita.


SIÉLLYSSON - A sua vontade de morar fora do Brasil veio pelo estudo da língua ou por uma identificação com uma cultura não-brasileira, uma cultura europeia?
FLÁVIO - Eu estudava inglês, então pensava que ia parar ou nos Estados Unidos ou  na Inglaterra. Acabei num país que não tem nada há ver com o inglês. Mas, eu sempre me interessei pela história da Alemanha, quando eu estudei a língua me veio o questionamento “Como um país que passou por guerras tão fortes, Primeira e Segunda Guerra Mundial, e mesmo tendo sido destruída em menos de 50 anos esse país se reconstruiu de maneira rápida?” Isso me deu a vontade de conhecê-lo.
O primeiro livro de alemão que peguei foi na Universidade era um livro super velho, acho que era de 1901 ou alguma coisa assim; era um livro didático para estrangeiros, eu consegui por meio de um amigo que me emprestou. Eu comecei estudando em casa a língua e como foi fascinante porque as letras do livro ainda eram em estilo gótico. Tudo isso era fascinante. Mas, o que incentivou a morar fora, não nos Estados Unidos e nem na Inglaterra foi pelo país (Alemanha) ter me fascinar tanto.
SIÉLLYSSON – Você tem uma identificação com Alemanha até porque são 13 anos vividos nela. Qual é a pátria de um estrangeiro, sua origem ou sua identificação?
FLÁVIO - Eu digo que a pátria é onde a gente se sente bem. Para mim, eu seria infiel em dizer que minha pátria é Alemanha, mas seria também um pouco infiel, só um pouquinho, (risos) em dizer que a Alemanha não é minha pátria porque construí uma parte de mim lá. Pátria é onde você construiu parte da sua história, lá construí parte de mim. Tenho uma identificação com eles muito forte e foi lá que terminei uma parte dos meus estudos, consegui meu emprego, meu “ganha pão”, foi lá que consegui uma estabilidade financeira. Tenho meu emprego fixo, tenho meu lugar, meu apartamento. (rir e diz uma graça) Paraibano se sente satisfeito com pouca coisa (rimos juntos) No pouco que conquistei estou feliz!
SIÉLLYSSON - Não é pouco, pois são tantos brasileiros que não têm moradia, emprego, etc.
FLÁVIO - Claro. Digo “pouco” de uma maneira modéstia. Identifico-me também com isso. Vi que o país não me subestimou, ele simplesmente honrou justamente o que cada um sabe, o que você é, o que você adquiriu [ele fala de reconhecimento do estudo] Aquela questão de meritocracia, é o fato de o país honrar aquilo que você mereceu. Lá na Alemanha você não vai pra lá pra conseguir um emprego em qualquer lugar; você tem que ter um motivo para dar pra eles pra que eles te entreguem... (risos). Acho que eles viram em mim algum motivo e eu dou graças a Deus por isso. (rimos)
SIÉLLYSSON - Você acha que no Brasil eles não reconhecem o estudo, o esforço do seu povo?
FLÁVIO - Acho que tem muitos brasileiros que reconhece. Há muita gente boa em nosso país, infelizmente falta questão da meritocracia. Um país que dá uma medalha da Academia de Letras a um jogador. Eu não preciso dizer mais nada? Eu só tenho pena de Machado de Assis (risos). Tanta gente boa na parte da literatura, gente que tem lutado pra melhorar a língua portuguesa... Acho que o Brasil deveria avaliar mais a quem ele dá o mérito. Isso foi algo que acompanhei de fora e me entristeceu muito.
SIÉLLYSSON - Como é visto o Brasil musicalmente na Alemanha?
FLÁVIO - Em relação à música o Brasil é visto e maneira muito positiva na Alemanha. Poderia ser negativa, mas não é, por exemplo: é tido o Brasil como um país alegre em que as pessoas são solidárias demais e isso conta muito pra eles (alemães). O visitante quando chega à Alemanha que diz que é brasileiro é recebido de uma maneira diferente de outros países, por exemplo: o Brasil tem algumas coisas comuns com a Alemanha como o catolicismo, uma parte dela é muito católica também; a parte da música o Tom Jobim, Chico Buarque são muitos conhecidos, a bossa nova é muito conhecida. Você chega a um bar superfino e tá tocando bossa nova. Pra a gente que mora mais tempo na Alemanha, a gente passa a se identificar com um estilo de música que a gente não tinha o hábito de escutar aqui. A música clássica, por exemplo, tem um papel importante, infelizmente no Brasil não é tão cultivada.
Em minha convivência com Edson Cordeiro eu passei a ouvir Don Giovanni, Mozart, porque ele canta tudo isso, então, pra mim, um brasileiro como Edson Cordeiro que é uma referência na música clássica na Alemanha é um orgulho, e não ser “na boquinha da garrafa”. (risos) Sei que o Carnaval é parte da nossa cultura, mas a “boquinha da garrafa” e outras são demais! Quando se fala em Brasil lá, se fala de bossa-nova, “garota de Ipanema”. Em restaurantes que de vez em quando vou está tocando “Garota de Ipanema”.
SIÉLLYSSON - E como foi seu encontro com Adriana Calcanhoto? Você trabalhou como intérprete dela ou tradutor?
FLÁVIO - Como intérprete ou tradutor dela não trabalhei. O encontro com ela aconteceu um tanto “terceirizado”. (riso) Porque eu conheço Edson Cordeiro e a gente foi ver um Show de Adriana Calcanhoto, depois do Show fomos parabenizá-la. Ela nos recebeu super bem e depois do show fomos comer todos juntos, então foi um prazer sentar-me com Edson Cordeiro e Adriana Calcanhoto numa noite muito agradável.
SIÉLLYSSON - Você voltaria hoje para o Brasil?
FLÁVIO - É difícil lhee dizer isso, mas teria que acontecer muitas mudanças no Brasil para que eu pudesse voltar, porque o que me cativa na Alemanha fora meu emprego é questão da segurança. Nós não temos lá assaltos na rua, porque ladrões não roubam civis, eles assaltam bancos, joalherias (...) É exatamente isso que me encanta. A gente sai às 3 horas da madrugada vai pra casa à pé e não acontece nada, isso é o que me fascina, a liberdade que as pessoas têm. Quando os policiais nos encontram na rua “Está fazendo o que agora? Vai pra onde?” Eles te perguntam pra saber se você tá bem, eles lhe dão assistência, politicamente na Alemanha tem maneira diferente de lidar com o cidadão, é mais de preocupação, são mais educados, eles não se deixam se subornar, são super corretos, são rígidos e comprometidos com a lei. Acho que isso tem haver porque são bem pagos.
Na Alemanha ninguém vai roubar seu relógio, coisas que você comprou com tanto suor; isso é o ideal pra mim. No dia em que a segurança no Brasil for boa, com a economia boa eu poderia dizer “É! Agora é hora de voltar.” Não quero morrer na Alemanha.
SIÉLLYSSON - O que te prende à Santa Rita é sua família apenas?
FLÁVIO - Não. É a identificação com o lugar que em que nasci; se um dia eu deixasse de voltar aqui à Paraíba, a Santa Rita seria negar o meu passado. E o ser humano não é feito só de futuro e presente, é de passado também. O que sou hoje, por exemplo, é fruto de um pouco de mim no passado, um pouco de mim no presente. O motivo de voltar não é minha família apenas, são as minhas raízes.

(O restante do que conversamos, relembramos e rimos não ficou gravado em nenhum gravador, mas no nosso coração e nas nossas lembranças que permanecerão para sempre. O meu muito obrigado por esse momento, Flávio)

Entrevista publicada em 10 de outubro de 2012, às 18:11

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