sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Entrevista com o radialista Cleyton Ferrer no Café com Siéllysson








Entrevista 25














Ele é documentarista, músico, radialista, cantou em um coral da UFPB, no mosteiro católico, emociona as cerimônias com sua linda voz e seu canto em latim, impressiona tocando castanholas enquanto se deleita em músicas espanholas, causou polêmica na rádio ao ser comentarista. Cleyton Ferrer é um artista completo. Conheça agora um pouco da sua trajetória.






SIÉLLYSSON - Quando você começou a cantar, a se interessar verdadeiramente pela música?


CLEYTON FERRER - Desde criança, quando eu participava de igreja, era coroinha e aos poucos, timidamente, fui cantando aqui e ali, entoando um salmo, cantando um evangelho, e aí fui me descobrindo; aliás, as pessoas foram me descobrindo, porque eu não gostava da minha voz, mas as pessoas gostavam e começaram a pedir pra eu cantar. Sempre que tinha uma missa me convidavam, me citavam, e eu prontamente atendia. Então, ainda nesta fase, na Igreja Católica, eu fiz parte de um grupo de jovens chamado Shalom, - que existe até hoje -, fiz parte justamente do ministério de música cantando, depois fiquei sabendo de uma seleção para o Coral Universitário Gazzi de Sá da UFPB, fiquei sabendo desta seleção no último dia à tarde, o teste seria à noite, de Santa Rita fomos 4 pessoas, só quem ficou fui eu, os outros já tinham experiência com coral, passei dois anos nesse coral, isso foi em 1996. Mais pra frente, em 1999, fui ser monge em um Mosteiro na Bahia, e tive a oportunidade de ter contato com o Canto Gregoriano, que tem sua técnica vocal própria, e só fez acrescentar ainda mais nos meus conhecimentos técnicos de música. Quando voltei da Bahia, conheci a cantora lírica Amarilis de Rebuá, na Fundação Espaço Cultural da Paraíba, que tinha aberto inscrições para o Núcleo de Ópera, onde fiz o teste e passei, e fiquei um ano neste grupo, onde pudemos apresentar em "Presto Ópera", Presto Ópera são pedaços de várias óperas cantados em um espetáculo, dentre eles, A Flauta Mágica de Mozart, onde eu interpretei o personagem "Papagueno" que é interpretado por Barítonos. Nesse interino conheci o violonista Rinaldo Vitorinni, [Já entrevistado nesta seção] que é Santaritense e demos início à nossa carreira profissional...






SIÉLLYSSON - É justamente sobre essa carreira que quero perguntar. Você cantou com Rinaldo Vitorinni durante vários anos na noite, como foi essa experiência? E por que vocês não levaram a diante?


CLEYTON FERRER - É o seguinte, levar adiante nós levamos até hoje, só que não com a frequência de antes, porque cada um tomou um rumo diferente na vida. Quando eu comecei a cantar com Rinaldo me acompanhando, eu não cantava profissionalmente ainda, cantava na Igreja, etc, mas não profissionalmente, e Rinaldo estava dando seus primeiros acordes, então tinha aberto um shopping em Santa Rita, e o pessoal que já me conhecia de ouvir cantar na igreja então me perguntaram se eu gostaria de cantar MPB, então eu e Rinaldo aceitamos o desafio, com todas as dificuldades de iniciantes. Faz dez anos que cantamos juntos, já cantamos em todos os bares da orla de João Pessoa e até de Carapibus. Hoje não fazemos mais barzinho por uma questão de logística e também de valorização profissional. Na minha opinião os músicos quando tocam em barzinhos, infelizmente são tratados como uma simples peça de decoração, estão ali tão somente compondo um espaço como um rádio qualquer, é assim que muitos nos tratam, as pessoas conversam alto, não aplaudem, não prestam atenção na música, e como eu sou intérprete, não canto por cantar, eu vivo a música que eu canto, por exemplo se eu cantar uma música de Gonzaguinha eu me acabo por dentro, se eu cantar alguma de João Bosco chego à um orgasmo transcendental, um êxtase interno, e você cantar dando tudo de si naquele sentimento, quando terminar as pessoas todas conversando, nenhum aplauso, garçons pra cima e para baixo e o dono do bar contando dinheiro, bêbados perturbando, etc, é triste! Isso foi bom no sentido de eu considerar um ensaio aberto, mas não um show ou apresentação, foi então que conheci a ONG Encumbe, que hoje faço parte, e teve um Sarau, a Encumbe sempre faz Saraus, e fizemos uma participação com a cantora Ceiça Farias, a partir então da oportunidade da Encumbe, pudemos sentir o verdadeiro gosto da valorização como artista, pois estávamos ali contratados para isso, e as pessoas que vão estão para te ouvir, para te ver, pagando para te ouvir cantar, e a primeira vez que tive esse gosto se deu pelo trabalho importantíssimo que a Encumbe faz na valorização dos artistas locais. Então, Rinaldo fez faculdade de Artes, passou uma temporada em São Paulo se apresentando em casas importantes como o SESC Pompéia; eu fiz o bacharelado em Comunicação Social, com habilitação em Rádio e TV, que também tem haver com arte, é uma arte na verdade, e uni o útil ao agradável, rádio para mim não é trabalho, é um deleite, porque estar ali noticiando, ouvindo e proporcionando aos ouvintes ouvirem boa música, fazendo o que gosta, é um deleite, então, por isso que cada um seguiu um rumo, mas até hoje, qualquer contrato que aparece, qualquer oportunidade, eu priorizo Rinaldo, só se ele não puder de fato é que procuro outra pessoa, mas priorizo ele, e sempre estamos tocando juntos.






SIÉLLYSSON - Eu já pude assistir alguns dos seus shows, e você canta: Música francesa, música italiana, espanhola também, já vi em casamentos você cantando em latim, de onde vem essa técnica, você estudou realmente outro idioma ou é facilidade pela sonoridade, de cantar em outros idiomas?


CLEYTON FERRER - Veja bem, com relação a isto eu quero a oportunidade nessa entrevista para tirar o chapéu, ou bater cabeça como dizemos no Candomblé, para uma figura santaritense ilustre que é o professor Odaleno Marinho Falcão. Eu sou funcionário público da Prefeitura Municipal de Santa Rita há mais de 20 anos, desde 1989, e fui trabalhar na Secretaria de Educação, ainda adolescente, eu era Office-Boy do Departamento de Pessoal, onde Odaleno era Chefe de Setor. Odaleno é uma figura cultíssima, gosta de boa música, de todos os países, sobretudo Espanha e México, boas literaturas, teologia, é professor de línguas, eu aprendi espanhol com ele, e aprendi com ele também a gostar de boa música. Na época ele levava seu gravador e fitas K-7 para o setor, e tocava músicas francesas, italianas, mexicanas, etc, eu pedia estas fitas emprestadas, e como não existia internet na época, vejam que não sou tão jovem (risos), mas também não sou tão velho, eu ia à biblioteca pesquisar a tradução dessas músicas em dicionários, ele me emprestava também, então percebi que eu tinha facilidade na pronúncia e na assimilação das palavras em outros idiomas. Quando eu fui ser monge, além de ter o contato e aulas de latim, também tive a oportunidade de conviver com padres Austríacos, falavam alemão entre eles. Não vou lhe dizer que sei falar inglês, francês, italiano, alemão etc, o que eu sei um pouco é espanhol, porque fiz o primeiro estágio com Odaleno, as demais línguas tenho facilidade de ouvir e falar com a sonoridade, por isso canto em diversos idiomas, os que eu não tiver cantado ainda é só me provocarem que vou atrás e dou conta. (risos).






SIÉLLYSSON - Interessante você citou essa questão do mosteiro, foi monge católico, e hoje você é de uma Religião de Matriz Africana, como se deu essa mudança?


CLEYTON FERRER - Aaaaa. Este é um assunto que eu faço questão de falar em diversas oportunidades, porque não são sós os evangélicos que tem testemunho de vida para dar, como também não são sós os católicos carismáticos que dão testemunho. Eu acredito que todas as pessoas de diversas religiões: Budismo, Hinduísmo, Xamanismo, Judeus, Muçulmanos, etc, acredito que todos que professam um credo religioso, ou não, tem também os ateus que não professam credo algum e devem ser respeitados pelos seus pensamentos, acredito que cada um deva dar seu testemunho dentro da sua realidade, não podemos fazer escolhas e nos esquivar ou ter vergonha. A questão do Candomblé foi a seguinte, eu passei um ano na Bahia, foco do Candomblé no Brasil, sendo monge, só que não conheci nenhum terreiro naquela época lá, e nem tinha interesse em conhecer, só que, um belo dia, Professor Valdir Lima, fundador e membro da ONG Encumbe, quando eu estava terminando meu bacharelado em Comunicação e fazendo um documentário sobre os artistas de Santa Rita, Valdir me convidou para fazer um outro documentário sobre a vida da Yalorixá mais antiga da cidade de Santa Rita, Mãe Rita Preta, que mora no Bairro da Santa Cruz, e na preparação para o segundo documentário Valdir me preparou, perguntou se eu teria medo de entrar na casa religiosa, etc, mas para mim fui com sede ao pote, pois estava me formando comunicólogo e a sede pela notícia e a paixão pelo documentário me impulsionaram ainda mais, só lhe digo o seguinte, quando chegamos lá que vi aquela senhora com mais de 70 anos de idade, negra, pés descalços, aparência forte, uma Rainha Nagô com todo o seu porte régio, naquela casa simples que é o terreiro, quando pus meus dois pés lá dentro, descalço em respeito ao solo sagrado que estávamos pisando, a sensação e emoção interna que tive, foi de um filho que estava perdido há 50 anos e houvera reencontrado a casa dos pais, então, quando aquela mulher começou a contar a sua história de vida, a forma com a qual conduzia sua religião, que no caso é a Umbanda, aquela entrevista me emocionou de tal forma, porque sem eu tirar nenhuma dúvida preconceituosa, porque todo ser humano tem, é inegável o preconceito intrínseco ao ser humano, e também não vou condenar ninguém porque pré-conceito é a falta de conhecimento, o que vem antes do conceito, agora, aqueles(as) que mesmo depois de terem o conceito, de conhecerem de fato sobre determinada temática e permanecem preconceituosos, estes são burros, são xucros, aí não é mais preconceito, é burrice, é "Xucração", é "Xucridade" (risos mútuos), então, todos os meus paradigmas, preconceitos, dúvidas, foram sendo dirimidas e fui percebendo a beleza e riqueza teológica, histórica e litúrgica que tem essas religiões que nada mais são do que o culto à Deus, e reverência as suas formas de manifestações presentes na natureza, o vento, a água, o fogo, o ar, a terra, nada mais é do que isso, na partilha do "Ajeum" que é o alimento, na doação que é o cuidar do outro, as religiões afro são religiões que cuidam do outro, então conheci as religiões afro através do meu trabalho como documentarista, conheci primeiro a Umbanda, depois o Candomblé, onde seu culto aos Orixás remontam de mais de 8.000 anos antes de Cristo.






SIÉLLYSSON - Por falar nessa questão de documentários, que você fez sobre Mãe Rita, você enveredou para o lado dos documentários, produziu alguns que estão disponíveis na internet, esse sobre Mãe Rita foi o que mais lhe emocionou, foi o que você mais gostou de ter feito?


CLEYTON FERRER - Não. Cada documentário que tive a oportunidade de fazer, - inclusive tenho alguns outros ainda em projetos -, cada um é como um filho que nasce. Às vezes os pais têm predileções por um filho ou por outro ao longo da vida, mas todo filho assim que nasce é predileto naquele momento, então, para mim, a emoção de cada um é essa emoção paterna, porque o Bacharelado em Comunicação, em especial Rádio e TV, te dá várias oportunidades de apresentar o Trabalho de Conclusão de Curso além da tradicional Monografia. Pode ser um documentário, reportagem, programa de rádio ou TV, ensaio, artigo, documentário radiofônico, filme, seriado, novela, interprograma, comercial de rádio e TV, tudo acompanhado da parte teórica, então, quando assisti meu primeiro documentário na sala de aula que foi "Ilha das Flores", como dizem nas mídias sociais: "Só os fortes entendem", quando assisti esse documentário me emocionei e pensei que se quis fazer outra coisa desconheço. Sou documentarista convicto e apaixonado, posso até fazer outras coisas, claro, dependendo das oportunidades que a vida der, mas minha predileção é pelo documentário.






SIÉLLYSSON - Você também se envolveu com programas de rádio, iniciou na Rádio Sanhauá como comentarista, e agora apresenta outro programa totalmente diferente. Das duas experiências, com qual você se identifica mais?


CLEYTON FERRER - Como no documentário, eu me identifico mais com o que tende para os meus gostos pessoais, que são pela MPB e World Music. O trabalho na Rádio Sanhauá, a qual eu também tiro meu chapéu para esta emissora, quero que fique registrado aqui, Rádio Sanhauá 1280 kz AM, João Pessoa, Paraíba, pois esta rádio é uma escola, assim como a Tabajara que é estatal, mas a Sanhauá é privada, é uma escola do rádio paraibano, eu diria até da radiofonia Brasileira, pois grandes nomes do nosso rádio, grandes locutores, apresentadores, comentarista, repórteres, operadores de áudio, etc., começaram na Rádio Sanhauá. Certa feita, Marcos Moura, que é operador de áudio da Rádio Sanhauá, também muito antigo e muito conhecido, disse-me uma frase quando um ouvinte ligou, tentando desqualificar a rádio por ser AM, porque AM nada mais é do que Frequência Modulada, ou Amplitude Média, é uma rádio que vai além da FM, porque o sinal da FM é retilíneo e o da AM sobe depois desce, alcança onde a FM não consegue, Marcos Moura disse: "Só não gosta de AM quem não sabe o que é rádio". E eu também passei a gostar de rádio, por incrível que pareça, com o Professor Odaleno também, pois o mesmo levava para o trabalho um rádio de Ondas Curtas que pegava rádios do mundo todo como: Radio Exterior da Espanha, BBC de Londres, Rádio Deutsche Welle da Alemanha, etc, e a rádio AM está intrínseca no imaginário coletivo dos Paraibanos, pois, na minha infância não existia rádio FM, as rádios que tinham eram AM e eram: Sanhauá, Tabajara, Arapuan e Rádio Correio, até o meu amigo Professor Valdir me dizia que era uma maravilha começar na AM porque estava se começando na base, no alicerce, e as rádios AM têm seu público fiel, os ouvintes da Sanhauá por exemplo, são aqueles que acordam e já ligam o rádio naquela emissora e só desligam quando vão dormir, passam o dia inteiro ouvindo aquela emissora, assim são os ouvintes de AM, então, recentemente fui convidado, graças à minha atuação na AM, para trabalhar na rádio Cabo Branco FM, o que para mim não é trabalho é deleite, passar 4 horas em um estúdio de rádio ouvindo só coisa fina, então, depois desse rodeio todo, respondendo sua pergunta, programas políticos, de entrevista, não são a minha praia, claro que como profissional nas oportunidades que tem o faço com profissionalismo e qualidade, porém, minha preferência são por programas musicais, culturais, artísticos, etc.






SIÉLLYSSON - Você é um artista que se envolveu na rádio, consequentemente, na política. Arrepende-se disso?


CLEYTON FERRER - De forma alguma. Eu me arrependo de não ter me envolvido na política antes, porque, para mim um ser humano que não é envolvido na política é um ser alienado. Às vezes quando não é alienado, eu diria "inocente", porque, a partir do momento em que ele vai ao supermercado, e reclama pelo preço do quilo do feijão, ele está fazendo política, pois muitas vezes a pessoa que diz que não gosta de política, é aquela que reclama quando o prefeito, governador, deputados, vereadores, presidente, etc., cometem fraude, não cumprem com suas promessas políticas, deixam de ouvir a população, ou se fazem de rogados. Qual é o erro dos que reclamam, é que reclamam para o vizinho, para o parente, para o amigo, não vão para os espaços de poder reclamar, na porta de quem elegeram para puxar-lhes as orelhas, se todo ser humano tivesse a consciência política de reivindicar nos espaços de poder daqueles que são seus subordinados e empregados, que são os políticos, teríamos mais políticos comprometidos com a população, agora, a política que eu gosto e me identifico é essa, das reivindicações por políticas públicas, das políticas de conquista, da militância social, etc., não gosto da política partidária, porque muitas vezes acontecem decepções, traições, mentiras, enganações, diferente da militância em que muitos lutam por uma causa e não pelos seus bolsos. Por isso que quem pensar que não sou político, sou técnico, está redondamente enganado porque não imagina o que se passa nos bastidores da militância, só não quero cargos eletivos, como ser vereador ou qualquer outra desgraça dessas, minha militância é por políticas públicas.






SIÉLLYSSON - Você é um artista que transitou por: Barzinhos, casas de shows, igrejas, saraus, rádios, documentários, televisão, etc. Qual o conselho que você daria hoje para um artista que quer iniciar e desenvolver seu lado artístico?


CLEYTON FERRER - O conselho que eu dou é um só: Se qualifique! Se quiser ser um bom profissional procure se qualificar. No caso de querer ser amador, não tem problema, é uma opção sua, por exemplo, a pessoa que tem o dom de tocar violão e não quer seguir a profissão de músico, é uma opção pessoal, mas se quer realmente entrar no mercado de trabalho, porque arte é trabalho como qualquer outro, não peçam a nenhum artista para se apresentarem de graça, nenhum, porque são profissionais como qualquer outro e investem nas suas formações, o mercado está cada dia mais exigente e consumista, se você não se qualificar, pode ter certeza que na sua frente tem alguém se qualificando e dando passos mais além. Não acredito que ninguém tome o espaço de ninguém, cada um tem seu espaço devidamente conquistado, agora, existem espaços que estão vacantes, a procura de quem o preencha, e com certeza, aqueles (as) que se qualificarem tem muito mais chances de ocupá-los. Se qualifiquem e façam o que gostam, não caia nessa de fazer só uma coisa, faça o que gosta se sabe fazer duas coisas que faça se sabe fazer dez, faça, contanto que tenha sua especialidade e faça o que gosta, com dignidade.






Esta matéria foi publicada pela primeira vez em

21 março 2013 às 01:32

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