quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Entrevista com o Jovem Secretário Bilíngue Flávio Lopes para o Café com Siéllysson



Entrevista 22 – Parte I



Secretário Bilíngue de uma multinacional na Alemanha, intérprete de eventos em Berlim, trabalhou em algumas letras musicais para o cantor Édson Cordeiro. “Café com Siéllysson” entrevista mais um santa-ritense que faz a diferença,  
Flávio Lopes.

Chego atrasado cerca de cinco minutos como todo bom brasileiro, ele já se encontrava no lugar marcado com minutos de antecedência como todo “bom europeu”. O mesmo riso largo do passado do garoto de 13 anos atrás. Algumas vezes parou a entrevista para rir e dizer: “Parece que nos vimos ontem e resolvemos continuar a conversa hoje” Disse-lhe:“É Flávio, parece que o tempo não passou porque continuamos os mesmos, mudamos apenas com as experiências da vida, mas nossa essência é a mesma.” tive a certeza de que o jovem santa-ritense continuava o mesmo humilde por natureza.  Assim, em um papo que durou horas gravamos nossa entrevista que vocês terão acesso em duas partes. Na primeira, ele fala das experiências como tradutor e intérprete na Alemanha. Na segunda parte, ele fala sobre o Brasil e Alemanha como pátrias, música brasileira na Alemanha e sua amizade com o cantor Édson Cordeiro que hoje vive em Berlim.

SIÉLLYSSON – Vamos iniciar nosso papo falando sobre sua atividade de tradutor na Alemanha. Você estava lá há quanto tempo? Quando começou a desempenhar a função de tradutor?
FLÁVIO - Eu fui para Alemanha com o intuito de aprender melhor a língua, depois de mais ou menos dois anos que eu tinha começado um curso de secretário bilíngue, eu já não estava mais na cidade onde fui morar nem com a família onde morava inicialmente, depois que terminei o curso me inscrevi numa prova e passei para trabalhar em Berlim. Em “Nuremberg” quando morava lá eu fazia tradução para polícia; quando tinha brasileiros ou portugueses envolvidos com situações complicadas ou furtos (risos), a polícia me chamava, porque meu nome estava escrito lá para fazer traduções. Eu também fui para uns fóruns quando houve um julgamento de um rapaz de Moçambique, eu fui lá fazer a tradução dele diante do julgamento.
SIÉLLYSSON – Você trabalhou como tradutor para o cantor Edson Cordeiro, como se deu esse contato?
FLÁVIO - Essa questão de trabalhar com gente famosa, como Édson Cordeiro, foi por questão de amizade. Um amigo meu, que é de João Pessoa que também mora em Berlim ligou para mim “Flávio tem uma pessoa que você podia conhecer, essa pessoa se chama Edson Cordeiro, que é um cantor do Brasil”. E a gente começou a se encontrar. Quando fui encontrá-lo achei que seria uma pessoa super chata, mas, depois de umas semanas a gente foi se encontrando e tomávamos café juntos à tarde e ele me disse: “Flávio, eu estou para cantar umas músicas em alemão. Talvez você possa me ajudar com a letra”. Daí eu passei a ajudá-lo, passei a letra em alemão para ele cantar, hoje ele canta em alemão letras que trabalhamos juntos.
Eu fiz também trabalho para feiras internacionais em Frankfurt que até hoje faço. Eu tiro alguns dias de férias e faço um trabalho de tradução para empresas de vidro, que pertence ao Sindicato de Fabricantes de Vidro em São Paulo.
SIÉLLYSSON – As traduções são escritas ou orais?
FLÁVIO - São orais mesmo. Eu trabalhei como intérprete e esse trabalho eu faço anualmente, sempre em fevereiro, em cada ano é uma feira de decoração com artigos de vidro. Eu fico lá num stand de 9 empresas paulistas, que no começo foi muito difícil para mim porque os paulistas tratam os paraibanos de uma maneira diferente, com o tempo eu obtive mais respeito deles.
SIÉLLYSSON – Diferente como? Preconceituosa?
FLÁVIO - Com certo preconceito porque eles subestimam “um pouco” a capacidade do paraibano. (Ele prolonga a palavra pouco, como se tentasse amenizar o preconceito, como vi durante nossa entrevista, que ele ameniza as dores, por ser uma pessoa otimista e boa) Eu me lembro que quando comecei lá, eu fui contratado através de uma empresa de Frankfurt, que tinha meu nome porque eu já tinha trabalhado para eles, eu traduzia do português para o alemão. Daí, eles me chamaram para esse evento, que é um evento longo de cinco dias em Frankfurt. E eu tinha que ficar dando assistência de tradução para as 9 firmas de São Paulo. Eu pensei muito antes de ir; pensei: “Eu vou para lá? Um porco no meio do matadouro? Eles vão me triturar lá”
SIÉLLYSSON - Por que você achou isso?
FLÁVIO - Porque eu já conhecia o modo dos paulistas em Berlim. Há uma diferença de está no Brasil e está na Alemanha, o tratamento muda um pouco. Eles são mais rígidos, mais críticos. E foi uma experiência pesada porque você vê o preconceito num país estrangeiro dos próprios brasileiros. Assim quando eu comecei veio a pergunta: “De onde você vem?” Eu disse “Eu sou brasileiro.” “Mas de onde?” eu disse “Eu sou da Paraíba e venho de uma cidade chamada Santa Rita, uma cidade super pequena” “E você veio parar aqui?” Essa foi a pergunta dele (Não especificou a pessoa e segue). Eles se admiraram não foi nem por eu saber alemão, ou falar inglês, mas foi da força de vontade de morar num país distante, mas não só por isso, na desenvoltura que eu tinha com a língua. Eles pensavam no começo que eu só sabia uma língua; eles pensavam que eu só sabia inglês. Eu disse: “Não. Eu moro aqui e falo alemão, as empresas alemãs não se conformam em só ler, se você não sabe alemão você realiza melhores negócios. E a minha função aqui é melhorar o negócio de vocês”. Melhorou muito, Siéllysson, porque vieram muitos visitantes alemães visitar o stand (paulista). Eles viram a importância que era ter uma pessoa que representasse o Brasil, mas que falasse alemão. Os vários problemas que tiveram no stand (...) organizadores da Feira em Frankfurt não sabiam falar inglês, alguns não podiam se comunicar em outra língua só em alemão, para eles me terem como representante deles, como intérprete, foi um papel muito importante. No terceiro dia o respeito foi maior, os paulistanos já não me viam como o paraibano que saiu do interior para outro país. Eles me viam como uma pessoa competente.
SIÉLLYSSON - Teve algo desagradável?
FLÁVIO - Sim. Teve no início comentários desagradáveis como “Paraibanos na sabem de nada”. No início foi difícil porque não foram funcionários de empresa, foram os próprios donos. Eu tive a oportunidade de conhecer industriais, donos de empresas em São Paulo, Goiás, Mato Grosso do Sul. Foi uma experiência super boa. Este ano que vem vai ter de novo e eu vou estar.
SIÉLLYSSON - Você acha que essa entrevista pode lhe comprometer?
FLÁVIO - Não. Essa entrevista não me compromete em nada. (risos)
Acredito que eles não tinham a expectativa de ter uma pessoa (intérprete) para eles. Eles tinham uma mentalidade... (pensa) Como se São Paulo é tudo para eles. Perceberam que não é assim. No segundo ano que fui, a segunda empresa que estava lá era de Recife e um dos diretores era de Recife e já tinha vivido cinco anos no Canadá falava francês. Eles (os paulistas) viram o quanto os nordestinos estão em todos os cantos.
Houve visitantes que estiveram por lá e que fizeram o comentário a mim: “Você sabe que tem muitos nordestinos que vivem em São Paulo pra ganhar dinheiro?” e “eu sei.” A resposta que eu dei para eles “O tempo atual os nordestinos querem está fora do Brasil, ocupar outros espaços.”
Eu tive muitas experiências, atendi muita gente do Ceará, do Piauí que estão na Alemanha. Hoje há brasileiros em Universidades na Alemanha, como minha amiga de trabalho que parou o trabalho para estudar medicina lá, e ela é de Fortaleza. Acho que as coisas mudaram um pouco, essa visão do nordeste em si não é mais como 10 anos atrás, que saia daqui e procurava emprego nas regiões mais favorecidas do Brasil.
SIÉLLYSSON - Você sentiu em outros momentos a discriminação por você ser brasileiro, além desse momento inicial?
FLÁVIO - Teve uma situação que aconteceu com um grupo onde eu trabalho. Eu trabalho numa empresa química, na parte de contabilidade – eu trabalho para Portugal, Alemanha e parte da Espanha – então esse grupo (de brasileiros) chegou no começo da semana e me informaram para recepcionar esse grupo de 10 pessoas que vinham de São Paulo. A recepção que eu tive com esse grupo foi de imediato porque eu estava feliz por eles ser um grupo de brasileiros, pessoas que vinham da minha terra. Só que na prática a recepção não foi tão calorosa como eu esperei, pois no primeiro “Bom Dia” que eu dei eu recebi um “não bom Dia” e sim uma pergunta: de onde é que eu vinha do Brasil, eu respondi que vinha de uma cidade pequena chamada Santa Rita e pertence à Paraíba. Foi somente um que fez a pergunta. A pergunta foi com tom de discriminação. Depois a admiração dele “Ah, mas você é paraibano? “Um paraibano aqui em Berlim?” E depois outras perguntas, me questionou se eu sabia alemão e quanto tempo eu estava vivendo na Alemanha; na ideia dele eu morava apenas dois anos, eu falei para ele “Não. Eu moro há 13 anos” Ele se admirou: “Ah, você fala alemão!” Eu disse “Sim, eu falo!” Eu tinha que levá-los aos departamentos da empresa; apresentar cada um e quando eu comecei houve uma certa resistência porque na entrada tinha que usar um crachá e eu falei pra eles que iriam entrar como visitantes, ele não gostou, se achou discriminado, “Não, não. Como pode eu sou da mesma empresa em São Paulo? “No Brasil a empresa é bem maior, a gente é da mesma empresa e lá não precisa pegar nenhuma credencial (crachá)” Respondi: “Bem, aqui na Alemanha tem que ter a credencial pra entrar; tem suas normas, tem que ter a credencial pra entrar”. Ele não aceitou, mas acabou pegando a credencial pra entrar. No percurso que a gente começou a fazer em turismo da empresa, enquanto eu explicava havia sempre umas perguntinhas que não tinham nada haver, como: “Você sabia que existem muitos paraibanos em São Paulo, que vão Pra lá ganhar dinheiro?” “Sim, já ouvi muito, há muitos nordestinos no geral...” Eu falei pra ele: “Nos das de hoje os nordestinos não tem tanta ambição em morar em São Paulo e Rio de Janeiro; a ambição do nordestino se expandiu pra Europa e países de outros continentes.” Aí eu pensei que ele ia se dar por satisfeito, mas não se deu por satisfeito ainda e fez outros comentários, daí eu falei pra ele: “Olha, a empresa aqui tem uma regra interna, são leis internas, um estatuto da empresa na Alemanha que diz que qualquer tipo de discriminação seja por cor, por sexo, por idade ou origem podem ser motivos de demissão. Então quero lhe pedir pra o Senhor se concentrar mais no que estou lhe explicando. O meu intuito aqui não é explicar a origem de quem é paraibano ou quem não é, isso não importante nos dias de hoje; o que todos querem saber é sobre a empresa e não sobre a origem de cada um”. Aí ele se conteve mais, não questionou mais. Acho que ele ficou até com medo, porque a minha chefe na época ficou querendo saber o que o que estava acontecendo, que “bate-boca” era aquele. Eu fiquei o mais calmo possível dentro do profissionalismo, embora por dentro estava fervendo, morrendo de raiva (risos). Acho que o sangue paraibano estava subindo (gargalhadas nossas). Mas, graças a Deus ele parou.
SIÉLLYSSON - E o lado bom de trabalhar como intérprete em empresas, feiras na Alemanha?
FLÁVIO - As pessoas tiveram a oportunidade de mudar a visão, que lá fora não só existe uma classe de pessoas, não só existem paulistas.
O lado positivo para mim é que meu trabalho foi bem aceito. Eu faço trabalho na Feira (Amostra) só pra esse sindicato, já faz cinco anos. Trabalhos extras também aparecem mais esse é o trabalho que mais me marcou como intérprete. É uma coisa que não deixei, continuo fazendo, além do meu trabalho fixo na empresa. Graças a Deus, é um presente do Senhor ter conquistado isso. Pra mim é uma prova do que o esforço vale à pena.
Já tive na época (inicial) pensamento “Acho que não é pra mim” “O que eu to fazendo aqui?” Já tinha surgido muito esse pensamento, mas acho que quando a gente persiste num sonho, mais tarde você vê que vale apenas tentar.


Entrevista 22 - PARTE II



Nesta segunda parte da entrevista com Flávio Lopes, ele fala da emoção de encontrar a cantora Adriana Calcanhoto em Berlim e jantar com ela, sua amizade com o cantor Edson Cordeiro, sua visão sobre o Brasil e Alemanha e revela o que o prende a cidade de Santa Rita.


SIÉLLYSSON - A sua vontade de morar fora do Brasil veio pelo estudo da língua ou por uma identificação com uma cultura não-brasileira, uma cultura europeia?
FLÁVIO - Eu estudava inglês, então pensava que ia parar ou nos Estados Unidos ou  na Inglaterra. Acabei num país que não tem nada há ver com o inglês. Mas, eu sempre me interessei pela história da Alemanha, quando eu estudei a língua me veio o questionamento “Como um país que passou por guerras tão fortes, Primeira e Segunda Guerra Mundial, e mesmo tendo sido destruída em menos de 50 anos esse país se reconstruiu de maneira rápida?” Isso me deu a vontade de conhecê-lo.
O primeiro livro de alemão que peguei foi na Universidade era um livro super velho, acho que era de 1901 ou alguma coisa assim; era um livro didático para estrangeiros, eu consegui por meio de um amigo que me emprestou. Eu comecei estudando em casa a língua e como foi fascinante porque as letras do livro ainda eram em estilo gótico. Tudo isso era fascinante. Mas, o que incentivou a morar fora, não nos Estados Unidos e nem na Inglaterra foi pelo país (Alemanha) ter me fascinar tanto.
SIÉLLYSSON – Você tem uma identificação com Alemanha até porque são 13 anos vividos nela. Qual é a pátria de um estrangeiro, sua origem ou sua identificação?
FLÁVIO - Eu digo que a pátria é onde a gente se sente bem. Para mim, eu seria infiel em dizer que minha pátria é Alemanha, mas seria também um pouco infiel, só um pouquinho, (risos) em dizer que a Alemanha não é minha pátria porque construí uma parte de mim lá. Pátria é onde você construiu parte da sua história, lá construí parte de mim. Tenho uma identificação com eles muito forte e foi lá que terminei uma parte dos meus estudos, consegui meu emprego, meu “ganha pão”, foi lá que consegui uma estabilidade financeira. Tenho meu emprego fixo, tenho meu lugar, meu apartamento. (rir e diz uma graça) Paraibano se sente satisfeito com pouca coisa (rimos juntos) No pouco que conquistei estou feliz!
SIÉLLYSSON - Não é pouco, pois são tantos brasileiros que não têm moradia, emprego, etc.
FLÁVIO - Claro. Digo “pouco” de uma maneira modéstia. Identifico-me também com isso. Vi que o país não me subestimou, ele simplesmente honrou justamente o que cada um sabe, o que você é, o que você adquiriu [ele fala de reconhecimento do estudo] Aquela questão de meritocracia, é o fato de o país honrar aquilo que você mereceu. Lá na Alemanha você não vai pra lá pra conseguir um emprego em qualquer lugar; você tem que ter um motivo para dar pra eles pra que eles te entreguem... (risos). Acho que eles viram em mim algum motivo e eu dou graças a Deus por isso. (rimos)
SIÉLLYSSON - Você acha que no Brasil eles não reconhecem o estudo, o esforço do seu povo?
FLÁVIO - Acho que tem muitos brasileiros que reconhece. Há muita gente boa em nosso país, infelizmente falta questão da meritocracia. Um país que dá uma medalha da Academia de Letras a um jogador. Eu não preciso dizer mais nada? Eu só tenho pena de Machado de Assis (risos). Tanta gente boa na parte da literatura, gente que tem lutado pra melhorar a língua portuguesa... Acho que o Brasil deveria avaliar mais a quem ele dá o mérito. Isso foi algo que acompanhei de fora e me entristeceu muito.
SIÉLLYSSON - Como é visto o Brasil musicalmente na Alemanha?
FLÁVIO - Em relação à música o Brasil é visto e maneira muito positiva na Alemanha. Poderia ser negativa, mas não é, por exemplo: é tido o Brasil como um país alegre em que as pessoas são solidárias demais e isso conta muito pra eles (alemães). O visitante quando chega à Alemanha que diz que é brasileiro é recebido de uma maneira diferente de outros países, por exemplo: o Brasil tem algumas coisas comuns com a Alemanha como o catolicismo, uma parte dela é muito católica também; a parte da música o Tom Jobim, Chico Buarque são muitos conhecidos, a bossa nova é muito conhecida. Você chega a um bar superfino e tá tocando bossa nova. Pra a gente que mora mais tempo na Alemanha, a gente passa a se identificar com um estilo de música que a gente não tinha o hábito de escutar aqui. A música clássica, por exemplo, tem um papel importante, infelizmente no Brasil não é tão cultivada.
Em minha convivência com Edson Cordeiro eu passei a ouvir Don Giovanni, Mozart, porque ele canta tudo isso, então, pra mim, um brasileiro como Edson Cordeiro que é uma referência na música clássica na Alemanha é um orgulho, e não ser “na boquinha da garrafa”. (risos) Sei que o Carnaval é parte da nossa cultura, mas a “boquinha da garrafa” e outras são demais! Quando se fala em Brasil lá, se fala de bossa-nova, “garota de Ipanema”. Em restaurantes que de vez em quando vou está tocando “Garota de Ipanema”.
SIÉLLYSSON - E como foi seu encontro com Adriana Calcanhoto? Você trabalhou como intérprete dela ou tradutor?
FLÁVIO - Como intérprete ou tradutor dela não trabalhei. O encontro com ela aconteceu um tanto “terceirizado”. (riso) Porque eu conheço Edson Cordeiro e a gente foi ver um Show de Adriana Calcanhoto, depois do Show fomos parabenizá-la. Ela nos recebeu super bem e depois do show fomos comer todos juntos, então foi um prazer sentar-me com Edson Cordeiro e Adriana Calcanhoto numa noite muito agradável.
SIÉLLYSSON - Você voltaria hoje para o Brasil?
FLÁVIO - É difícil lhee dizer isso, mas teria que acontecer muitas mudanças no Brasil para que eu pudesse voltar, porque o que me cativa na Alemanha fora meu emprego é questão da segurança. Nós não temos lá assaltos na rua, porque ladrões não roubam civis, eles assaltam bancos, joalherias (...) É exatamente isso que me encanta. A gente sai às 3 horas da madrugada vai pra casa à pé e não acontece nada, isso é o que me fascina, a liberdade que as pessoas têm. Quando os policiais nos encontram na rua “Está fazendo o que agora? Vai pra onde?” Eles te perguntam pra saber se você tá bem, eles lhe dão assistência, politicamente na Alemanha tem maneira diferente de lidar com o cidadão, é mais de preocupação, são mais educados, eles não se deixam se subornar, são super corretos, são rígidos e comprometidos com a lei. Acho que isso tem haver porque são bem pagos.
Na Alemanha ninguém vai roubar seu relógio, coisas que você comprou com tanto suor; isso é o ideal pra mim. No dia em que a segurança no Brasil for boa, com a economia boa eu poderia dizer “É! Agora é hora de voltar.” Não quero morrer na Alemanha.
SIÉLLYSSON - O que te prende à Santa Rita é sua família apenas?
FLÁVIO - Não. É a identificação com o lugar que em que nasci; se um dia eu deixasse de voltar aqui à Paraíba, a Santa Rita seria negar o meu passado. E o ser humano não é feito só de futuro e presente, é de passado também. O que sou hoje, por exemplo, é fruto de um pouco de mim no passado, um pouco de mim no presente. O motivo de voltar não é minha família apenas, são as minhas raízes.

(O restante do que conversamos, relembramos e rimos não ficou gravado em nenhum gravador, mas no nosso coração e nas nossas lembranças que permanecerão para sempre. O meu muito obrigado por esse momento, Flávio)

Entrevista publicada em 10 de outubro de 2012, às 18:11

3 comentários:

Unknown disse...

Continua com a mesma humildade de sempre.

Unknown disse...

Flavinho é nota 1000, bela trajetória!

Unknown disse...

Flávio é nota 1000, bela trajetória!

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