Ela nasceu no teatro, recita
poemas e inventa sons no palco que virou sua morada e a música seu alimento. A
cantora santa-ritense radicalizada em Rondônia faz sucesso na rádio e nos palcos do Brasil, "Café com Siéllysson" entrevista a Ceiça Farias.
SIÉLLYSSON – Quando você despertou para a
música?
CEIÇA - Na verdade eu nasci com a música em mim,
desde pequena eu gostava de imitar algum artista em especial Elba Ramalho.
Porém, na adolescência ao descobrir a arte do teatro que é uma linguagem que
dialoga bastante com a música,é que realmente eu consegui definir que não era
atriz e sim cantora.
SIÉLLYSSON – Você nasceu em Santa Rita-PB
onde viveu a maior parte da sua vida, hoje está radicalizada em Rondônia há 11
anos. Qual a importância desses lugares para você?
CEIÇA - Eu sou eternamente apaixonada por Santa
Rita e a Paraíba em geral, por toda carga de verdade cultural que exala nos
poros e na história dessa gente, que com muito orgulho carrego na minha
genética nordestina e na minha história de vida. Vivo há 11 anos em Rondônia, e
na sua capital é uma vivencia deliciosa, o Estado tem em sua história
imigrantes de todo o País e em sua maioria do Nordeste,ou seja, eu vivo muito
da cultura de minha região aqui e compartilho da cultura de todo País com as
outras pessoas que aqui residem.
SIÉLLYSSON – Como surgiu a ideia do CD Cordas
e Barros? Você teve participação desde a seleção das músicas à
criação do design do CD, ou somente se preocupou com a parte da interpretação
musical?
CEIÇA - Este projeto me rendeu bons frutos pela
verdade que ele apresenta. A ideia inicial partiu do contato que obtive na
faculdade com a obra do poeta Manoel de Barros. Eu fiquei extremamente
encantada em como o poeta apresenta tanta beleza em seus versos sem
rebuscamento e com tanta simplicidade. Partindo da idéia de transformar o
simples em belo dentro da música, eu propus o desafio ao percussionista Bira
Lourenço de fazer uma pesquisa sonora com objetos construídos do barro, os
quais seriam os únicos instrumentos utilizados como base rítmica no show.
Eu tenho naturalmente uma personalidade simples
em tudo que faço na vida, e confesso que aprecio muito uma sonoridade mais
acústica em meus trabalhos musicais, então optar por instrumentos de cordas
como o violino, violão e contrabaixo acústico foi fácil para juntar-se com os
sons dos barros nos shows. O CD Cordas e Barros apresenta outros
instrumentos além dos citados acima, aliados aos barros como o violoncelo,
bandolim e violão de 12 cordas, porém nos shows eu me apresento com a formação
mais reduzida. A concepção do CD desde a escolha do repertório (o qual
apresenta compositores de Norte e Nordeste) a masterização, criação do design
do encarte, enfim toda a parte de produção eu estive presente, apenas na parte
de direção musical é que eu deixei por conta de quem entende do assunto excelentíssimo
Chico Chagas.
SIÉLLYSSON - Como surgiu a oportunidade
de apresentar o Programa Palco En'Canto, de segunda a sexta-feira, das 16 às
17h30, na Rádio Caiari?
CEIÇA - A direção da rádio Caiari me convidou pra
produzir e apresentar este programa de rádio, pra mim foi uma experiência
maravilhosa pois me possibilitou conceber um programa diferenciado com notícias
culturais do Brasil inteiro,entrevistas com artistas do Estado e ainda tocar um
outro repertório que não o padronizado pelas rádios locais, e aí se inclui as
músicas produzidas em Rondônia e na Região Norte. A produção geral do programa
era da Jornalista Rose Viegas, eu fazia a co-produção e foi muito prazeroso
apresentá-lo enquanto esteve no ar.
SIÉLLSSON - Depois do Show de lançamento
do CD Cordas e Barros (2007), onde você utilizou composições de nordestinos,
você realizou juntamente com outras mulheres um espetáculo musical ‘Mulheres de
Holanda’ e no ano passado retomou o repertório de Chico Buarque de Holanda no
seu novo musical ‘Maria de Chico’. Por que trocou o repertório de artistas
regionais para o clássico da MPB?
CEIÇA - Desde que eu gravei o CD Cordas e
Barros em 2007 eu não tinha mais elaborado outros projetos e também nenhum
show de interpretação de artistas já consagrados, como falei anteriormente o CD
me rendeu bons frutos e ainda me rende, do ponto de vista de oportunidades que
surgem de shows por vários cantos deste País.
No ano passado eu desejei fazer um trabalho
diferente até pra ter outra possibilidade de convites e antes de tudo por se
deliciar com a obra de Chico Buarque. Então montei o projeto ‘Maria de Chico’
(ta vendo que o título do show já carrega uma origem Nordestina), do qual nos
rendeu várias apresentações no ano passado.
Vale ressaltar que não foi uma troca de repertório
(regional por clássico), até porque não entendo o repertório da CD Cordas e
Barros como regional, foi apenas mais uma possibilidade de interpretação
musical.
SIÉLLYSSON – Quando virá outro
trabalho em CD? Podemos esperar outro CD regional ou mais nacional, com
interpretações de Chico Buarque, por exemplo?
CEIÇA - Desejo. Estou trabalhando desde já pra
isso e pedindo apoio divino (que é importante),pra lançar mais um trabalho este
ano de 2012. Já estou em processo de concepção do trabalho que mais uma vez
será temático, eu gosto de trabalhos temáticos e pesquisados, pois acredito que
traz mais substancias.
Não tenho pretensão até o momento de gravar um CD
com músicas de artistas consagrados, acredito que eles têm a história deles
escrita e que por se só se propaga, porém nessa pesquisa que estou fazendo para
construir meu próximo trabalho tem uma tendência à algumas intervenções de
música de algum artista já consagrado dos anos 40 ou 70. Por enquanto são
ideias.
É importante frisar que não concordo com a
concepção de música regional implantada pelo mercado fonográfico, ou seja, eles
chamam de música regional as músicas que são compostas em determinadas regiões
do País e que não chegam à grande mídia e a sociedade comprou esta ideia, porém
ninguém chama de “regional” músicas como: Garota de Ipanema,O rio de
Janeiro continua lindo, A Bahia estação primeira do Brasil entre tantas
outras conhecidas. Será por que se trata de composições que falam de
região sudeste do País? Ou por que a música chegou à grande massa tornou-se
universal? É uma discussão muito ampla,mas pra mim a música é universal com
suas várias temáticas e composta em qualquer lugar do País, porém umas chegam
na grande mídia outras não.Mas não dá pra dizer que tal música é regional porque
foi feita no Amazonas ou em Alagoas ou no Rio Grande do Sul.Essa concepção
chega a diversos preconceitos.
SIÉLLYSSON – Você acredita que se
estivesse em Santa Rita sua carreira artística teria decolado como tem sido
nesses anos em que você esteve radicalizada em outro estado?
Acredito que sim, quando eu saí de minha terra
natal eu já tinha bons contatos entre os fazedores culturais da Paraíba, então
acredito que teria tido boas oportunidades também.
SIÉLLYSSON – Você participou de algumas
mostra como Mostra SESC Rondônia de Música. Qual
a importância desses eventos para a música regional?
Na verdade eu idealizo e coordeno toda
programação de música do SESC Rondônia e acredito bastante na oportunidade de
participar de eventos como Mostras de Música, porque é um espaço de diálogos
entre os artistas e suas músicas, de aperfeiçoamento no que fazem, pois a
mostra oferece workshops,oficinas,mesas,palestras e claro
apresentações musicais. Encontro como esse vai além da vitrine a troca de
ideias, a confraternização, a formação de parcerias e tudo isso é o que
importa.
A imagem acima é a capa do CD "Cordas e
Barros"
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