sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Café com Siéllysson entrevista o artista popular Paraíba do Forró



Entrevista 08



Num dia de sábado vou à casa do artista popular mais conhecido de Santa Rita, peço-lhe para dar-me uma entrevista ele se prolonga e sinto dó por não está filmando a conversa com episódios hilários de sua trajetória. Volto à tarde, passo as questões sem filmar e logo “Paraíba do Forró” quer respondê-las e mais uma vez perdi frases tocantes, pois não estava filmando. Digo-lhe que estamos somente revendo para saber o que ele iria me responder. Ligo a câmara e ele se estende num papo histórico e divertido, até o momento da memória da filmadora se esgotar. Entretanto o melhor do Seu José Antônio Bandeira está aqui dividido em duas partes.  Vocês conhecerão a história do Paraíba do Forró.

PARTE I – A TRAJETÓRIA DO FILHO DE IZABEL BANDEIRA E COMO NASCEU O PERSONAGEM PARAÍBA DO FORRÓ.

OBS: Foi transcrito na íntegra da forma em que o artista popular fala.

SIÉLLYSSON: Sua mãe, Izabel Bandeira, não era de Santa Rita, você é natural da cidade de Itabaiana. Por que escolheu Santa Rita para viver?
PARAÍBA DO FORRÓ -  “Éllysson”, eu não escolhi Santa Rita, foi meu pai que escolheu.
SIÉLLYSSON – Aí você pegou gosto pela cidade?
PARAÍBA DO FORRÓ -  Quando cheguei aqui eu tinha 2 anos de idade. Com 2 anos de idade, eu não tinha condições de saber o que era Santa Rita, né? (risos) Então aqui eu fui criado. Não nessa casa, nesse bairro todo. Em várias ruas tive o prazer de morar, e aqui é o término de tudo, rua Dr. Pedrosa.
SIÉLLYSSON – Você acha que a cidade de Santa Rita lhe deu o reconhecimento como artista popular?
PARAÍBA DO FORRÓ -  Em partes. Porque muitas pessoas valorizou aquilo que foi feito pela Rede Globo, como através da TV Cultura (TVE), através da Band, através do SBT e o que foi passado em DVD, como o DVD que tem aqui comigo, alguns valorizou, assistiu em casa, mas muitas pessoas que não tem ética, que não tem qualidade, quem não tem valor pra valorizar ninguém tomou aquilo como uma palhaçada.
SIÉLLYSSON  – Sobre sua mãe adoeceu jovem, que sentimento você tinha ao vê-la nas ruas sendo motivo de brincadeiras?
PARAÍBA DO FORRÓ -  Quando aconteceu com ela... ela tava solteira ainda; ela não tinha casado.
SIÉLLYSSON –- E o que foi que afetou sua mãe?
PARAÍBA DO FORRÓ -  Porque meu avô era um homem do interior. Você sabe que no interior os Cabras* caçam tatu. E minha mãe ajudava meu avô. Então, numa das viagens com meu avô “encovaram” um tatu [encontraram um buraco de tatu] e minha mãe em vez de cavar, enfiou a mão e a jararaca de sete meses pegou ela. Não matou ela porque ela tava naquele período, né? Não matou ela, mas ela enlouqueceu.
SIÉLLYSSON – E para você como foi crescer e ver as pessoas tirarem brincadeiras maldosas com sua mãe? Como você se sentia?
PARAÍBA DO FORRÓ -  Olha, “Aéllysson” o fogo não é esse. Minha mãe teve vários períodos na vida dela. Quando meu pai viva com minha mãe a vida dela era uma. Meu pai aproximou-se da mãe mais grosso do que ela... Não sei se foi trauma dela, não sei se foi o destino dela ou o que foi. Eu só sei que ela passou a negociar. Entendeu? E ela era tropeira*. Ela andava com muitos animals. Comprovam as coisas pra essas usinas à fora, (engenho)Patrocínio, Ela tinha em torno de 5 animals, um desses animal dela foi o que colocou apelido nela, porque ela tinha uma burra chamada Pastora. Naquele tempo não é como agora (tratando da geografia da cidade), tinha o Papo da Coruja, ali onde é a Flávio (Hospital), ali quando minha mãe vinha com os jumentos dela e incluindo essa jumenta, ela dizia “vai pastora” e o s cabras da época (tratando dos homens) diziam “Vai Vassoura” com a burra, e mãe queimava ruim. Sabe como é que é, né? Matuto, sem estudo, bateu... soltava o linguajar dela. Acontece que dois a três anos nessa lida “vai Pastora” e “vai Vassoura” o trem de Recife, que você não alcançou que você é muito jovem pra isso, o trem fazia João Pessoa a Recife, que era aquelas máquina antigas (imita o som da locomotiva igualzinho) pegou a burra da minha mãe e matou. Aí quando ela vinha com os 4 jumentos, que era cinco, o pessoal perguntava “Izabel, cadê Vassoura?” (Neste instante imita a mãe) aí ela soltava o verbo, né? Aí passou um mês e quinze dias e começaram “Vassoura, cadê a burra?” aí foi que a coisa pegou mesmo... Aí ela fazia a escolhambação** dela. Uma escolhambação quase que inocente. É claro que analfabeta, matuta, prepotente, que ela era! E foi aí que começou. [...] Como eu me sentia? Quando começou isso aí eu era criança ainda, tava de 12 pra 13 anos, eu não tinha esses afetos todos porque entrava num ouvido e saia noutro. E eu fui crescendo nesse prisma. Até que atingi o que hoje chama de adolescência e aqui acolá eu tava quebrando nego no pau. Também tava apanhando. Quando era um só eu batia, quando era muito ou corria ou apanhava. E foi ..e foi... chegando ao ponto da gente se distanciar, quando foi o casamento dela aqui, e num deu mais, eu já tava taludinho (forte com tipo de homem) eu não ia ficar mais debaixo da saia dela e fui embora pra Recife, foi assim que casei com a primeira mulher, depois de um tempo aconteceu coisas [...] e eu fui embora pra Recife, isso em 1972.
SIÉLLYSSON – Foi lá que surgiu o personagem “Paraíba do Forró”?
PARAÍBA DO FORRÓ -  Em 72 comecei trabalhando no Recife num depósito de ferro velho, [...] depois fui trabalhar em depósito de papel, depois eu fiz com uma lata de sardinha, aquelas que o povo chama de lalaô um tamborzinho de couro de gato e comecei a tocar no Pátio de São Pedro [...] a noite ali enche [de gente] [...] acontece que eu ia tocar toda sexta e todo sábado no Pátio de São Pedro. [...]. Quando eu comecei mesmo não foi por mim, tinha na época um cidadão que se chamava de Cearense do Violão, não sei se ele ainda é vivo, na época ele era assim como você... Ele tocava o violão com músicas do Ceará e eu acompanhava no tambor e tocava gaiata com um pente. (Paraíba entra e pega o atabaque e sua gaita improvisada) Não era um atabaque, era uma lata de sardinha, na época não podia compra um atabaque, assim eu era rico, milionário (risos) [...] (toca relembrando) Eu fui pegando o macete da coisa e cismei e fiz um zabumba melhorzinho e fui tocar sozinho e disse a ele “Não vou tocar mais com você não, eu toco, tu fica com o dinheiro todo e não me dá nada” Nessa época ainda não era Paraíba, era Zé da Gaiata (Nessa hora pergunta se estou ouvindo, confirmo que sim, ele brinca com a câmara e rolamos a rir) Eu ia toda noite e ganhava mais. É claro que eu não ia passar por cima dele, ele era o líder [...] Numa certa noite chegou um cidadão forte e eu tava tocando já com a gaita (Paraíba toca para mim, a música que tocou no dia) O homem ficou parado na minha frente. Eu não tinha essa empolgamento [empolgação], não sabia nem o que tava fazendo, se eu era artista ou o que era. Quando terminei de tocar ele disse “Você é da onde?” “Eu sou da Paraíba”, que nunca neguei meu estado. A onde eu fui eu disse, agora já encontrei Cabra daqui dizendo que não era da Paraíba e eu disse “tenha vergonha... me respeite, que sou da Paraíba!” (Volta para conversa anterior) “De qual cidade da Paraíba você é?” “Eu sou de Santa Rita” Ele me perguntou se eu já tinha me apresentado em rádio ou televisão eu disse “Não Senhor!” “Olhe, eu sou J. Ferreira”, inclusive ele é deputado, não sei se ainda é... Ele disse: “Eu posso botar você na televisão pra fazer um show?” e eu sabia lá o que era show.. o Show que conheço é quando tange galinha “Xô, XÔ... (risos) “Você compareça lá [...] pra assinar o cartãozinho pra sábado de tarde se apresentar”. Eu tinha um parceiro meu que se chamava Moura, eu disse “ moura dá certo agente ir?” Ele disse “Dá”. O Moura cantava Samba (...) e eu cantava carimbó. Na época o Pinduca era o que fazia sucesso.
(...) [canta para mim e toca].
No sábado, mês de julho, já havia passado o São João, mas o Programa ainda tava nesse clima. Foi lá que conheci Dominguinhos, nessa época em primeiro tava Sinvuca e o segundo era Dominguinhos, só tocava os dois juntos...o Altemar Dutra estava vivo nessa época, inclusive vi ele no camarim [...].
Mas, “Aercio” [Ele nunca consegue me chamar de um mesmo nome] Você já foi em televisão?
SIÉLLYSSON – Já.
PARAÍBA DO FORRÓ -  Você não tremeu não?
SIÉLLYSSON – Tremi.
PARAÍBA DO FORRÓ - Dá uma frieza, com uma tremedeira... (risos) uma suadeira, as mãos ficam suando, a língua engrossa... (risos) E eu lá na maior pressão do mundo [...] “José Antônio Bandeira, o Cara da Paraíba, o Zé da Gaiata”, aí entrei eu, era a primeira vez (imita a si mesmo com deboche) “Boa tarde pessoal” eu deveria ter dito “Boa tarde platéia” E um povo aplaudia e outros vaiavam ... (nessa hora dá ótimas gargalhadas de si mesmo) “Eu sabia de nada!”
(Descreve o número de apresentações até chegar à sua) Quando entrei cantei “Sua pureza”, primeiro lugar, só não derrubei Dominguinhos (risos), mas dos calouros  ninguém ganhou. Você sabe com são esses apresentadores quentes, né? Ele disse “Esse é o Zé da gaiata, ou melhor, seu Zé da Gaita, a partir de hoje seu nome não é mais Zé da Gaita” eu disse “Agora lascou!” “Que História é essa?” “Você não é da Paraíba?” “Sou!” “Então, agora é seu nome é Paraíba do Forró” e ele nem se ligou que o que toquei era carimbó, mas devido o setor (região do forró) ficou Paraíba do Forró.
SIÉLLYSSONAí nasceu Paraíba do Forró!
PARAÍBA DO FORRÓ -  Aí nasceu Paraíba do Forró! E olhe que fiquei uns dias chateado, porque todo mundo me conhecia como Zé da Gaiata, mas logo o pessoal dizia “Esse é o Paraíba  do Forró que ganhou em primeiro lugar no J. Ferreira” e eu fui me acostumando.

(Entrevista publicada na quinta 15 dezembro 2011 03:24 - entrevista filmada)
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*Cabras, termo antigo para tratar os homens.
**Tropeirismo propriamente dito tem início em 1733, com a abertura por Cristóvão Pereira de Abreu da Estrada da Serra, ligando o litoral ao planalto por terra. Isso amplia consideravelmente o fluxo de muares do Sul para o Centro. O mercado se organiza, criando-se em 1750 a Feira de Sorocaba, que se torna o símbolo da divisão do trabalho na economia comercial tropeira - em Tropa Solta e Tropa Arreada. Muitos “paulistas” – mineiros, sorocabanos, paranaenses, etc. – se incorporam às atividades e ao Comércio das Tropas. Por esse motivo histórico que chamavam os comerciantes que andavam em cavalos de Tropeiros.
*** Escolhambar, escolhambação, termo regional que significa xingamento para muitos, mas não é o sentido original da palavra.

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