quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Siéllysson por Thayane Moreira



Graduado em História pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), com especialização em História do Brasil pela Faculdade Integrada de Patos e Mestre em Ciências das Religiões pela UFPB, Siéllysson Francisco, que já lecionou história, geografia, artes, ensino religioso, sociologia e filosofia, é natural de Santa Rita e autor de dois livros: Santa Rita: A herança cristã do Real ao Cumbe e O lado negro da fé: Irmandades de Santa Rita e Areia do século XIX.
Sua história com a sua cidade de origem começa na Revolução de 30, quando seus avós paternos vieram do sertão paraibano para Santa Rita em busca de tranquilidade. A atual casa em que Siéllysson reside pertenceu a seus avós, “a música ‘A casa que vovô morou, que meu pai herdou, que passou pra mim’ é real, ela é essa história, porque pertenceu a meu tio, mas que era dos meus avós, foi passado pro meu pai e meus irmãos passaram pra mim, tem um valor simbólico, um valor sentimental, então Santa Rita tem esse valor pra mim”. Outro fator que colaborou para seu amor a essa cidade foi a discriminação que sofria na escola onde estudava em João Pessoa, por ser santarritense, assim a discriminação culminou numa forte identidade com a cidade.
Por ser uma criança muito agitada, teve por consequência déficit de atenção, o que na época não era percebido, seus pais ou professores entendiam o porquê do menino ter tanta dificuldade para aprender, devido a essa dificuldade gerada, Siéllysson desenvolveu certa aversão a escola, o fato de saber que no dia seguinte teria que ir novamente o deixava febril – sem fingimentos. “Eu lembro que uma vez eu disse a minha mãe: ‘Mãe, eu queria morrer’, e mãe ‘oxe menino, por que tu quer morrer?’, eu disse ‘pra não ir pra escola, porque no céu não tem escola’”. Filho do proprietário da escola onde estudava, ele era tratado de forma diferente, o que o fazia fugir da escola e matar aula, até que o seu pai descobriu, lhe deu uma surra e o transferiu para uma escola pública um pouco distante de sua casa, nessa escola teve seu aprendizado facilitado e sua vontade de estudar instigada por uma ótima – e para ele, inesquecível – professora. Após repetir a série (hoje oitavo ano) pela terceira vez – já de volta na escola de seu pai – refletiu sobre o que faria da vida e decidiu estudar, “eu estudei porque eu não queria varrer a rua”. “Sofri muito bulliyng por ter sido reprovado, e tudo aquilo te dá uma sensação de que você não consegue, e ao mesmo tempo eu disse ‘não, mas eu posso, eu quero e aí eu realmente voltei a estudar’ (...) Hoje eu consigo falar tranquilamente sobre isso, mas isso é uma coisa que bloqueou, por mais que eu caminhasse, eu não conseguia superar o garoto da 7° série, porque esse garoto foi prejudicado pelos profissionais, que hoje, alguns, eu trabalho ou já trabalhei com eles.”.
A opção pela licenciatura veio em forma de dívida consigo mesmo, “como meus professores não foram bons profissionais, eu queria fazer diferente. Eu acredito que a gente passa na vida das pessoas e deixa marcas, marcas boas ou ruins, e eu queria deixar marcas boas, eu queria na verdade contribuir na vida de outras pessoas e eu achei que essa seria a forma mais próxima (...) então era um desejo de superação.”. Certa vez, teve que dá uma aula a pedido de uma professora, que juntamente com outros seminários apresentados nas aulas de Artes, percebeu que tinha habilidade e facilidade para dá aula, “a licenciatura eu não vejo só como profissão, vejo como vocação, um dom que vai além”; por ter sido uma criança introspectiva, ao invés de falar sobre seus sentimentos, Siéllysson expressava-os por meio de palavras, assim desenvolveu habilidade nas técnicas da escrita, o que o ajudou a escrever sua monografia na conclusão do curso de História e mais tarde a escrever seus dois livros, cujo primeiro foi produzido na especialização e o segundo foi a dissertação do mestrado. Quando questionado o que lhe dava mais prazer Siéllysson afirmou que lecionar era mais prazeroso do que escrever, “como professor você tá formando cidadãos, tá formando ser humano (...) é mais prazeroso pra lecionar, eu acho que nasci pra isso”, porém reconhece que foi como escritor que ganhou reconhecimento, uma vez que o professor não recebe tal prestígio.
O primeiro livro, Santa Rita: A herança cristã do Real ao Cumbe tem um carinho especial do autor, pois este devia lecionar para o ensino fundamental sobre a história de Santa Rita, no entanto não havia informações suficientes sobre, então o autor saiu pela cidade tirando fotos de monumentos, ruínas, igrejas antigas e engenhos. Tendo em vista todo material fotográfico que havia reunido e a falta de documentos sobre a cidade, se interessou por escrever sobre Santa Rita, para que a lacuna deixada pela falta de boas informações fosse preenchida, todavia não sabia e não tinha recursos para publicar o livro, foi então que após uma palestra onde explanou o projeto do livro, o então prefeito santarritense se interessou e afirmou que financiaria, porém, logo depois mudou de ideia, “ele achou que o livro era caro, que o pedido era grande e que não iria fazer aquilo, rasgou toda papelada que já estava assinada em cartório (...) mexeu muito comigo, porque eu nunca tinha sido humilhado”. Após o ocorrido tentou a ajuda do Fundo de Incentivo à Cultura e conseguiu, assim pode publicar o livro da forma que desejava. Com o segundo livro, O lado negro da fé: Irmandades de Santa Rita e Areia do século XIX, o autor foi indicado ao prêmio Dom Oscar Romero de Direitos Humanos pelo CEDHOR e homenageado na Câmara Municipal de Santa Rita como Mantenedor do Patrimônio Imaterial e Mantenedor do Patrimônio Cultural Histórico Afro-Brasileiro Santarritense, além de o livro ter rendido uma reportagem no programa Correio Espetacular, do Sistema Correio, e ganhou um reconhecimento maior como escritor. Siéllysson conta que publicou este livro com todo salário que havia recebido naquele mês e arcou com todas as despesas, tendo a certeza de que o esforço havia sido válido quando todos os exemplares foram vendidos.
Atualmente, Siéllysson também atualiza um blog, onde divulga seus trabalhos, posta textos de sua autoria e entrevista personalidades santarritenses, “eu tive a ideia de trazer pessoas de Santa Rita, que produz, que produziram (...) comecei a entrevistar artistas, ou nascido em Santa Rita ou que mora na cidade e faz um trabalho bonito, entrevistei psicólogos, artistas, professores, músicos, e cada um com história de vida muito singular.”, ele também está escrevendo um livro de crônicas, onde o tema será o cotidiano de modo geral, “pensei: eu posso escrever uma coisa que vai estimular as pessoas, que vai fazer com que as pessoas percebam que também podem escrever, que podem produzir alguma coisa e bonita”. No momento, o livro de crônica é prioridade para o autor, que não nega que tem ideias para trabalhos futuros, como um livro de artigos de historiadores santarritenses.
O santarritense considera que há uma diferença entre Siel e Siéllysson, o primeiro é o apelido de infância, aquele que todos conhecem, o ser humano; e o segundo é aquilo que este produz, é o mesmo ser humano porém com a visão que a sociedade lhe dá a partir do que é produzido pelo mesmo. 
Texto de Thayane Moreira 
Imagem: Antônio Alves



(MOREIRA, Thayane dos Santos. Siéllysson Francisco. In: Sandra Raquew dos Santos Azevêdo; Lívia Maria Dantas Pereira. (Org.). Perfis em Jornalismo Cultural. 1ed. João Pessoa: Idea, 2014, v., p. 71-74.) ISBN: 978-85-7539-875-3

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