Entrevista 08 - parte II
Uma entrevista animada e
longa, onde o entrevistado quase nunca acertava meu nome, imitava a si mesmo e
os outros, brincava com a câmara, falava em inglês, espanhol e me confessou
como aprendeu novas línguas: "assistindo filmes sobre a bíblia" Nesta
parte da entrevista de "Café com Siéllysson" Paraíba do Forró fala
hilária viagem de avião.
SIÉLLYSSON - Desde 1978 o Senhor trabalha tocando nas ruas?
PARAÍBA DO FORRÓ - Claro! Quando eu vim do Recife
para qui já tava espalhado que eu era “Paraíba do Forró”, aqui tem pernambucano
demais, né não? Aí espalhou que eu era Paraíba do Forró. Eu ia pra
praia tomar banho, me lavar, aí o povo me chamava “vamos tocar”. Às vezes eu
num tava nem com instrumentos eles, arranjavam instrumentos, latas pra eu bater
e cantar, aí pegou! Já que tô na panela vou cozinhar. [Ele tem
muitas expressões que compreendo o que ele quer dizer, embora sejam expressões
que só ele usa]
SIÉLLYSSON – Em 1997 você participou
do Clip “Som da rua” para TVE, em 1999 participou do documentário dirigido por
Vicente Amorim e David França “2000 Nordestes”, tempo depois foi convidado para
o quadro do Caldeirão do Huck “Quanto vale essa loucura”. Você se sente hoje
reconhecido pelo seu trabalho?
Foi o que falei anteriormente, em partes. Porque
quem assistiu Caldeirão do Huck, quem assistiu o documentário, esses dão valor.
Mas muitas pessoas levaram isso como uma palhaçada e uns partiram pra fazer
comigo o que faziam com minha mãe, foi necessário muito serem chamados atenção
aqui pela Prefeitura ou isso aquilo ou outro que já sabia o que tava
acontecendo, inclusive o ex-prefeito Severino Maroja chamou atenção de
mais de uma pessoa aqui em Santa Rita... Realmente, Aielso [mais outro nome
que ele confunde com o meu Siéllysson] Isso foi um dos grandes momentos da
minha vida. Eu não tomo isso como glória não, mas como grande momento. Pra
começo de história eu disse que em 2000 uma palavra [frase] que serviu
de matéria sobre mim... [não entendi de imediato a expressão, mas depois
compreendi que ele estava falando que a surpresa da vida contradisse suas
palavras]...eu disse que eu ia morrer e não ia conhecer no Rio de Janeiro
nunca. Quinze dias depois fui convidado pra ir pra lá. Pronto! O “Som da Rua
foi em 2000”[...] Quando esse documentário chegou lá aí veio a contratação, o
Ronaldo Nery chegou aqui com uma vam pra fazer isso que você fazendo [gravando]
com um equipamento, só que o dele era grande, mas tanto faz grande ou
pequeno “o que vale é a queda” [risos de ambos, novamente ele diz
expressões próprias e me pergunta:]
Estás gostando do humorismo? (risos)
SIÉLLYSSON - Estou ! [neste
instante ele explica a expressão]
Uma balinha tamanho de nada, pequena derruba um,
né não? (risos) E o canhão espatifa
[ele volta ao assunto]
[...] Eu estava consertando o meu GMC [carro que
ele criou com peças de bicicleta com as cores do Flamengo totalmente reciclado]
Aí parou um cara bem alto do tamanho de Noaldo. Você conhece, Noaldo? Quem é
que não fica com medo? Parece mais um gorila [gargalhadas dele e imita a
voz roca do Senhor que lhe procura] “É você que é Paraíba?” eu disse
“Misericórdia! O homem vai me matar somente com um sopro.” Porque disseram pra
ele do documentário. Porque o documentário da linha foi quando Noaldo veio, ele
fez dois documentários. [...] O primeiro ele chegou aqui e disse: posso fazer
uma entrevista com você? E eu sabia o que era uma entrevista? [...] Ele fez o
documentário e foi embora, ele [Noaldo] disse “Você vai sair na televisão” Eu
nunca tinha saído em televisão, só em Recife, mas foi coisa pouca, sem grande
importância. Ficou lá mesmo. Onde eu morava [em um bairro de Recife]
não tinha televisão nem eu vi [ele está falando de 1972]. Acontece que
ele foi “simbora” e eu fiquei. Quando foi 17 de outubro de 2000,
chegou Noaldo aqui de novo. Ele me disse: “Paraíba já viajou de avião?” Eu
disse: “É o quê, homem?” (gargalhadas dele) “Viajar de avião eu não
vou não!” “Você está contratado pra ir por Rio de Janeiro pra representar o 2000
Nordestes. Aquele documentário que eu fiz de você aqui está no Rio de
Janeiro e você terá que representar. Vai ser 8 estados. E você via
representando o daqui” [nordeste é composto por 9 estados][...] Quando ele
chegou aqui e disse que agente vai de avião, eu lhe disse “vou não, de avião eu
não vou não.” Ele teve que desmarcar tudinho. [Neste instante ele
fala sobre a viagem de avião que foi trocada para ônibus até o Rio de Janeiro]
Cheguemos atrasados e logo fomos pra Universidade da PUC e lá já tava
a multidão. Quando eu vi o pessoal quis voltar, ele me disse: “Não. Você vai
enfrentar!” [...] Ali cabe umas 2.000 mil pessoas, lá tinha uma banca de som
com um monte de negócio que mexe pra cá e mexe pra lá (risos) botou os outros
lá até que chegou minha vez. O que ele [Naldo] gravou aqui [documentário] já tava
passando lá no telão. “Agora é a vez do Paraíba do Forró” “ Me lasquei!” [brinca
comigo, rir muito falando porque ele não foi de avião e o pessoal pergunto. E
volta para o assunto]
- “Como você toca em sua terra?”
- “eu toco pelas praias”
- “Você toca com banda”
- “Não eu toco com esse surdo e a gaita” [Que
trata de me explicar como é feita]
Toquei 4 música e fui pro Hotel 5 estrelas. Pense
numa coisa boa, Aielso. [Fala do que comeu e rir muito, sempre trocando meu
nome]
[Ele explica sobre as duas gravações e sua
impressão é que fizeram uma revisão da matéria e resolveram chamar-lhe de novo]
Me apresentei em 9 lugar, na PUC, na Feira de São Cristovão [...] Todos os meus
passos estavam sendo gravados. Terminou no sábado, no domingo para voltar [...]
Quando ele me falou que “A gente sai daqui de 8 horas quando der 12:20 a gente
ta lá” Aí eu cismei! (risos) Oh, Ielso, é assim seu nome?
SIÉLLYSSON - Não, Siéllysson [Ele
brinca com meu nome...algo hilário!]
Oh, Siéllysson (risos) não dá pra desconfiar
desse ônibus? Que ônibus da peste pra correr é esse? Aí ele mostrou a passagem
e eu desmaiei na hora. É o medo, né, Irmão? É aquela fricção [pressão
emocional ele quis dizer]
Siéllysson - Você desmaiou mesmo?
Senti uma dormência no corpo [brincando]
Não sei como não deu um “colipso” [colapso] em mim. Porque em rico dá
colapso, AVS. [AVC] Ele me disse que pra vim pro Rio ele teve como
desmarca, mas pra voltar não tinha; tinha que ser de avião. Eu disse que tocava
nas ruas, arrumava dinheiro e vinha de ônibus, mas de avião eu não vinha. Só
que Noaldo é um cara viajado. Viu que ia me causar um trauma e viu que isso não
ia ser bom. Eu tava com 44 anos quando fui. [Ele me contou com
riquezas de detalhes como embriagaram ele combinado com seu filho Itamar para
que ele podesse entrar no avião e assim o fizeram. Percebendo somente quando
estava entrando no avião. A gravação está disponível para quem queira na
íntegra] Quando eu saí do “Bar do Gordo”, em Niterói [...] ele me botou
dentro de um amarelinho. Tu sabe o que é uma amarelinho?
SIÉLLYSSON - O Táxi de lá.
PARAÍBA DO FORÓ - Mas o bicho tá sabido. (risos)
Dentro do táxi rodou em base de umas meias hora (ele
imita a si mesmo bêbado) Quando a gente vai entrar no avião tem um
paredão. Mas eu tava consciente, tava zoado* mas tava escutando. Eu escutei
quando ele ligou pra o Aeroporto, só não sabia o que era aeroporto porque ele
não tinha me explicado, mas eu ouvi ele falando dessa maneira assim: “ Baixa
tudo aí do Saigon que tem um cara aqui da Paraíba que não pode ver claridade
não.” Eu tava com minha vista boa aí [Hoje ele sofre de Glaucoma e perdeu a
visão total de um olho e está quase cego do outro] Depois chegou Noaldo e
me disse que ia almoçar embaixo num hotel. Que hotel que nada, Ielso, era o
peste do túni. E eu sabia que era aquilo nunca. Eu ia descobrir como
que depois daquela entradinha era o avião que tava do outro lado. Quando Itamar
[filho mais novo dele] entrou, eu emburaquei** atrás, quando olhei que
vi a reta de cadeira, menino, eu quis voltar, ele [Nolado] me empurrou pra
dentro. (gargalhadas) a porta automática fechou, igual quando a gente tá
pegando passarinho [...] Me amarram por aqui... (risos) Oh, Ilso, o bicho é
bom, na pista ele parece um ônibus [....] Rapaz quando o bicho chegou lá que o
cara desengatou o troço, Menino, 40 minutos eu colado na cadeira tremendo. E
aquelas meninas [aeromoças] todas “Tenha calma homem, tenha calma...” Aquelas
aeromoças. Elas são moças mesmo?
SIÉLLYSSON - É o nome.
PARAÍBA DO FORRÓ - É só o nome mesmo, né? (risos
de ambos) Eu fiquei meio desconfiado. Elas começaram alisar minha cabeça, e eu
pesando “Alisa não que o negócio piora” (risos) Só sei que minha primeira
viagem de avião foi assim. Quinze dias depois chega o cartão aqui. “O senhor
está convidado a se apresentar no Caldeirão do Huck”
A entrevista continua na terceira
parte....Aguardem!
__________________________________&___________________________________* Zoado – expressão usada na Paraíba para definir embriagado, mas não ao ponto de ficar inconsciente.
** Emburaquei – expressão paraibana que significa entrar com rapidez; entrar sem pedir licença.
A imagem é de acervo do documentário "Som da rua"
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