Entrevista 07
A personalidade mais polêmica
do município é um professor sem papas na língua, de estatura pequena, mas que
se tornou grande por sua altivez e sinceridade, diz o que pensa e age com o
coração ao tratar de Santa Rita. Poeta, historiador, Mestre em Ciênicas das
Religiões, criador da ONG Engenho Cumbe, “Café com Siéllysson” entrevista Valdir Lima
SIÉLLYSSON – Que contribuição o Movimento
de Teatro Popular teve em sua vida?
VALDIR - Uma grande contribuição... [pausa]
...estou respondendo ouvindo Gal Costa no momento, isto eu já devo ao
teatro em minha vida. Lá aprendi a falar em público, a escrever textos,
encenar, dirigir, produzir, discutir temas de relevância social, etc., e olha
que eu tinha apenas 12 anos. Na verdade, aprendi não a tolerar, mas respeitar o
outro. Foi a minha principal escola na vida, sou feliz por ter tido Héliton
Santana como meu mestre. Aprendi também a ser político.
SIÉLLYSSON – Você é responsável pela
Primeira ONG de Santa Rita a trabalhar com cultura e educação. Conte-nos como
surgiu essa ideia de formar uma ONG?
VALDIR - Tudo começou em 2001, conversando com
algumas professoras da Escola Enéas Carvalho, sugeri fazermos um Festival
“Ressaca de quadrilhas juninas” para movimentar nossa escola, esse projeto
durou 10 anos e alavancou o nascimento da Encumbe. A ideia era de criar
uma ONG para promover os artistas locais. Depois entendemos que era necessário
lutar por políticas públicas inclusivas para cultura e o resultado disso foi
que pressionamos a criação do Conselho Municipal de Cultura, fizemos fóruns,
participamos ativamente das etapas: municipal, estadual e nacional da
conferência de cultura. Contribuímos enquanto conselho para criação do plano
municipal de cultura (2012-2022) e aguardamos apenas a aprovação do Plano
Municipal de Cultura Héliton Santana para Santa Rita entrar na
vanguarda do Sistema Municipal de Cultura. Esperamos que esse possa ser nosso
legado aos que virão.
SIÉLLYSSON – Quais foram os projetos mais
significantes da ONG Encumbe?
VALDIR - Nossos principais projetos foram o
Festival Ressaca de Quadrilhas Juninas, 10 anos; Projeto Cartões Postais
Históricos (com imagens antigas da cidade); Projeto Arte pela Vida em parceria
com a Secretaria de Educação (teatro nas escolas); Censo com os artistas;
produções de espetáculos teatrais; promoções de cursos, iniciação
cinematográfica e Sarau Encumbe, espaço cultural destinado á música, poesia e
boa conversa, em sua oitava edição.
SIÉLLYSSON – O que lhe impulsionou a
decidir pelo curso de História?
VALDIR - Comecei a dar aula aos 11 anos em minha
casa, aula de reforço. Minha avó materna era professora, minha vida estava
traçada. (risos) Eu seria professor de todo jeito, mas, a opção por história
veio da minha veia político-militante, devo essa influência ao Movimento de
Teatro Popular, ao Partido dos Trabalhadores, onde passei cerca
de 20 anos e aos bons professores de história que tive. Nunca me arrependi! me
apaixono a cada dia pela disciplina que me traduz.
SIÉLLYSSON – Você é uma das
personalidades mais polêmicas do município. Subiu em caminha, falou contra
poderosos, deu entrevistas em rádios a favor da cultura. A consequência de ser
verdadeiro e sem papas na língua foi ter sofrido ameaças nas redes sociais. O
que você tirou de lição dessa situação? Em algum momento teve medo?
VALDIR - O problema é que a junção de sol e sol é
fogo. Eu nunca fugi da raia, nunca fugi do que eu acredito; sou muito
intenso, radical até. A minha bandeira é a cidadania, mas a cultura é o
instrumento político que uso para protestar quando necessário. Nesta cidade sou
oposição a essa oligarquia tirana, falida, opressora. Quando falei encima do
trio recebi mensagens estranhas de verdade. Não tenho medo de me posicionar
quando aposto na causa, porém paguei um alto preço. Quando fui selecionado no mestrado
a “gestão” não me liberou para estudar, entrei na justiça, fui às rádios,
denunciei, foi difícil, mas venci, não me arrependo.
SIÉLLYSSON – Você é um político nato, mas
nunca se candidatou. Por quê?
VALDIR - Porque nem todo mundo precisa ter cargo eletivo,
creio que contribuo mais sem mandato; sou mais respeitado também, assim
ninguém, confunde meus interesses. Nunca sonhei ser político eletivo, mesmo
algumas pessoas terem oferecido patrocínio para isto. Quero não!
SIÉLLYSSON – Várias personalidades da
política santa-ritense já quiseram seu apoio e você negou. Por quê?
VALDIR - Porque tenho medo de desconstruir tudo
àquilo que acreditei minha vida inteira. É tão árduo ter postura, não posso dar
passos duvidosos, não é pensando nos outros, mas em mim mesmo, a quem devo
respeito.
SIÉLLYSSON – Sua especialização foi em
Direito Humanos. Por que as pessoas têm uma visão tão distorcida sobre os
Direitos Humanos?
VALDIR - As pessoas pensam os Direitos Humanos a
partir desses biscaiteiros da comunicação, pessoas sem qualificação
profissional, de caráter duvidoso. Estes distorcem os direitos humanos, chamam
de "direitos dos bandidos", o que não reflete a verdade. Direitos
Humanos são para todos, moradia, saúde, educação, cultura, segurança etc.
Então, quando falamos em segurança, isso quer dizer que cabe ao Estado prender,
julgar, condenar e recuperar quem está à margem da sociedade. Nós não vivemos
na barbárie, não nos cabe fazer justiça por conta própria e é aí que somos
confundidos. Quando tivermos menos desigualdade social é que viveremos num
estado de direitos.
SIÉLLYSSON – Você sempre diz que optou em
ficar em Santa Rita. Por quê? Explique a importância dessa cidade em sua vida.
VALDIR - Santa Rita é a minha paixão, minha
inspiração divina, minha musa, meu amor incondicional, nem sei explicar esta
coisa que parece que estava escrito. Minha família veio do interior, passou por
aqui onde nasci e foram para João Pessoa, menos eu. Essa cidade me consagrou
como pessoa, profissional, artista, nem sou digno de tanto. O mínimo que posso
fazer é expressar esse amor eterno, retribuir a minha cidade, meu torrão.
SIÉLLYSSON – Você teve fazes diversas em
sua vida espiritual e religiosa. Para você a religião é um fenômeno cultural ou
uma necessidade espiritual?
VALDIR - É tão difícil responder isto. Pois é,
tive o privilégio de transitar por religiões e falta de crença também,
mas acredito nas possibilidades, inclusive para mim.
SIÉLLYSSON – Que mensagem você deixaria
para os jovens que leem este blog.
Que continuem lendo Siel porque você é um ser
maravilhoso, espirituoso e está dando uma grande contribuição para cultura
dessa terra. Quanto a mim, digo que estudem, acreditem em ideais e amem muito;
amem pessoas, coisas, causas, porque a vida... a vida é muito grande para ser
pequena.
(Entrevista publicada em: quarta 07 dezembro 2011 21:26. Hoje Valdir Lima está secretário de Cultura do Município de Santa Rita)
1 comentários:
Parabéns ao entrevistado pela clareza e ao entrevistador pela iniciativa de expor esses talentos de várias áreas de Santa Rita.
Postar um comentário