Entrevista 21
Iniciou sua carreira de pianista na Igreja
Batista, dedicou-se a música clássica até se apaixonar pela música popular,
pelo Jazz. Tocou nos Estados Unidos, Nova Zelândia, hoje está no Brasil e sua
pátria é o amor à música, Dhiego Heráclito é mais um santarritense que faz a
diferença.
Já viajamos juntos para cidades interioranas da
Paraíba, já tivemos muitas crises de risos na adolescência, ele tocou no
lançamento do meu primeiro livro. Acompanhei sua carreia à distância, seu
nome foi dos primeiros que pensei quando tive a ideia da seção “Café com
Siéllysson”, porém desde sua vinda para o Brasil, nosso tempo foi de
desencontros, mas quase duas horas de entrevistas e conversas que não vão
entrar aqui nesta seção me fizeram admirar muito mais esse pequeno grande
homem.
SIÉLLYSSON
– Como foi trabalhar numa banda de jazz norte-americana?
DHIEGO - Foi um
trabalho que começou aqui no Brasil, não a Big Band que a gente tinha
lá, mas no Brasil a gente tinha um grupo reduzido de uma Big Band, bem
mais fácil e mais prático de ser trabalhado do que uma Big Band, que
requer muitos instrumentalistas, dá mais dor de cabeça por trabalhar com muitas
pessoas. Trabalhei com um grupo de Jazz no restaurante Fellini, mas
que infelizmente teve que acabar devido à viagem. Lá nos Estados Unidos eu dei
continuidade a esse trabalho com uma Big Band, um grupo de jazz com
mais ou menos 40 componentes. Foi uma novidade porque nunca tinha trabalhado
com um grupo tão grande. É prazeroso, mas complicado. Trabalhar com muitos
instrumentalistas e você tem que encontrar o seu espaço naquele grupo. Você tem
que descobrir qual é o seu papel na Big Band como pianista.
SIÉLLYSSON
- Havia brasileiros com você na Big Band?
Não nessa Big
Band. Lá existia um pianista e aí, graças a Deus eles gostaram do meu trabalho
e contrataram sem precisar tirar o outro pianista. Ficamos revisando nas
músicas.
SIÉLLYSSON
– Como surgiu essa oportunidade de você tocar nessa Big Band já que você foi para os Estados Unidos sem conhecer
ninguém?
DHIEGO - O pessoal
passando pelas salas de estudos na Universidade... lá tem sala de estudos de
piano, ouviram e disseram ao regente “olha, tem um menino brasileiro ali que toca
bem. Ele é brasileiro mas não só toca bossa não, ele improvisa também”. A ideia
da Big Band é a improvisação, dão o tema e depois tome improvisos.
SIÉLLYSSON
– Quanto tempo você passou nessa banda?
Eu entrei na banda
três meses depois que cheguei aos Estados Unidos e aí fiquei até voltar para o
Brasil, então, foi entorno de 9 meses.
SIÉLLYSSON
– Como surgiu a ideia de ir para Nova Zelândia e fazer uma carreira musical lá?
DHIEGO - Quando eu
comecei lá na Nova Zelândia meu papel era totalmente diferente, no início não
tive nenhuma função como músico, eu era músico em casa, para sociedade eu tinha
um trabalho numa empresa de transporte. Meu objetivo era exatamente este
conseguir estabilidade financeira para manter minha família para depois entrar
de cabeça na música. No decorrer dos três primeiros anos isso foi acontecendo
com mais frequência, a música estava se tornando mais significativa, do que o
trabalho em si. Foi uma experiência muito gratificante, conheci muitos
neozelandeses que tinham afinidades com músicas brasileiras e aí se encaixou,
um baixista gostavam muito de nossa música...
SIÉLLYSSON
- De qual estilo?
DHIEGO - Bossa
Nova, música latina em geral. Infelizmente devido ao terremoto tivemos que
voltar para o Brasil.
SIÉLLYSSON
– Como foi à readaptação no Brasil para você que já tinha feito parte de um
grupo de jazz, murou noutros países com músicas diferentes e voltar para o
Brasil? Hoje o que você toca?
DHIEGO - Voltar
para o Brasil me faz relembrar a Nova Zelândia quando cheguei lá pensei: “vou
conseguir um trabalho em qualquer área para, estudar e entrar no ramo da
música”. No Brasil, está sendo mais ou menos nesse sentido porque para o que
quero fazer o mercado é escasso. O grupo é muito seleto, o grupo que gosta do
estilo de música que quero fazer.
Quando cheguei ao
Brasil tive que iniciar no comércio do meu pai, num horário e noutro dando
aulas de inglês para eu ter minha estabilidade financeira para poder fazer o
meu trabalho de músico paralelo a essas atividades. Hoje já não estou mais no
comércio do meu pai...
SIÉLLYSSON
– Está vivendo da música?
DHIEGO - Isso. Mas
ainda dou aulas de inglês que é uma carga horária pequena semanal. Mas se eu
deixasse as aulas de inglês hoje eu conseguiria viver da música tranquilo. Sem
nenhum problema!
SIÉLLYSSON
– Hoje você está tocando num restaurante francês aqui em João Pessoa. Qual
estilo musical você toca: francesa ou jazz norte-americano?
DHIEGO - O público
do restaurante francês é um público que realmente me identifico, porque eles
gostam de jazz, são pessoas que viajam para fora do Brasil, conhecem outras
culturas, estão lá para escutar música francesa, jazz, bossa nova. Você está
tocando aí chega um pedido Frank Sinatra... É um trabalho muito gratificante.
No outro restaurante é um trabalho onde faço piano solo com um público mais
misto, todos os estilos de gostos... Foi bom para mim como profissional, toco
todos os lados da música, do bolero, baião, bossa, às vezes sai até uns bregas
estilizados (rir). Não esses bregas de plásticos; já que o povo gosta faço
adaptação para piano que não soei tão brega, mas algo bem estilizado. No
restaurante francês estou lá dois anos; agora toco com o violonista Rinaldo
Vitorini (já entrevista neste blog) A gente sempre está alternando os
dias. A vantagem para mim é que lá no restaurante é um piano acústico, meia
calda, o que tem modificado minha técnica, que é diferente estudar num piano
digital. É totalmente diferente. Hoje tenho um repertório de mais de 600
músicas.
SIÉLLYSSON
– Você também faz um trabalho como pianista numa igreja evangélica. Fale um
pouco sobre essa experiência.
DHIEGO - Foi na
igreja onde tudo aconteceu e até onde hoje tenho desempenhado esse papel como
um levita. Sou pianista do Coro da Igreja Batista Evangélica de Jaguaribe e não
é simplesmente um coro qualquer; não é um pessoal que se junta para cantar. É
feito um trabalho vocal com especialista que a igreja paga, eu sou remunerado
como músico. Nossos músicos são todos remunerados. Agora mesmo nesse dia 22
(setembro) estaremos gravando nosso DVD, não é comercial, mas para levarmos nos
lugares que nos apresentamos, festivais... As pessoas perguntam se temos algum
material. Então, queremos fazer esse trabalho para esse público que quer
escutar um coral de qualidade em casa.
SIÉLLYSSON
– Qual é a sua perspectiva profissional?
DHIEGO - De que
futuramente, não muito distante, eu saia do Brasil levando todas as minhas
experiências dos Estados Unidos, do Brasil e da Nova Zelândia. A minha volta
para o Brasil foi um erro, eu deveria ter focado nos Estados Unidos e ter
terminado meu curso de música erudita, eu estava visando muito à música popular
acabei abandonando o erudito. A experiência da Nova Zelândia também ajudou, por
ter que trabalhar em outras coisas. Agora, quando eu sair do Brasil terei que ter
minha independência financeira para me dedicar exclusivamente a música. É nesse
momento que vou colocar em prática tudo o que eu sempre sonhei, CD, minhas
ideias musicais que tanto almejo.
Hoje eu trabalho
com inglês, por ter morado em países línguas inglesas para mim não é nenhum
esforço está ensinando inglês, só que a questão da carga horária de ter que
está na escola. Dá aulas é bom porque em mantenho meu inglês e me dá a condição
financeira para que eu construir minha independência e daqui à um ou dois anos
volto para os Estados Unidos, colocando em prática meus sonhos.
SIÉLLYSSON
– Você participou recentemente do Festival de Areia-PB. Como tem sido essas
participações suas em festivais regionais? No que o público aqui é diferente do
público de fora?
DHIEGO - Quanto
mais sofisticado a música, mais complicado você toca, menos valorizado você é,
porque a cultura do povo ainda é inocente. Se levar Chico Buarque, as pessoas
não vão entender o que ele está dizendo, se você leva “eu quero Tchu, eu quero
tacha...”, essas porcarias, todo mundo gosta, ninguém quer se esforçar
intelectualmente entender o que aquele trabalho está sendo dito, para que
intelectualmente aquilo tenha um significado na vida dele. Eu quero simplificar
(ar de riso leve) Quanto mais você trabalha numa música, mais o povo
acha estranha. Olha, Siél, eu comparo a população de João Pessoa que deve ter
em torno de 700 mil, e lá fora tocamos em cidadezinhas de no máximo 20 mil
habitantes, e dá de mil por cento em cultura nessa cidade. Eu espero que essa
fase boa econômica do Brasil venha influenciar na cultura. Que as pessoas
tenham acesso à cultura de qualidade, que consumam coisas boas, que leiam bons
livros... falo de cultura em geral, escute uma boa música, vá ao teatro, para
que tudo isso faça parte da cultura das pessoas. Veja, a Orquestra Sinfônica da
Paraíba se apresenta de graça e o número de pessoas é sempre pequeno. Você ver
que o melhores festivais de música estão fora, O Brasil é um país emergente,
mas o que me parece é que sempre o valor econômico está acima do cultural, as
pessoas querem saber de posses, de coisas materiais e não de cultura, de
intelectualidade.
SIÉLLYSSON
- Certa vez o autor cubano Reinaldo Arenas (Antes do Anoitecer) disse que a pátria de um escritor era uma folha em
branco. E a pátria de um músico?
DHIEGO - Essa é
boa! Quando se fala de pátria se fala de amor ao seu país. Pátria de um músico
é a música, amor à música, amor este que você agregou a sua vida inteira à
música.
SIÉLLYSSON
– Você e Rinaldo Vitorinni são músicos santarritense mas que precisaram sair da
cidade de Santa Rita por uma questão de sobrevivência cultural. E como você ver
a cidade de Santa Rita hoje culturalmente falando?
DHIEGO - Eu já
acho João Pessoa morta culturalmente falando. Em Santa Rita não existem nenhum
tipo de incentivo a cultura, infelizmente. Quando eu penso em você Siéllysson,
pessoa que dentro de Santa Rita, que tem valorizado a cultura. Você se deslocou
para cá para fazer essa entrevista... a gente tinha falado sobre a preciosidade
que é o tempo, só você ter se descolorado de Santa Rita para essa entrevista e
sei que não termina aqui, você vai ter que fazer a digitação, edição, postar no
seu site, e tudo isso requer tempo em troca de quê? Da cultura, você não está
ganhando nada com isso, ninguém paga nada, nenhum site... A cidade de Santa
Rita precisa de pessoas como você...
SIÉLLYSSON
- Eu acho que a cidade precisa de memória, a gente já teve músicos famosos que
ninguém sabe nada deles, eu não quero que isso aconteça com você e com tantos
outros artistas, então por isso o que faço é uma forma de registro, mesmo que
isso não seja reconhecido agora, mas vai ficar para sempre essas entrevistas.
Esses artistas entrevistados, tem um local de origem: Santa Rita, embora, a
cidade não seja tão grande para comportar talento de todos vocês...
DHIEGO - Até em
outras cidades que tem festivais, como Areia, nós estivemos lá. A cidade
investe em artes em geral, mas, muitas vezes a questão política, o foco não é a
arte em si, por exemplos: várias atrações acontecendo no mesmo horário, achei
confuso. Por que não faz uma coisa de cada vez para que o público prestigie a
todos? O objetivo não é arte? A gente tem que analisar: “estão realmente
querendo divulgar a arte ou divulgação da política, da cidade... e a arte é só
um pretexto?
SIÉLLYSSON -
Você acha que um dia a realidade de nosso país muda, de focar interesses
culturais em vez de interesses políticos?
DHIEGO - Espero
que sim, quando se trata de política é complicado dá uma opinião concreta, mas
espero que sim; espero que estejam abertos a cultural local. “O que temos de
bom para oferecer?” que não pensem “Vamos trazer tal artista porque é famoso e
vai trazer turistas para cidade, mas o que temos para oferecer de bom que é
nosso? O que a arte dele pode acrescentar de bom?” Não podemos fazer as coisas
aleatoriamente, vamos colocar tal músico por que carrega multidões, assim vão
colocar só besteiras, porque é o que pega mesmo, como os forrós de plásticos...
Um festival de arte tem outro sentido, é valorizar a arte por ela mesma, não
porque o cara tem nome. Entendeu?
SIÉLLYSSON
- Que conselho você deixa pra quem quer ser um pianista?
DHIEGO - Dedicação, disciplina, treino...Imagem: do acervo de Siéllysson
Entrevista publicada em 15 setembro 2012 18:12 (sábado)
0 comentários:
Postar um comentário