segunda-feira, 9 de fevereiro de 2015

Café com Siéllysson entrevista o teatrólogo Jacinto Moreno




Entrevista 30


Ele nasceu em Tenente Ananias no Rio Grande do Norte, mas adotou Santa Rita em seu coração, paixão esta que gerou filmes em nosso município, montagens de grupos teatrais, ministrou cursos e levou o nome da cidade para Portugal por meio do seu premiado filme “A Aparição” e “Cova da Iria”. Jacinto Moreno é o entrevista de Café com Siéllysson.


Depois de meses guardada finalmente lanço a entrevista do teatrólogo e cineasta Jacinto Moreno, peço desculpa aos leitores do blog e ao artista que esperou pacientemente por mais uma de tantas entrevistas dadas a blogs, jornais, televisão... Meu sincero pedido de desculpa e meu eterno agradecimento a este homem que só engrandece nossa cidade.

SIÉLLYSSON - Quando despertou em você o interesse pelo teatro?
JACINTO - Desde criança eu ia pra o cinema, aí fui me despertando àquela curiosidade de ver as pessoas fazendo aquilo, então eu disso “um dia que quero fazer isso”. Foi lá em Souza onde tudo começou, começou da curiosidade de querer ser e fazer aquilo que os atores em cena faziam.
SIÉLLYSSON - Quantos anos você tinha na época?
JACINTO - Tinha meus 12 anos. Daí eu fui morar em Mossoró, no Rio Grande do Norte, mais ou menos em 1974 eu percebi que tinha um grupo de teatro por lá e ia ver. Vim morar em Patos, onde passei um ano, lá um primo meu fazia teatro, fiquei curioso e quando voltei pra Mossoró vi uma propaganda no SESC sobre “Plufts, o fantasminha” eu fui assistir o espetáculo, daí me apaixonei e não parei mais, participei em seguida como ator em vários espetáculos.
SIÉLLYSSON - Sua primeira participação no teatro foi por meio de uma peça criada por você ou foi de algum diretor?
JACINTO - Como ator eu fui trabalhar com um diretor Iremar Leite  que era diretor do SESC lá em Mossoró; trabalhei algum tempo com ele e por motivos de família eu tive que abandonar o teatro, meus pais não queriam, por isso, fui expulso do grupo, porque deixei três espetáculos inacabados. Fiquei na época muito chateado com meus pais, fiquei revoltado. Certo dia quando eu estudava na Escola Técnica de Mossoró me chamaram pra fazer uma peça, fiz um personagem do “O Pagador de Promessa” que era uma adaptação do texto de Dias Gomes. A partir daí foi quando eu comecei a montar meus espetáculos e pela primeira vez passei a desobedecer aos meus pais. Eu já era maior de idade de idade quando eu desobedeci aos meus pais, falei pra eles: “Olhem, eu vou fazer teatro, vocês me desculpem, mas eu não vou desistir não”. Foi aí que eu comecei a dirigir por necessidade em 1977 e um ano depois comecei a escrever espetáculos.
SIÉLLYSSON - O que é ser diretor por necessidade?
JACINTO - Eu senti necessidade de ser diretor porque eu não tinha um diretor pra dirigir os papéis que eu queria fazer. Como eu já tinha um pouquinho de experiência como ator, convoquei o pessoal e disse “Olha gente, eu vou dirigir este espetáculo.” E fiz a primeira direção, a segunda, e até hoje estou dirigindo. Graças a Deus (risos) porque adoro dirigir.
SIÉLLYSSON - Você já fez vários curtas e agora estreou seu primeiro longa. Quando o seu interesse passou do teatro pra o cinema?
JACINTO - Em 1984 eu vim morar em João Pessoa porque meu pai tinha adoecido, ele veio fazer um cirurgia. No finalzinho de 1984 a TV Globo esteve aqui em João Pessoa pra fazer a novela Vereda Tropical, eu tinha chegado há pouco tempo e, meu amigo Tarcísio Pereira que até hoje é meu amigo, me incentivou a fazer participação nas gravações, mas a TV só chamou quem tinha a carteirinha de ator de teatro, eu não tinha na época. Eu entrei por baixo da perna do cara lá e consegui entrar no ônibus e fui pra o Hotel Tambaú e lá me entrosei com o pessoal e participei de uma cena na novela. No teatro Lima Penante, no mesmo período eu estava com Fernando Merceeis começamos a montar o espetáculo que se chamava “O Arquiteto e o imperador da Síria” começamos ensaiar, mas sem diretor achamos melhor parar, daí eu tive conhecimento que Tarcísio estava montando um espetáculo “A Cabeça da Santa” e fiquei trabalhando com ele nesta peça e fiz outros espetáculos em seguida sob a direção de Tarcísio Pereira, como “Um dia serei Suzana”. Também trabalhei com Eliezer Rollin. Como eu já tinha alguma peça quando eu estava em Mossoró, aqui com a experiência eu montei meus textos “O Vaqueiro Nordestino” que era a história do meu avô, e não parei de escrever e montar meus textos.
FOTO  de  Tarcísio Pereira de 1985, disponível na internet.


SIÉLLYSSON - E o cinema? Quando você resolveu dirigir curtas?
JACINTO - Fui convidado pra fazer um filme “A Árvore de Marcação” (1999), veio uma equipe do Rio de Janeiro e foi pra cidade de Marcação e por meio de Fernando Merceeis foi feito o convite; eu trabalhei como ator e trabalhei na produção executiva do filme. Em 2000, Eu participei na época de três filmes de Carlos Darlin, depois fui convidado pra fazer O Meio do Mundo” de Marcos Vilar, fiz um filme de Joel Torquato “Transubstancial”, fui então, convidado pra fazer cinema na Paraíba. Daí fui pegando a técnica porque sempre fui curioso, enquanto o diretor estava ali preparando o equipamento eu pedia permissão pra eu me aprender, me aproximar mais deles porque eu já tinha pretensão de fazer o que eles estavam fazendo. Aproximei da equipe técnica, do diretor de fotografia e fui aprender como manusear e resolvi fazer os meus próprios filmes.
SIÉLLYSSON - Qual foi o primeiro deles?
JACINTO - O meu primeiro filme foi um documentário sobre o artista plástico Geraldo Correia aqui em Santa Rita. Entrei na Prefeitura de Santa Rita em 1989, desde então me apaixonei pela cidade, e sempre tive essa loucura de fazer alguma coisa em Santa Rita. O Documentário é “Geraldo por Geraldo” (2007) onde ele conta tudo da vida dele e suas exposições até mesmo no exterior, como ele gostava muito de Santa Rita terminou voltando. Em seguida eu fiz “Táxi” (2008) que é uma ficção, história de uma lenda urbana. Depois eu fiz “O Anjo e a Serpente” gravado boa parte em Santa Rita, com atores santa-ritenses, que conta a história de duas crianças que se apaixonaram e o pai perceber e manda o filho pra o seminário, gravamos na Capela de São Sebastião, em Tibiri Fábrica, gravamos também em Itabaiana.
Cartaz do filme "Táxi"

SIÉLLYSSON - Você trabalha muito com atores de Santa Rita, formou equipe de teatro aqui tanto de teatro quanto um grupo de atores para o filme “A Aparição”. Como surgiu essa paixão pela cidade?
JACINTO - Eu me apaixonei por Santa Rita desde que eu comecei a trabalhar aqui. Eu estava na Secretaria de Cultura, passei muito tempo trabalhando lá e hoje tô ainda, na época trabalhava com montagem de peças teatrais, ao mesmo tempo fazendo meus filmes, eu me senti na obrigação de trabalhar com meus alunos eram meus amigos também, e nada mais justo do que trazê-los pra trabalhar comigo no cinema, apesar de trazer atores profissionais de João Pessoa. Eu trabalho com profissionais, amadores e aqueles que querem contribuir com sua participação no cinema.
SIÉLLYSSON - E como surgiu a proposta de você trabalhar com a Série Televisa “Geração Saúde 2”?
JACINTO - A “Geração Saúde 2” saiu na internet  convocando pessoas para se inscreverem para um teste. Eu fiz primeiro na internet e fui convocado pra fazer o teste pessoalmente do papel do velho dono da barraca que tinha a preocupação de tirar os jovens das drogas, ele formava um time de futebol. Fui eu e Fernando Teixeira e passamos no teste, depois fiz outro teste e a diretora me escolheu pra o personagem. Fizemos a minissérie que são15 episódios, eu estou em 12.

Foto: com Fernando Teixeira de Jacinto disponível na internet
SIÉLLYSSON - “A Cova da Iria” é o curta do filme “A Aparição” que você fez recentemente, com este filme você participou de festivais no Brasil e foi para Portugal, como foi que se deu este convite para apresentar seu trabalho em Portugual no Farcume?
JACINTO - Eu tive uma sorte grande, não sei se foi pela temática também de um fato que se passou em Portugal. O filme “A Aparição” eu fiz uma versão da história original que se passou em Portugal na cidade de Fátima em 1917. Juntei atores de Santa Rita, de João Pessoa, filmei em Santa Rita em duas localidades, incluindo Várzea Nova; filmei também em João Pessoa. Foi meu primeiro longa metragem com 70 minutos, tive ajuda do Dr. Rosandro Aranha que fez participação no filme, juntamente com suas filhas. Aproveito aqui pra agradecê-lo, e a todos os amigos, atores que participaram.  Como já venho participando de Festivais por todo Brasil, eles aceitam curtas de no máximo 18 minutos, e no mesmo momento em que eu estava editando o longa “A Aparição” eu editei “Cova da Iria” para participar dos festivais. Nós ganhamos, graças a Deus, o Festival do SESC, aqui em João Pessoa, fomos participar do Festival de Boa Vista-PB FARCUMI em nível internacional e fomos premiados para exibir nosso filme em Portugal, (Festival que aconteceu em 27 a 29 de agosto de 2014). Já estamos com outra classificação no Festival Farinha, já em nível internacional.
SIÉLLYSSON - Você leva o nome da cidade de Santa Rita pra o Brasil todo, agora para Portugal, você recebeu em algum momento apoio financeiro da Prefeitura pra isso?
JACINTO - Em 2003 eu montei o espetáculo “Espanta Gato” aqui em Santa Rita, e graças a Deus o espetáculo foi muito bem visto na USP, eles gostaram muito, o prefeito na época Severino Maroja nos ajudou e passamos uma semana no festival. Já no dia 07 de setembro desfilamos com uma facha descrevendo sobre a aceitação do Espetáculo em São Paulo; lá divulgamos a cidade, por meio de material expositivo. Recebemos um troféu e desfilamos com ele, mas que hoje não tem mais nada disso na Prefeitura, perdemos tudo com a transformação do teatro no Banco (Governo de Marcus Odilon) infelizmente perdemos todo nosso material cênico que tínhamos lá.
Eu fui pra Portugal para o festival em Faro, passamos em Fátima, fui com o apoio do Prefeito Severino Alves Barbosa Filho (Netinho). Conheci ele em Várzea Nova há tempos atrás, sempre nos apoiou. Agora prefeito, nesse fase transitória, bastou o ofício chegar nas mãos dele que ele disse: “Libere o dinheiro, quero que Jacinto viaje pra Portugal representar nossa cidade lá”.


SIÉLLYSSON - Você falou comigo antes de começarmos a entrevista que você não faz política você faz arte...
JACINTO - Sim, faço arte e tenho que agradecer ao prefeito Netinho, que é político, que me ajudou a realizar este trabalho, que se não fosse ele, nós não teríamos como ir.
SIÉLLYSSON - Completando a frase (risos)... esta é sua missão. (Ele rir) sim.
SIÉLLYSSON - Que mensagem você deixa aqui para quem quer se enveredar por este caminho da arte, do teatro, do cinema?
JACINTO - Olha, é uma batalha árdua que eu venho enfrentando há muito tempo. Quem pretende começar que tenha força de vontade, coragem e enfrente o que vier. Tenha fé em Deus, pois Deus é o pilar que sustenta tudo.

Entrevista realizada em 2015.



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