Entrevista 30
Ele nasceu em Tenente Ananias no Rio Grande do Norte, mas
adotou Santa Rita em seu coração, paixão esta que gerou filmes em nosso município,
montagens de grupos teatrais, ministrou cursos e levou o nome da cidade para
Portugal por meio do seu premiado filme “A Aparição” e “Cova da Iria”. Jacinto Moreno
é o entrevista de Café com Siéllysson.
Depois de meses guardada finalmente lanço a entrevista do
teatrólogo e cineasta Jacinto Moreno, peço desculpa aos leitores do blog e ao
artista que esperou pacientemente por mais uma de tantas entrevistas dadas a blogs,
jornais, televisão... Meu sincero pedido de desculpa e meu eterno agradecimento
a este homem que só engrandece nossa cidade.
SIÉLLYSSON - Quando
despertou em você o interesse pelo teatro?
JACINTO - Desde criança eu ia pra o cinema, aí fui me
despertando àquela curiosidade de ver as pessoas fazendo aquilo, então eu disso
“um dia que quero fazer isso”. Foi lá em Souza onde tudo começou, começou da
curiosidade de querer ser e fazer aquilo que os atores em cena faziam.
SIÉLLYSSON - Quantos
anos você tinha na época?
JACINTO - Tinha meus 12 anos. Daí eu fui morar em Mossoró,
no Rio Grande do Norte, mais ou menos em 1974 eu percebi que tinha um grupo de
teatro por lá e ia ver. Vim morar em Patos, onde passei um ano, lá um primo meu
fazia teatro, fiquei curioso e quando voltei pra Mossoró vi uma propaganda no
SESC sobre “Plufts, o fantasminha” eu fui assistir o espetáculo, daí me
apaixonei e não parei mais, participei em seguida como ator em vários
espetáculos.
SIÉLLYSSON - Sua
primeira participação no teatro foi por meio de uma peça criada por você ou foi
de algum diretor?
JACINTO - Como ator eu fui trabalhar com um diretor Iremar Leite que era diretor do SESC lá em Mossoró; trabalhei algum tempo com ele e
por motivos de família eu tive que abandonar o teatro, meus pais não queriam,
por isso, fui expulso do grupo, porque deixei três espetáculos inacabados.
Fiquei na época muito chateado com meus pais, fiquei revoltado. Certo dia
quando eu estudava na Escola Técnica de Mossoró me chamaram pra fazer uma peça,
fiz um personagem do “O Pagador de Promessa” que era uma adaptação do texto de
Dias Gomes. A partir daí foi quando eu comecei a montar meus espetáculos e pela
primeira vez passei a desobedecer aos meus pais. Eu já era maior de idade de idade
quando eu desobedeci aos meus pais, falei pra eles: “Olhem, eu vou fazer
teatro, vocês me desculpem, mas eu não vou desistir não”. Foi aí que eu comecei
a dirigir por necessidade em 1977 e um ano depois comecei a escrever
espetáculos.
SIÉLLYSSON - O que é
ser diretor por necessidade?
JACINTO - Eu senti necessidade de ser diretor porque eu não
tinha um diretor pra dirigir os papéis que eu queria fazer. Como eu já tinha um
pouquinho de experiência como ator, convoquei o pessoal e disse “Olha gente, eu
vou dirigir este espetáculo.” E fiz a primeira direção, a segunda, e até hoje
estou dirigindo. Graças a Deus (risos)
porque adoro dirigir.
SIÉLLYSSON - Você já
fez vários curtas e agora estreou seu primeiro longa. Quando o seu interesse
passou do teatro pra o cinema?
JACINTO - Em 1984 eu vim morar em João Pessoa porque meu pai
tinha adoecido, ele veio fazer um cirurgia. No finalzinho de 1984 a TV Globo
esteve aqui em João Pessoa pra fazer a novela Vereda Tropical, eu tinha chegado
há pouco tempo e, meu amigo Tarcísio Pereira que até hoje é meu amigo, me incentivou
a fazer participação nas gravações, mas a TV só chamou quem tinha a carteirinha
de ator de teatro, eu não tinha na época. Eu entrei por baixo da perna do cara
lá e consegui entrar no ônibus e fui pra o Hotel Tambaú e lá me entrosei com o
pessoal e participei de uma cena na novela. No teatro Lima Penante, no mesmo
período eu estava com Fernando Merceeis começamos a montar o espetáculo que se
chamava “O Arquiteto e o imperador da Síria” começamos ensaiar, mas sem diretor
achamos melhor parar, daí eu tive conhecimento que Tarcísio estava montando um
espetáculo “A Cabeça da Santa” e fiquei trabalhando com ele nesta peça e fiz outros
espetáculos em seguida sob a direção de Tarcísio Pereira, como “Um dia serei
Suzana”. Também trabalhei com Eliezer Rollin. Como eu já tinha alguma peça
quando eu estava em Mossoró, aqui com a experiência eu montei meus textos “O
Vaqueiro Nordestino” que era a história do meu avô, e não parei de escrever e
montar meus textos.
FOTO de Tarcísio Pereira de 1985, disponível na internet. |
SIÉLLYSSON - E o
cinema? Quando você resolveu dirigir curtas?
JACINTO - Fui convidado pra fazer um filme “A Árvore de
Marcação” (1999), veio uma equipe do Rio de Janeiro e foi pra cidade de
Marcação e por meio de Fernando Merceeis foi feito o convite; eu trabalhei como
ator e trabalhei na produção executiva do filme. Em 2000, Eu participei na
época de três filmes de Carlos Darlin, depois fui convidado pra fazer O Meio do
Mundo” de Marcos Vilar, fiz um filme de Joel Torquato “Transubstancial”, fui então,
convidado pra fazer cinema na Paraíba. Daí fui pegando a técnica porque sempre
fui curioso, enquanto o diretor estava ali preparando o equipamento eu pedia
permissão pra eu me aprender, me aproximar mais deles porque eu já tinha pretensão
de fazer o que eles estavam fazendo. Aproximei da equipe técnica, do diretor de
fotografia e fui aprender como manusear e resolvi fazer os meus próprios
filmes.
SIÉLLYSSON - Qual foi
o primeiro deles?
JACINTO - O meu primeiro filme foi um documentário sobre o
artista plástico Geraldo Correia aqui em Santa Rita. Entrei na Prefeitura de
Santa Rita em 1989, desde então me apaixonei pela cidade, e sempre tive essa
loucura de fazer alguma coisa em Santa Rita. O Documentário é “Geraldo por
Geraldo” (2007) onde ele conta tudo da vida dele e suas exposições até mesmo no
exterior, como ele gostava muito de Santa Rita terminou voltando. Em seguida eu
fiz “Táxi” (2008) que é uma ficção, história de uma lenda urbana. Depois eu fiz
“O Anjo e a Serpente” gravado boa parte em Santa Rita, com atores
santa-ritenses, que conta a história de duas crianças que se apaixonaram e o
pai perceber e manda o filho pra o seminário, gravamos na Capela de São
Sebastião, em Tibiri Fábrica, gravamos também em Itabaiana.
Cartaz do filme "Táxi" |
SIÉLLYSSON - Você
trabalha muito com atores de Santa Rita, formou equipe de teatro aqui tanto de
teatro quanto um grupo de atores para o filme “A Aparição”. Como surgiu essa
paixão pela cidade?
JACINTO - Eu me apaixonei por Santa Rita desde que eu comecei
a trabalhar aqui. Eu estava na Secretaria de Cultura, passei muito tempo trabalhando
lá e hoje tô ainda, na época trabalhava com montagem de peças teatrais, ao
mesmo tempo fazendo meus filmes, eu me senti na obrigação de trabalhar com meus
alunos eram meus amigos também, e nada mais justo do que trazê-los pra
trabalhar comigo no cinema, apesar de trazer atores profissionais de João
Pessoa. Eu trabalho com profissionais, amadores e aqueles que querem contribuir
com sua participação no cinema.
SIÉLLYSSON - E como
surgiu a proposta de você trabalhar com a Série Televisa “Geração Saúde 2”?
JACINTO - A “Geração Saúde 2” saiu na internet convocando pessoas para se inscreverem para um
teste. Eu fiz primeiro na internet e fui convocado pra fazer o teste
pessoalmente do papel do velho dono da barraca que tinha a preocupação de tirar
os jovens das drogas, ele formava um time de futebol. Fui eu e Fernando
Teixeira e passamos no teste, depois fiz outro teste e a diretora me escolheu
pra o personagem. Fizemos a minissérie que são15 episódios, eu estou em 12.
Foto: com Fernando Teixeira de Jacinto disponível na internet |
SIÉLLYSSON - “A Cova
da Iria” é o curta do filme “A Aparição” que você fez recentemente, com este
filme você participou de festivais no Brasil e foi para Portugal, como foi que
se deu este convite para apresentar seu trabalho em Portugual no Farcume?
JACINTO - Eu tive uma sorte grande, não sei se foi pela
temática também de um fato que se passou em Portugal. O filme “A Aparição” eu
fiz uma versão da história original que se passou em Portugal na cidade de
Fátima em 1917. Juntei atores de Santa Rita, de João Pessoa, filmei em Santa
Rita em duas localidades, incluindo Várzea Nova; filmei também em João Pessoa.
Foi meu primeiro longa metragem com 70 minutos, tive ajuda do Dr. Rosandro Aranha
que fez participação no filme, juntamente com suas filhas. Aproveito aqui pra
agradecê-lo, e a todos os amigos, atores que participaram. Como já venho participando de Festivais por
todo Brasil, eles aceitam curtas de no máximo 18 minutos, e no mesmo momento em
que eu estava editando o longa “A Aparição” eu editei “Cova da Iria” para
participar dos festivais. Nós ganhamos, graças a Deus, o Festival do SESC, aqui
em João Pessoa, fomos participar do Festival de Boa Vista-PB FARCUMI em nível
internacional e fomos premiados para exibir nosso filme em Portugal, (Festival que aconteceu em 27 a 29 de agosto
de 2014). Já estamos com outra classificação no Festival Farinha, já em
nível internacional.
SIÉLLYSSON - Você
leva o nome da cidade de Santa Rita pra o Brasil todo, agora para Portugal, você
recebeu em algum momento apoio financeiro da Prefeitura pra isso?
JACINTO - Em 2003 eu montei o espetáculo “Espanta Gato” aqui
em Santa Rita, e graças a Deus o espetáculo foi muito bem visto na USP, eles
gostaram muito, o prefeito na época Severino Maroja nos ajudou e passamos uma
semana no festival. Já no dia 07 de setembro desfilamos com uma facha
descrevendo sobre a aceitação do Espetáculo em São Paulo; lá divulgamos a
cidade, por meio de material expositivo. Recebemos um troféu e desfilamos com
ele, mas que hoje não tem mais nada disso na Prefeitura, perdemos tudo com a
transformação do teatro no Banco (Governo
de Marcus Odilon) infelizmente perdemos todo nosso material cênico que tínhamos
lá.
Eu fui pra Portugal para o festival em Faro, passamos em
Fátima, fui com o apoio do Prefeito Severino Alves Barbosa Filho (Netinho). Conheci
ele em Várzea Nova há tempos atrás, sempre nos apoiou. Agora prefeito, nesse
fase transitória, bastou o ofício chegar nas mãos dele que ele disse: “Libere o
dinheiro, quero que Jacinto viaje pra Portugal representar nossa cidade lá”.
SIÉLLYSSON - Você
falou comigo antes de começarmos a entrevista que você não faz política você
faz arte...
JACINTO - Sim, faço arte e tenho que agradecer ao prefeito
Netinho, que é político, que me ajudou a realizar este trabalho, que se não
fosse ele, nós não teríamos como ir.
SIÉLLYSSON - Completando
a frase (risos)... esta é sua missão. (Ele rir) sim.
SIÉLLYSSON - Que
mensagem você deixa aqui para quem quer se enveredar por este caminho da arte,
do teatro, do cinema?
JACINTO - Olha, é uma batalha árdua que eu venho enfrentando
há muito tempo. Quem pretende começar que tenha força de vontade, coragem e
enfrente o que vier. Tenha fé em Deus, pois Deus é o pilar que sustenta tudo.
Entrevista realizada em 2015.